Eu sou louco!

Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças! (este blog está registado sob o nº 7675/2005 na IGAC - Inspecção Geral das Actividades Culturais)

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segunda-feira, janeiro 23, 2006

O viúvo - parte VIII

Conforme estava combinado, Zé Luís e o João encontraram-se no café do costume para jogarem bilhar.
Depois da saudação, dos cimbalinos e das primeiras tacadas, que desta vez foram mais certeiras, disse o João:
- Hoje vais lá almoçar connosco, mas desta vez a refeição vai ser mais do que uma mísera omeleta e está a ser feita para três.
- Já que tanto insistes, não te posso dizer que não – disse, sorridente, o convidado.
E acrescentou:
- E depois de almoço ides a minha casa. É a altura de dar as jóias prometidas à tua mulher e de ela escolher as écharpes e o mais que queira. Depois vou ao cemitério. Já encomendei umas flores. O jazigo está limpo pois eu, durante a semana, mandei um fulano tratar disso, mas ficou muito pobrezinho.
- Se não te importares, nós podíamos ir contigo – alvitrou o João Manuel.
- Com certeza!
E continuou o Novais:
- Indo acompanhado não fico tão deprimido.
- E a Rosa tem aparecido? – perguntou o amigo.
- Ah, meu patife! – disse o José – queres tirar nabos da púcara! Tem calma! Só te digo que, depois de reparar bem, é uma mulher bastante interessante. Claro que precisa de um polimento.
- Muito bem! Estou a ver que seguiste o meu conselho – orgulhou-se o Pinto.
- Adiante! Na quarta-feira encontrei-me com uma fulana que conheci na Net. É uma simpatia mas, em vez de fazer tusa era capaz de funcionar ao contrário – e gargalhou.
- Então, nada feito, por esse lado – concluiu o João Manuel.
- Exactamente! – anuiu o Zé.
- Bom! Acabamos esta série e vamos para minha casa, valeu? – sugeriu o homem de S. Mamede.
- Ok!
Durante o almoço, e ao contrário do do sábado anterior, a conversa focou assuntos mais tristes que fizeram todos verter umas lágrimas.
Em casa do Novais, e sobretudo quando se mexeu nas coisas da defunta, houve novamente comoção e choro.
Mas, finalmente, a antiga professora primária Hermínia escolheu as écharpes e também uns lenços de mão e o viúvo seleccionou outros desses lenços.
Depois foi a ida a Agramonte e, novamente, dos olhos de todos brotaram gotas de saudade.
Quando regressou a casa, sozinho, o Zé estava derreado. Comeu uma sandes, bebeu um copo de leite e foi dormir.
O domingo não foi muito melhor. Foi almoçar ao Maia Shopping e foi ver uma comédia. Acabou por se rir e, assim, ficar mais bem disposto para ir a Santo Tirso, desta vez ao domingo pois no sábado não pudera.
Chegado a casa, a tristeza invadiu-o de novo. Deitou-se cedo mas, como tivesse dificuldade em adormecer, tomou um soporífero, fraco, mas suficiente para que dormisse tranquilamente toda a noite num só sono.

