Eu sou louco!

Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças! (este blog está registado sob o nº 7675/2005 na IGAC - Inspecção Geral das Actividades Culturais)

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terça-feira, julho 19, 2005

Sonhos e realidade

Lembro-me de ter ouvido o meu professor de Filosofia do antigo sexto ano dos liceus, o Dr. Castanho Fortes, nas aulas de Psicologia dizer:
“Todas as noites, enquanto dormimos, nós sonhamos. Mas, passados ao estado de vigília, muito poucas vezes nos recordamos do que ocorreu nesse complexo processo de erupção do subconsciente e mesmo do inconsciente”.
Não sei se as teorias de então ainda são as de agora. Provavelmente não. Mas não é essa discussão científica que quero suscitar, embora quem se quiser pronunciar sobre ela o possa fazer. É até bom que o faça para aprendermos mais alguma coisa.

Vou, em vez disso, e para que este seja um texto levezinho, contar-vos um sonho que tive e que se confundiu com a realidade.
Penso que teria uns vinte e tal anos. Já tinha acabado o curso e a nota mais baixa que tivera fora um dez (só um, vejam como era um rapazinho aplicado e dotado) a Física Geral, depois de uma oral em que o Prof. Pires de Carvalho, que também já mora na outra banda, no seu estilo sibilino, me deu um baile. Mas passou-me!
Uma manhã, acordei lembrando-me perfeitamente do sonho que tivera. Coisa rara, aliás. Durante o sono, tinha recebido uma notificação da secretaria da Universidade a informar-me que não me podiam passar a certidão de curso pois ainda tinha de fazer uma cadeira em falta: a Física Geral. Não dei nenhuma importância ao assunto.
Mas a impressão fora tão forte que, durante todo o dia, a ideia de que, na realidade, tinha chumbado a essa disciplina e tinha de a repetir, anos depois de a julgar morta e enterrada, atormentou-me.
Quando regressei a casa, e sem mais delongas, fui procurar a certidão: e ela lá estava.
Que alívio!

Mas, desta mistura de sonho e realidade, tenho outro exemplo pessoal.
Hesitei em escrevê-lo aqui mas, como tenho uma lata do caraças, cá vai:
Uma noite sonhei que estava na rua, conversando com uma linda moçoila, já a noite tinha tombado.
Eis que surge do negrume um salteador, rosto escondido pela escuridão. Um candeeiro de iluminação pública era a única e ténue fonte de luz. E eu, fazendo alarde de uma capacidade que, na realidade, não possuo, quando o crápula se aproximou o suficiente, saltei na sua direcção e dei-lhe um murro. Mas o facínora reagiu e seguiu-se uma luta corpo a corpo em que a vantagem ia alternando em favor de um ou outro dos contendores. E a luta durou, e durou...
Eis que, a certa altura, senti uma enorme vontade de urinar e disse ao meu adversário.
- Alto! Vamos fazer uma trégua pois tenho que mijar.
O outro anuiu. Dirigi-me ao lampião e comecei a aliviar a forte pressão que sentia na bexiga. Como sabe tão bem um relaxe deste género!...
Acordei nesse momento.
Senti uma quente humidade nas calças do pijama.
Pois. Foi isso mesmo. Tinha-me mijado a sério.
Nunca um sonho húmido foi tão hilariante.

Casos destes já aconteceram com alguns de vós, certamente.
Mas alguém consegue contá-lo aqui?

50 Comments:

Blogger Ana Santos said...

Olá,
É a primeira vez que cá venho, cheguei cá através de um comentário seu num outro blog.
Em criança cheguei a ter desses sonhos húmidos e sabia tão bem, o pior era quando acordava toda molhada e fria.
Já também cheguei a ter sonhos de se confundir com a realidade, a sensação de ter alguém a entrar no quarto e sabia bem que o quarto estava trancado, acabava por acender o candeeiro para ter a erteza e claro não tinha ninguém no quarto, mas era um sonho aflitivo muito real.
Ana

2:18 da manhã  
Blogger heidy said...

