Eu sou louco!

Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças! (este blog está registado sob o nº 7675/2005 na IGAC - Inspecção Geral das Actividades Culturais)

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domingo, fevereiro 19, 2006

O viúvo - parte XVI

Dia vinte e um de Setembro, quarta-feira.
José Novais e Maria Cristina foram ao Instituto de Genética fazer os testes de ADN para saberem ao certo se eram ou não pai e filha. Estavam nervosos. Falaram pouco.
Quando vieram embora, menos de meia hora depois, já sabiam em que dia se saberia a verdade: no dia vinte e um de Outubro, uma sexta-feira.
No regresso, o silêncio foi ainda maior. Zé ligou o auto-rádio para dar um tom menos escuro à viagem. Mesmo sendo dia de sol, dentro do carro o ambiente era sombrio.
Chegados à Maia, Zé deixou a vizinha à porta da agência. Ela deu-lhe um beijo e agradeceu. Maria Helena, involuntariamente, presencia tudo e pensou:
- Mas que confiança! Esta mulher nunca mais ganha juízo. Que se passará?
O Zé arrancou e foi para casa. Só queria ver se estava tudo bem. Depois seguiria para o lar a fim de ver a sogra que continuava muito limitada e a definhar lentamente. A morte da filha fora um sopapo muito grande. Sem mais filhos, nem netos, nem irmãos, sentia como nunca que era o último elo de uma cadeia que brevemente chegaria ao fim.
Entretanto o José abriu a porta de casa.
Ouviu o barulho de um aspirador no quarto e dirigiu-se para lá.
- Bom dia, Rosa! – saudou.
- Bom dia, senhor Novais! Bons olhos o vejam! Hoje madrugou! – disse a mulher com um tom jovial depois de desligar a máquina.
- É verdade! Tive de tratar dum assunto. Olhe! Há compras a fazer? Se houver dê-me a lista que eu daqui a pouco vou ao lar ver a minha sogra.
- Há, sim senhor! Eu vou buscá-la – e dirigiu-se para a cozinha.
O Zé seguiu-a e não pode deixar de apreciar as pernas bem torneadas e os dois esses, bem desenhados, dos contornos do tronco da empregada.
- Aqui está! É pouca coisa – disse ela.
O patrão deu uma olhadela e confirmou:
- Ainda compro isto antes de ir para Santo Tirso. Até amanhã, Rosa! Desculpe estar pouco falador mas não tenho grande disposição para conversas.
- Até amanhã, senhor Novais! – despediu-se a mulher.
E pensou:
- Humm...parece-me que o romance está a acabar. Foi rápido. Tenho de consolar o desgraçado – e riu-se sozinha.