Revenge!!!atão antónio... um adulto a ter sonhos humidos? isso é coisa de crianças e adolescentes. :) menino preguiçoso. :)
Malae, o bater na tia é porreiro. E como estavas a nanar, não te pode dizer nada. :) É uma bela desculpa.
Em relação aos sonhos. :) Eles apenas revelam o que está dentro do nosso inconsciente. É um juntar de experiências, que depois de trabalhadas, resultam nessa ficção. :)

9:11 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ainda bem que o sonho foi a mijar num poste.

Agora imagine que sonhava que estava a apagar um incêndio.

ehehehehe

10:16 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Amigo Antonio, permita-me este tratamento? Entrei, li, gostei, vou regressar, para o conhecer melhor. Se puder e gostar de poesia eu fico á espera de sua visita. Que tenha umas boas férias, se ainda não chegaram, boa semana. Creia-me com simpatia Zezinho

11:14 da manhã  
Blogger António said...

Para "rt":

Nesse caso o Grande Porto já estaria submerso...eh eh

11:34 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

sem duvida um acto de coragem este aqui. Relatar um acontecimento destes, com muito humor que já nos habituaste e uma naturalidade fora de serie (o piqueno tem classe!)que os actos menos pudicos são retratados com simpatia e uma cortesia (deve ser da barba)que todos podem ler.Sabes Antonio a ultima parte é engraçada, mas a primeira é fascinante, eu pessoalmente adoro filosofia e gostava de saber mais sobre a nossa mente que nos mente.amcosta

12:38 da tarde  
Blogger António said...

Para Ana Maria Costa:

Mais uma vez me deste o prazer da tua visita.
Volta sempre.
Jinhos

1:25 da tarde  
Blogger Xinha said...

Os meus sonhos vão sempre mais longe que isso... estranhos e perturbadores... esta noite por exemplo sonhei que tinha despregado um pedaço de pele (só o coirato lol) da barriga até às pernas e depois queria colá-lo e não conseguia... não servia...

Xinhos de bons sonhos

3:54 da tarde  
Blogger Unknown said...

Sim já sonhei, e tenho medo dos meus sonhos, porque os bons raramente acontecem mas os maus meu amigo, acontecem sim .
Um beijo

4:42 da tarde  
Blogger Xuinha Foguetão said...

Ehehehehehehhe!
Ainda não consegui parar de rir...
Mas por acaso nunca me aconteceu!
Normalmente tenho sonhos de altos voos! :)
Beijos,
Xuinha

5:34 da tarde  
Blogger maresia said...

feminilidade?!?! - anda aqui um gajo a pedi-las!

5:44 da tarde  
Blogger maresia said...

quantos desses sonhos queres que te conte? de todo o tipo de sonhos húmidos? daqueles onde no fim, não sei se me vim se me borrei... passa um dia lá pela onda e atira-me um desafio!!

5:47 da tarde  
Blogger BlueShell said...

Lol...Oh, YES!!!
Hoje estou um nadinha deprimida...mas enfim, isto não é nada!

Bom, então cá vai:tenho um sonho recorrente que me deixa em pânico! É assim - estou `a beira-mar e não há mais ninguém. Sou só eu, o mar e o imenso areal. Súbito ergue-se uma onda imensa, imensa...e quendo eu quero fugir tenho, a todo o comprimento da praia um enorme muro de tijolo e cimento. Muro alto...e a onda continua a vir, ouço o barulho dela a aproximar-se, estou de costas para o mar mas sei que a onda vem aí e as minhas mãos estão em ferida porque quero escalar o muro e não consigo. Depois....tudo se apaga: acordo em suor e com uma enorme vontade de chorar (choro mesmo durante um pedaço de tempo)! E já sei que esse dia vai ser um dia de aborrecimentos...é fatal - não falha!
Sonhei isso antes de o meu pai falecer...
è simplesmente horrível!

Mas uma vez sonhei que o meu chefe (pessoa vaidosa que veste de modo clássico e muito formal...andava de calças justas cor-de -rosa, sandália de salto alto e uma clusa roxa de mangas compridas, largas. De cigarro ao canto da boca dava ordens mas todos os funcionários o olhavam e faziam risinhos às escondidas...! Até tinha uma flor VERDE (é sportinguista) no cabelo...

Jinho, BShell

7:56 da tarde  
Blogger wind said...

Gargalhadas. Tu escreves de maneira hilariante.lololol. Grande contador de "estórias":) beijos

8:43 da tarde  
Blogger Leonor said...

ora bem...
não era freud que dizia que o sonho é o problema pendente reportado para o inconsciente para ser resolvido por este?

não ligues... foi ele que disse, nao fui eu.

mas quanto a mim, escreveste o texto com o intuito de tirares nabos da púcara, rsssssss
não, não vou contar aqui nada que me comprometa.rs

abraço da leonor

9:53 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Lol!!!!

=)

Olha que foi há bem pouco tempo que eu acordei molhadita!
Ai que tristesa!
E sabes que tava asonhar com um telefonema (que afinal era o despertador a tocar) e eu ca para mim a dizer:
- Só vou ali fazer xixi e atendo o telefone.

O ali era ali mesmo!
E pronto...


BEijos!!!

11:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Tu és um contador de histórias fabuloso mas muito mais do que isso,és um tipo inteligente porque si...!!!...gosto,dá-me imenso prazer estas converss...claro!
O Prof Castanho Fortes foi colega da minha mãe,também de Filosofia no liceu de Cascais desde 1974,eram uma dupla temida,garanto-te!
Nas "refregas" de café ou de almoços lá em casa,pertencíamos ao mesmo lado,a minha mãe dava conta do recado mas nunca nos venceu...
Gosto muito de filosofia,fiz o fim da faculdade na barriga de uma finalista,claro,mas sempre do outro lado...sabes que a minha mãe chama-se Leónida e eu brinco muito com ela,dizia-lhe( mais nova !)que já tinha visto quarteis mais mal governados!adiante!
Bem,isto não tem nada a ver,ou talvez..
Sonhaste mesmo isto?..hum...pois eu não,eu não te vou contar sonhos,lembro-me de todos mas não conto...são a cores,com legendas e de fácil interpretação,pois,verdade,a base é simples eu é que complico,muitas vezes,acho!...agora,mais fácilmente, que tenho a tranquilidade de ter tempo e alguns dissabores....bem,bem,que isto está-se a compor...tudo calado,eu claro,dei-te uma seca!
Um destes dias vou ganhar balanço e escolher uma história para te contar,prometido!
Beijinhos
Ana

12:14 da manhã  
Blogger saltapocinhas said...

Eu não faço xixi na cama desde bebé!!
Não tens vergonha?

12:28 da manhã  
Blogger Unknown said...

gosto de sonhar...e adoro andar perdido no sonho...sem saber o que sonhei...mas saber que o fiz...

12:38 da manhã  
Blogger Mitsou said...

Pois claro :)) A história da Física Geral era só o intróito. Nem imaginas as saudades que eu tinha (mau, parece a letra dos Xutos) dos teus textos deliciosos. Ainda me estou a rir. Quanto ao meu regresso, só para a semana. Agora vou deixando umas coisitas mas continuo sem tempo para retribuir as visitas. (No teu caso abri uma excepção, shhhhhhh!) Beijinho grande.

1:00 da manhã  
Blogger António said...

Para "Ana":
(que penso ser a misteriosa ou enigmática)
É giro teres conhecido o Castanho Fortes.
Era um bom professor.
Não sabia que tinha deixado o Alexandre Herculano e ido para Cascais.
Soube que faleceu há uns anitos...toca a todos!
...e fico à espera da tua história!
(podes escrever para o meu e-mail do clix)
Jinhos

8:49 da manhã  
Blogger Xuinha Foguetão said...

Olá outra vez! :)
É verdade sou uma águia benfiquista!
Mas os sonhos n têm a ver com isso... só sei que algumas vezes depois de me deitar vou dar umas voltinhas e a voar! :) Belos passeios e vou onde quero ir!
Beijos.

9:46 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Antônio, sou chegada a sonhos "extremamente" realistas, mas nunca ao ponto de fazer xixi na cama... hahahah!
Tenho amigas que falam, gritam e "encenam" as lutas de seus sonhos.
Uma delas aplicou um belo murro na cara de seu marido e quando este perguntou o que passava ela explicou que estava sonhando que estava sendo violentada por um negão de quase dois metros. O marido foi dormir na sala, não pelo murro e sim pelo ciúme do negão!!!
Ahahahaha...