Na manhã do dia seguinte, quando a Rosa chegou já o patrão estava a preparar o pequeno-almoço.
- Bom dia, senhor Novais!
- Bom dia, Rosa! – respondeu ele.
Sentiu um agradável cheiro a perfume, o que não era habitual, por isso comentou:
- Mas que bem cheira a Rosa, hoje! Assim é que parece mesmo uma flor.
E olhou para a mulher.
A Rosa estava particularmente apetitosa, com uma saia larga e curta e uma blusa branca, florida, com um decote bem aberto.
- Essa blusa era da minha mulher, não era? – perguntou.
- Era, sim! É muito bonita. Sempre gostei muito dela, talvez porque ficava muito bem à senhora – respondeu a empregada.
- Pois também lhe fica muito bem. E o decote tem um bom corte – não resistiu o Zé a comentar.
- Muito obrigado!
- Sabe que quando olho para si me lembro da minha mulher? – disse o viúvo.
- Nós éramos muito parecidas fisicamente – confirmou a empregada.
- Sim! Sem dúvida! Mas a Rosa é mais morena e tem o cabelo castanho e ondulado. A Guida era mais branca e aloirada. E os olhos: os dela azuis e os seus....deixe ver! – insinuou-se o homem.
Rosa voltou-se para ele
.
O Novais aproximou-se dela, olhou-a nos olhos, segurou-lhe o queixo para orientar o rosto de modo a receber luz directa e disse:
- Castanhos. Mas castanho escuro. Nunca tinha observado bem, por isso não sabia se eram mesmo pretos ou castanhos. E são bonitos. Aliás, você é uma mulher bonita – galanteou o homem.
A mulher corou ligeiramente, sorriu e disse:
- Muito obrigado!
- Não agradeça. As verdades não se agradecem – atirou o Zé.
A mulher estava derretida com os elogios do patrão, mas retorquiu:
- Eu agradeço sempre as coisas bonitas que me dizem.
- Porque é bem educada! – foi a vez do Novais.
Mas mudou de assunto:
- É verdade! O António tem aparecido?
- Não! Felizmente, parece que arranjou uma mulher da laia dele – informou a Rosa.
- E já falou com o Dr. Brandão? – inquiriu o homem.
- Vou falar com o advogado na segunda-feira, às sete da tarde – disse a mulher.
- Óptimo! Veja se se livra desse homem que tinha o descaramento de ser violento para si. Devia era ser preso! – afirmou, peremptório, o Zé.
- Não gosto de falar nele, senhor Novais – como que pediu a mulher.
- Não se fala mais nele. Tem razão, Rosa. Desculpe! – corrigiu-se o quinquagenário.
- O senhor Novais desculpe, mas hoje parece o homem que conheci nas semanas antes de vir para cá a dona Cristina. Gosto mais de o ver assim: bem disposto e sorridente – arriscou forte a empregada.
- Pois! Mas agora sou eu quem não quer falar no assunto. Mas posso dizer-lhe que não estamos zangados. Talvez um dia lhe fale sobre isso. Por enquanto não – esquivou-se o homem.
E continuou:
- Olhe! Hoje há lista?
- Não, hoje não! – respondeu ela.
- Então vou deixá-la a fazer o seu trabalho que eu vou fazer o meu.
E foi acabar de se arranjar antes de sair.
Ela ficou a pensar:
- Acho que não vai faltar muito para ele se atirar a mim. Vou dar uma ajudinha.
E sorriu, feliz.
Por sua vez, o Zé foi para o seu Peugeot a cogitar:
- O João é que tinha razão! Para mim, nesta fase da vida, esta pode ser a mulher ideal. Se a tenho já quasi em casa, para quê andar a procurar outras por fora? Mas tenho de saber primeiro qual o resultado dos testes e depois falar com a Cristina.

Os dias foram passando muito iguais.
Por vezes, o José Novais cruzava-se com a vizinha. Cumprimentavam-se com um beijo, falavam de trivialidades e cada um seguia o seu caminho. O viúvo evitava ir à agência. Aliás, neste momento, não queria saber de viagens. Isso ficaria para depois.
Uma manhã, mais precisamente na manhã do dia onze de Outubro, uma terça-feira, depois de ter sentido uma indisposição gástrica durante a noite que lhe roubou cerca de duas horas de sono, o Zé não acordou ao som da música pois tinha desligado o despertador para poder dormir mais um pouco.
Quando a Rosa entrou, à hora habitual, não ouviu nenhum ruído. Espreitou e não viu luz vinda do quarto do dono da casa. Achou estranho, mas pensou:
- Deve estar a dormir.
Mas como o silêncio continuasse meia hora depois, ocorreu-lhe que o Novais poderia estar doente, ter tido um ataque, estar morto.
Esta ideia deixou-a preocupada, por isso resolveu ir espreitar e averiguar o que se passava.
A porta do quarto estava meia aberta, meia fechada. Era assim que o José dormia desde que casara, pois a Guida queria ouvir os ruídos que vinham do resto da casa. Tinha medo dos “ladrões”, desde pequena.
A empregada caminhou pelo curto corredor que tinha um quarto do lado esquerdo, que o Zé convertera em escritório e onde dormira durante as últimas semanas de vida da companheira da sua vida e, do outro, uma casa de banho. Ao fundo ficava a porta do quarto do proprietário. Dentro deste havia uma outra que dava para o compartimento da higiene pessoal.
Quando a empregada chegou junto da zona privada do patrão verificou, com a ténue luz que entrava por uma só frincha da persiana, que havia alguém na cama.

Tentou escutar a respiração mas não ouviu nada.
Aproximou-se mais da cama. Devagarinho.
Continuou sem ouvir nada.

29 Comments:

Blogger Loucura said...

ai ai ai querem la ver que lhe deu uma coisinha!
Beijinhos boa semana

3:46 da tarde  
Blogger Leonor said...

não me digas que ele ainda não tinha visto qual era a cor dos olhos da empregada... é que olhos castanhos deixam muitas dúvidas, realmente...

além do mais, ela é muito convencida.

obrigado pelos teus parabéns ao meu blog.

abraço da leonoreta

4:36 da tarde  
Blogger GNM said...