10:59 da manhã  
Blogger saltapocinhas said...

Ei, eu falei em "fazer xixi na cama". Não falei em mais nada!!!

11:57 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

E quando nos acontece sonhar com coisas boas, sejam lá elas o que forem, e acordamos a meio e depressa nos apressamos a tentar adormecer para de alguma forma retomarmos o sonho? Já me aconteceu isso por varias vezes, umas bem sucedidas outras nem tanto...
Jinhos Antonio, gostei de ler o teu blog.

1:17 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Vou começar a assinar como a traidora vermelha! ;)
Eheheheheheh!
Até deixava aqui um Viva o Benfica, mas ia ser mesmo só para te arreliar! :)

3:10 da tarde  
Blogger Caiê said...

Eu queria contar... Mas como sou muito dada a sugestão psicológica, inibo-me fortemente depois das expressões "erupção do subconsciente" para mais seguida de "sonho húmido" ! AH AH AH

Na brinca, estou na brinca! :)

5:15 da tarde  
Blogger heidy said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

6:19 da tarde  
Blogger heidy said...

é o que dá fazer coments a correr.
recapitulando:

Verde António? tinhas de ter defeito. :)

lololololol
(assim tá bem melhor)

6:30 da tarde  
Blogger Viuva Negra said...

bem este blog esta de arrassar heheh!!! quanto a sonhos, só sei que sonho muito demias mesmo , as vezes quando acordo até confundo a realidade...mas como isto anda as vezes até dá jeito...

10:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Bem... isso não me acontece, desde que era bem criancinha... eheh
mas tenho outros sonhos e já os contei nos meus blogs...
Muito bem contada, como aliás são todas as tuas histórias.Gostei muito.
;)

10:44 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Vim deixar um bom dia vermelhinho!
Eheheheheh!
Viva o S. L. Benfica! :P
Toma!
Julgas que passava em branca aquela provocação de ontem?
Hi! Hi! Hi!
Beijos.

10:02 da manhã  
Blogger Xuinha Foguetão said...

Oh vizinho (sim pq só agora percebi que somos vizinhos),
nisso podes ficar descansado!
Mas sou bem capaz de mudar de cor só para te arreliar!
Ehehehehehe!

10:55 da manhã  
Blogger Xuinha Foguetão said...

Oh Toni! (ehehehehhehe)
O vermelho não ofusca a clarividência, só dá mais cor à vida!
Eu vivo nas Guardeiras, mas nasci no Porto (carago tb)!
Bem... eu n tenho filhos! Ehehehehe!
Mas pelo nome não conheço o teu filho.
Gueifães... diz-te alguma coisa?

Beijos.

11:24 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

uma vez, em miúda, sonhei que era picada por uma cobra. senti o veneno a subir-me pela perna. acordei aos berros, a chorar, e o veneno continuava a picar-me a perna. tinha a perna dormente...
beijinho

12:31 da tarde  
Blogger Xuinha Foguetão said...

PPssssttt!
Vou-te dizer um segredo: lá em casa (e a maior parte da família) somos todos vermelhos! :)
(nesta altura já te deves sentir sem ar...)
Quanto a Gueifães, costumo andar por lá! No pavilhão do Gueifães! É a minha segunda casa. ;)
Beijos e bom almoço.

12:59 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A Água é o princípio de todas as coisas, disse Tales de Mileto, corria o século VI antes de Cristo. Anaxímenes aceitou como elemento básico o Ar (também com o significado de Céu) e Heraclito escolheu o Fogo. Empédocles, um século mais tarde, disse: A matéria é formada por quatro elementos. E à triade Água, Ar e Fogo juntou a Terra. E mais disse: Os elementos unem-se pelo Amor e dissociam-se pelo Ódio.

Foi neste universo que nasceu Aristóteles (século IV a.C.). Aristóteles acreditou nos quatro elementos e com eles tudo compôs: mais Fogo mais leve, mais Terra mais pesado…

A linguagem e a lógica da Alquimia não têm, como vimos, natureza química - nem, porventura, filosófica - mas sim simbólica e iniciática. No entanto, o ajuste entre filosofias tradicionais gregas e a via alquímica, evidenciado pela absorção feita pela Alquimia dos elementos aristotélicos e suas qualidades permitiu ao multifacetado Gaston Bachelard, o homem sobre quem François Dagognet afirmou que o pensamento dinamizava a vida e não o inverso, dizer que os Elementos são as «hormonas da imaginação».

Gaston Bachelard foi um homem de dois séculos e de duas vidas. Nasceu em 1884, na província francesa, e morreu em 1962, na cosmopolita Paris. Licenciou-se em Matemática e estudou Química o que lhe permitiu ser professor do ensino secundário num colégio em Bar-sur-Aube, sua terra natal; por outro lado, por leitura espontânea, infatigável e reflexiva, compôs a sua própria Filosofia - o Materialismo Racional -, o que lhe angariou o convite para leccionar na Sorbonne. Deixou uma obra notável, não só no domínio da Epistemologia, mas também da Psicanálise. E, para mais, tinha alma de poeta.

[Levantava-se muito cedo e sentava-se nos degraus da Universidade à espera que a porta abrisse. Com um aspecto misto entre o de Pai Natal e o de pedinte, muitas vezes ouviu tinir junto de si moedas que os transeuntes lhe ofertavam…]

Bachelard viveu intensamente, e da forma mais independente e objectiva que conseguiu imprimir, com uma qualidade indiscutível, as suas duas vertentes: a razão científica do Materialismo Racional como os cientistas, de valores intelectuais, o «homem diurno», e os devaneios poéticos do mundo onírico como os artistas, de valores espirituais, o «homem nocturno».

É o empenhamento de Bachelard no mundo nocturno, o mundo dos sonhos e, principalmente, dos devaneios, que mais nos interessa no contexto deste trabalho.

O brilho do Fogo na lareira e o saltitar da Água nos ribeiros e riachos são imagens que nunca o abandonaram, mesmo quando o reconhecimento o levou a leccionar na universidade parisiense.

Os quatro elementos de Aristóteles, os quatro Elementos da Alquimia, são também os quatro elementos poéticos de Bachelard. A Alquimia das metamorfoses não originou, segundo o filósofo, antes impediu, a origem da ciência. Mas inaugurou e assegurou o reino do onírismo.

A dimensão que Bachelard confere aos Elementos não parece limitar a sua interpretação, antes prolongá-la; no entanto, não é esta, como veremos adiante, a opinião partilhada pelos alquimistas do «Imaginal», onde os Elementos são verdades transcendentais e não categorias psicológicas no mundo da imaginação fantasiosa, do «Imaginário».

Escreveu vários livros sobre este tema, cada um dos quais dedicado a um Elemento em particular. Começou pelo Fogo, em 1938. Chamou-lhe A Psicanálise do Fogo. Depois, em 1942, publicou A Água e os Sonhos, em 1943, O Ar e os Sonhos e, em 1948, surgem dois livros: A Terra e os Devaneios da Vontade e A Terra e os Devaneios do Repouso.


Ora, se a imagem não se torna psiquicamente activa senão através das metáforas que a decompõem, se ela não cria psiquismo realmente novo senão nas transformações mais ousadas, na região da metáfora de metáfora, compreender-se-á a enorme produção poética das imagens do fogo. Tentei demonstrar que o fogo é, entre os factores de imagens, o mais dialectizado. Só ele é sujeito e objecto. Quando se vai até ao fundo de um animismo encontramos sempre um calorismo. Aquilo que eu reconheço como vivo, como imediatamente vivo, é aquilo que reconheço como quente. O calor é a prova por excelência da riqueza e da permanência substanciais; só ele confere um sentido imediato à intensidade de ser. A par da intensidade do fogo íntimo, como são frouxas as outras intensidades inertes, estáticas, sem destino! Não são crescimentos reais. Não cumprem a sua promessa. Não se activam numa chama e numa luz que simbolizem a transcendência.