Bem... Este teu romance já está muito adiantado para eu o seguir!

Quando pões isso em papel? : )


Fica bem e passa um excelente Domingo!

6:03 da tarde  
Blogger wind said...

O zé com isto tudo teve um ataque de coração.lololol. Aiaiaiai a D. Rosa a fazer-se, será que ela quer também a estabilidade financeira do patrão? E como será com a Cristina? Não nos deixes neste mistério:) beijos

6:44 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

António, será que o Zé vai ser atacado por uma "crise" de "sonambolismo oportunista"? Que feliz ficava a Maria Helena!!! rss

Beijinhos
Ana Joana

7:20 da tarde  
Blogger Su said...

ai ai mas o que aconteceu ao zé... é desta que a mim me dá uma coisinha má....isto não pode ser , mais suspense e passo a tomar um xanax antes de ler-te
gostei de ler-te, imaginação fertil:)))))))
mil jocas maradas

8:27 da tarde  
Blogger Leonor C.. said...

A Rosa é uma convencida e ele é muito distraído! Realmente, olhos castanhos são muito difíceis de ver... Um pretexto para lhe segurar no queixo, claro. A cabeça desse homem mais parece um moínho de vento! Ou então foi a morte da mulher que o fez variar! Sempre quero ver no que isto vai dar...

Bjs.

8:58 da tarde  
Blogger António said...

Para "ana joana":
Obrigado pela visita.
"Sonambulismo oportunista"...ah ah ah
Gostei das expressão.

Beijinhos

9:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

António,

Cada dia que passa gosto mais desta história!

Pois é, e temos a Rosa, tão encostadinha à face do Zé Luís tentando ouvir a respiração, sem querer ao virar de posição, este assusta-se e beija-a!!!!
Uhhh!
Não sei se é assim?
E se a indisposição gástrica, foi devido a ter ingerido uma porção de veneno, no copo que estava no quarto? E ele está morto? Aí tínhamos a PJ, a averiguar a Cris e a Rosa!!! D. Laura a assassina??? Não! Isto não é um policial!
Mesmo sabendo que a Cris não é filha dele, será que vão continuar?
Com o susto, nem perto a queria ver!

Como gostava de ver a última folha!!!
Ou os últimos dois parágrafos!
Desta vez, escuso de ir ao Fantas!
Cada folha que se vira o suspense é maior!

Magnifico! Soberbo!

Bjs,

GR

10:13 da tarde  
Blogger António said...

Para "GR":
Obrigado pela visita.
Estou a ver que estás muito criativa...ah ah
Pois no sábado ou no domingo devo pôr cá fora o último episódio.
Por mim, já não é sem tempo...ufff!

Beijinhos

10:57 da tarde  
Blogger lena said...

hoje deu para vir mais cedinho meu amigo, António

interessante este capitulo, continuas a escrever maravilhosamente e descreves cada momento tão bem que me fascina ler-te
e lá estou eu a entrar na vida dos teu personagens
não estou a achar graça nenhuma à Rosa, muito metediça, ainda escorrega e cai propositadamente para cima do Zé Luis,
António, acho que devias dizer ao Zé para falar comigo e eu contava-lhe o “arranjinho” que a Rosa está a preparar

Não me mates o Zé, ainda me quero cruzar com ele um dia

logo agora que só faltam 10 dias para se saber o resultado o Zé Luis passa mal a noite,

não me faças ir a outro funeral e muito menos arranjar um caso ente o Zé e a Rosa.

Olha que vou as páginas amarelas e informo o Zé que a Rosa se anda a fazer a ele

Eu sei que a Cris é muito nova, mas o Zé merece alguém assim que ainda lhe dê vida e vontade de viver com alegria

Bem resta-me esperar, pelo final que certamente não será o que quero, pois está tudo nas tuas mãos e já está ditado o veredicto final

A mim resta-me dar-te os parabéns pela forma magnífica como escreves e como me conseguiste prender tão bem a cada episódio,
não é uma despedida, vou ficar para ler o final
mas faço como as criancinhas tapo os olhos com os dedos e só leio o que quero

beijos muitos para ti, meu querido amigo, adoro sempre os momentos tão belos que aqui passo

lena

11:57 da tarde  
Blogger Luís Monteiro da Cunha said...