A alusão, implícita, à Grande Obra é, todavia, evidente. É no athanor que o alquimista realiza a sua obra de transmutação, purifica os metais e liberta o “ouro alquímico” do seu próprio espírito. Mas o athanor é um forno: fogo, fogo íntimo, quente, calor, calorismo…; é, pois, o Fogo, exterior e interior, constantemente activado pelo alquimista, que decompõe e despoja a “matéria” das suas imperfeições - a matéria e o espírito do adepto.

O hermetismo contido no processo alquímico tem aqui o seu paralelo na realidade da metáfora de metáfora, a transmutação nas transformações mais ousadas, a decomposição da matéria-prima (a obra ao negro) na decomposição da unidade da composição, seguida da purificação (a “espiritualização do corpo” ou obra ao branco) e da realização espiritual (a “corporização do espírito” ou obra ao rubro) nos crescimentos reais, numa chama e numa luz que simbolizam a transcendência; as alterações materiais em reunião com as modificações espirituais correspondem-se com o fogo dialectizado, objecto e também sujeito, os antagonismos iniciais no passado e futuro, iluminado e arrefecido.
A conjunção da realidade e do símbolo, sonho de totalidade que une os destinos do homem e da natureza, revela-se exemplarmente na lindíssima tela de Lima de Freitas, que tem por título O Amante de Fogo. Através do corpo vermelho e translúcido do homem desenha-se já o corpo luminoso da mulher loira, bela e, necessariamente, de olhos azuis.


O azul é a mais pura, profunda e imaterial de todas as cores. É o azul sonhado, fresco, puro, unitário ao ponto de poder “dissolver” todas as cores - mesmo o vermelho; é o indicador do caminho para o infinito.

O Ar é azul, no céu liso e desperto. E também a Água é azul, como espelho do céu, correndo nos rios e nos riachos.

Em A Água e os Sonhos, na conclusão, Gaston Bachelard dá a palavra à água:

Gostaríamos de reunir - diz ele - todas as lições de lirismo que o rio nos dá. Essas lições, no fundo, têm uma grande unidade. São realmente as lições de um elemento fundamental.

Para mostrar bem a unidade vocal da poesia da água, vamos desenvolver imediatamente um paradoxo extremo: a água é a senhora da linguagem fluida, da linguagem sem brusquidão, da linguagem contínua, continuada, da linguagem que abranda o ritmo, que proporciona uma matéria uniforme a ritmos diferentes. Portanto, não hesitaremos em dar sentido pleno à expressão que fala da qualidade de uma poesia fluida e animada, de uma poesia que se escoa da fonte.

A Água é um símbolo universal de Vida, de fecundidade e de fertilidade, a senhora, como lhe chamou Bachelard. Esta é a Água entendida no plano corporal. A Água, todavia, inclui também a simbologia no plano espiritual.

Quem beber da água que eu lhe der, jamais sentirá sede - disse Jesus no seu diálogo com a Samaritana.

A Água, nesta vertente espiritual, representa uma matéria perfeita, simples, totalmente transparente; é, pois, sagrada, com virtudes purificadoras. Um exemplo é a água do baptismo, conferida uma só vez na vida, o que é suficiente para lavar o pecado original. Transforma o homem num homem novo, pelo seu poder de regenerescência.

Quem “mergulha” na Água ressuscita. Este “banho” é um banho iniciático, na Fonte da Imortalidade (da alma).

Em contrapartida ao símbolo da Água pura e criadora, Fonte de Vida, encontra-se com frequência uma Água amarga, devastadora, produtora de maldições, as águas tenebrosas dos mares profundos e das vagas gigantescas de A Odisseia de Homero e de Os Lusíadas de Camões.

Bachelard, porém, foi muito mais longe e dedicou-se ao estudo psicológico de subtis variações das águas: as águas claras, primaveris, correntes, amorosas, profundas, dormentes, mortas, compostas, suaves, violentas; a água como mestre da linguagem… Múltiplas são as facetas desta palavra tão rica de significações, deste símbolo cintilante.

Existem várias correntes que tentam explicar o sonho. Provavelmente todas terão um pouco de razão. Porém, continua o sonho a ser uma incógnita.esta abordagem do domínio do esotérico tem mais seguidores do que se possa pensar.
As Ordens Iniciáticas e mesmo a Maçonaria fazem este tipo de abordagem.
Abraços

2:03 da tarde  
Blogger Estrela do mar said...

...ahahahah...António adorei a leitura...a sério...contas as coisas de uma forma muito gira...em criança quando a minha mãe colocava a "borracha" de água quente na cama, no Inverno claro...lembro-me que uma vez, acordei de manhã a pensar que tinha feito xixi nacama...rs...mas afinal...a "borracha" tinha rebentado...ainda bem que a água já estava fria...porque caso contrário tinha ficado com marcas...

Tem um bfs.

Bjos.

2:23 da tarde  
Blogger Xuinha Foguetão said...

Acertaste! Logo à 1ª: voleibol! ;)
E o equipamento é preto e branco!

2:39 da tarde  
Blogger Xuinha Foguetão said...

Já estás a respirar melhor?
Ehehehehehe!

2:39 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá António!
Alguma vez te ocorreu deixar lápis e papel na mesinha para escreveres umas histórias enquanto sonhas?Ia ser ...

3:46 da tarde  
Blogger Xuinha Foguetão said...

Ena!
Agora quem precisa de oxigénio sou eu!!! Ganda post!
Eu volto para ler mais daqui a bocado. Vou para uma reunião!
O clube é o Grupo Desportivo e Cultural de Gueifães. Deixo-te o link para espreitares:

http://www.gueifaes-voleibol.net/

Beijocas,

Xuinha

3:50 da tarde  
Blogger António said...

Para "azul":

Nunca pensei nisso.
Mas vou adoptar essa ideia...eh eh

Jinhos

5:11 da tarde  
Blogger heidy said...

Muito bem... tás um sucesso toni. :p E com tanta gente bermelha pelo teu cantinho... qualquer dia mandas benzer cá o sitio.

Ai como é que começa ... Ah sim... SLB SLB SLBBBB Gloriosooooo SLBB glorioso slb...
também tenho aqui no reportório o Ser benfiquistaaaaaaaaaaaaaa é ter na alma...
ou...
e...
ou então aquela...
ah pois toni... vermelha ferrenha, que tirou foto com o pantera mal tinha nascido, e das que chegaram a ir a treinos e tudo. E tens sorte em estar boazinha hoje, porque senão... levavas com os canticos todos!!!!
Uma boa semana rapaz.:p E mete lá o post que estavas a escrever. Raios do moço!!!

12:29 da tarde  
Blogger Zica Cabral said...

chorei a rir................
A mim nunca me aconteceu em adulta mas em criança sim......e lembro a sensaçãode alivio "no acto" mas depois a sensação de desconforto e a vergonha!!!!!!!!!!
beijinhos
Zica

9:18 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Oi, estava na net a pesquizar sobre sonambulismo e encontrei o teu texto.
Tudo pq esta noite aconteceu um episódio assim com o meu marido. O que me despertou a atenção no teu comentário foi a questão da agressividade...
é q a dada altura parecia que ele me ia atacar, embora permanecesse com a mesma expressão facial...
Fiquei aterrorizada!!!!!
dreamer

11:11 da manhã  
Blogger António said...

Para "dreamer":
O meu texto não fala em sonambulismo mas tão só em sonhos.
Não sei o que se passou exactamente contigo e como teu marido, mas não me parece que tenha sido nada de muito importante.

Beijos

4:18 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Já me ocorreu um caso parecido,
em que eu estava sonhando, no sonho estava com muita vontade de ir ao banheiro, muito apertada, Chegamos ao banheiro a fila era enorme, então finalmente, quando minha vez chegou, eu acordei urinando toda molhada...Ha, aconteceram isso duas vezes.

2:01 da manhã  
Blogger António said...

Se calhar, o mais chato é que com a idade essas coisas começarão a contecer mais vezes.
Ou melhor!
Não será bem isso mas a incontinência urinária...mas é melhor não pensar nisso!
ah ah ah

Beijo

8:56 da manhã  
Blogger António said...

...a acontecer...

8:56 da manhã  

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