Mistérioooooooo!!!
E o caso é sério!!!!!!

Pois... e a gente que fique com a água na boca...

Continuo por cá a acompanhar sempre que posso...

Está muito bem narrado, gosto.

Boa semana, caro amigo maiato

12:05 da manhã  
Blogger amigona avó e a neta princesa said...

então e agora? Para quando o final?

Tem pena de nós!!!!

9:05 da manhã  
Blogger Maria Carvalho said...

Ó António, não o vais matar pois não??!! Gostei deste episódio. Beijinhos para ti.

1:06 da tarde  
Blogger SFeneacoach said...

Raramente gosto de finais felizes - tipo Hollywood, mas matar o Zé? Não faça isso, amigo António... ;)

1:23 da tarde  
Blogger lena said...

António na de confusões, o que me leva a querer conhecer o Zé Luís é para atempadamente lhe dizer que a Rosa é uma oportunista

depois um café com ele também sabia bem, eh eh eh

aí tens que nos acompanhar porque o Zé adora olhar para as pernas e não confio muito nele

beijinhos meu amigo

lena

2:54 da tarde  
Blogger azul said...

Fico por cá a ver no que isto dá...
Beijos

5:09 da tarde  
Blogger Caiê said...

Estive de viagem e agora que voltei li, de enfiada, os últimos capítulos da saga!
Ai, estás a esticar isto... sem perder o interesse.
Acho que devias candiadar-te a escrever argumentos da novelas, António, porque esta novelazita não fica mesmo nada a dever a outras que passam nas tvs. Fazias uns bons trocos e fãs já tens tu muitas! :)
Beijinhos. Guardo o meu palpite... Ou não? Acho que eles não são pai e filha, afinal... eh eh eh!

5:57 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Estou intrigada para descobrir o fim...todas as mulheres são curiosas e eu não fujo à regra.

Beijinhos

9:58 da tarde  
Blogger pinky said...

maroto maroto maroto!
saíste-me cá um mestre do suspense!
prontooooooooooo lá vamos ter que esperar pelo próximo capítulo!

11:56 da tarde  
Blogger nelsonmateus said...

ora hoje é dia 21 d setembro.
os resultados do teste só ficaram conhecidos dia 21 d outubro ... isso ker dizer k ainda temos pelo menos 4 posts, certo?

ps: vou começar a visitar as editoras pra ver se consigo vender esta blogonovela! ah! ah! ah!

1 abraço

12:02 da manhã  
Blogger saltapocinhas said...

nas ferias do carnaval venho ler a tua novela! Prometo!

1:14 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá António
Sem querer ser repetitiva, parabéns.
O mais engraçado é que tu conseguiste captar a essência da Rosa, não acho que ela seja oportunista, é apenas mulher. E as mulheres têm estes pensamentos e servem-se destes truques para «caçar», e alcançar os seus objectivos.
Quanto ao Zé ou me engano, ou ele está a fingir para se atirar à Rosa qd ela chegar perto... mas isto sou eu que sou muito arreliada.
Beijos.
Anabela Gordita

12:46 da tarde  
Blogger Ivone Medeiros said...

Que suspense.....

12:55 da tarde  
Blogger António said...

Para "Anabela Gordita":
Obrigado pela visita.
Os teus comentários mostram que és uma pessoa que conhece bem o ser humano.

Beijinhos

2:16 da tarde  
Blogger Xuinha Foguetão said...

Vou continuar a ler para ver o q aconteceu...

:)

3:02 da tarde  
Blogger Mitsou said...

Será agora que se ouve um daqueles gritos cinéfilos? :)

Vou subir. Até já!

8:53 da tarde  
Blogger Heloisa B.P said...

Meu Caro Antonio*,
Aqui estou:atrasada, porem INTERESSADA!
Gostei_MUITO-, mas, nao estou com capacidade para escrever!
Perdoe, pois, a pobreza da mensagem!
Fica um ABRACO e regressarei quando me sentir um pouco melhor!
Heloisa.
************

1:27 da manhã  
Blogger margusta said...

Querido António,
...e vão dois!!!

As tuas decrições perfeitas como sempre...consegui imaginar a Rosa e o Zé a conversar...

:))) estou curiosa para saber o que vai acontecer agora...o Zé não respira!?

Até já

1:52 da manhã  

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