Segunda-feira, quinto dia de Setembro.
A manhã apresentava-se com uma neblina que podia prenunciar o fim dos dias mais quentes.
José Luís Novais acordou bem disposto novamente, lavou-se, vestiu-se e quando foi tomar o pequeno-almoço já a empregada estava a trabalhar.
- Bom dia, Rosa! – saudou o patrão.
- Bom dia, senhor Novais! – respondeu a mulher.
- Hoje já não vem tão vaporosa como nos dias mais quentes, que pena... – disse o galanteador.
- Hoje está uma manhã fresquinha. Mas pode ser que aqueça quando o nevoeiro desaparecer – previu a Rosa.
- Oh! Olha que merda! Entornei leite na roupa! – praguejou o Zé.
A Rosa acorreu solícita, olhou e disse:
- Isso limpa-se facilmente. O senhor Novais não se mexa que eu vou já tratar disso.
Pegou num pano seco e noutro húmido e começou a tratar da roupa do Novais.
Nunca antes tinham estado tão perto um do outro. A respiração da mulher tornou-se um pouco ofegante e o patrão, conforme ela lhe tocava no peito e sentia o seu cheiro fresco, percebeu que estava a ficar excitado. O leite derramado não caíra para as calças, o que talvez tenha evitado que os avanços tenham sido maiores e mais definitivos.
Terminada a limpeza, a roupa aparentava ter ficado impecável.
- Muito obrigado, Rosa! – disse ele.
- Não tem nada que agradecer. Não caiu muito leite. Foi fácil.
A mulher notou a protuberância nas calças do Zé, mas fez de conta que nada viu.
Não trocaram mais palavras nessa manhã.
Quando ía sair, o Zé perguntou:
- Não há lista para hoje, Rosa?
- Não senhor.
- Então até amanhã – despediu-se o homem.
- Até amanhã, senhor Novais.
- Ah! Já me esquecia – e parou, o Zé – já pode telefonar ao advogado de que lhe falei. Eu já o contactei a recomendar empenho no seu caso.
- Fico-lhe muito grata – disse a Rosa.
- Então até amanhã – e o Novais, finalmente, saiu.
Quando, por volta das três da tarde, José Luís Novais saiu do elevador no 2º piso, aquele em que se situava o seu apartamento, viu a Maria Cristina a fechar à chave a porta do apartamento que estava para venda.
- Olá, D. Cristina! Parece que a vou ter como vizinha – disse o homem.
- Olá, senhor Novais! Tem razão. Venho viver para aqui. Achei que era um flat adequado às minhas necessidades e não muito caro. E está em bom estado de conservação – esclareceu a morena.
- Mas ainda não está cá a viver, pois não? – perguntou, curioso, o Zé.
- Ainda não! Fiz o contrato-promessa esta manhã e paguei uma parte. Quando for feita a escritura pagarei o resto, mas o senhor autorizou-me a tomar desde já conta da habitação. Fiquei um bocadinho afanada de finanças, mas não recorri a crédito – disse orgulhosa.
- Ainda bem! – aplaudiu o José – assim fica livre de um compromisso mensal que, para muita gente, é bem pesado. E quando é que se muda?
- Durante estes dias vou trazendo as coisas mais leves no meu carro e vou contratar um transporte para me fazer a mudança das mobílias e electrodomésticos na sexta-feira...acho que é dia nove. Durante o fim-de-semana faço as arrumações principais e espero começar a trabalhar com a Maria Helena na segunda-feira – informou, com todo o rigor, a Maria Cristina.
- Se precisar de alguma coisa, eu posso ajudar. Sou reformado e vivo só, portanto... – prontificou-se, simpaticamente, o homem.
- Muito obrigado. E olhe que não me vou esquecer da sua oferta. Para certas coisas os homens dão muito jeito – disse a morena, despachadamente.
- E para outras são as mulheres quem o dão – respondeu na mesma moeda o Zé.
A vizinha sorriu, olhou-o com aqueles belíssimos olhos negros e despediu-se:
-Tem toda a razão! Mas agora tenho de sair para adiantar as coisas e, de hoje a oito dias, estar preparada para um tipo de trabalho que nunca fiz, mas deve ser aliciante.
- Teremos, com certeza, muito tempo para conversar – alvitrou o Zé.
- Seguramente. Vivendo sozinhos, ainda vamos ajudar-nos um ao outro, tenho a certeza. Então adeus! – disse, entrando para o elevador.
O Zé Novais ficou parado na área comum a recordar o que apreciara.
Maria Cristina era uma morena, não muito bonita, pois tinha um nariz talvez demasiado largo e um cabelo negro, muito curto e encaracolado que não seria esteticamente muito belo. Mas, em contrapartida, os seus 163 centímetros de altura e sessenta quilos de peso eram todos feitos de linhas curvas de uma sensualidade extrema. Um bom observador notava que tinha sangue africano a correr-lhe nas veias.
E foi essa sensualidade, o sorriso malandro, os lábios carnudos, os dentes muito brancos e alinhados e, sobretudo, o olhar fulminante que o deixaram perturbado. Mais do que quando a vira pela primeira vez na agência.

24 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Eu peço um livro, mas há quem queira um filme!
Uma coisa é certa, tens que editar!
O que Zé Luís, quer mesmo é companhia. Falar, para passar algum tempo!É natural!
O resto vem por acréscimo.
António, 1,63 cm, com setenta quilos???
Eu tenho 1,63 cm, quarenta e oito quilos e não sou magra!
A Cristina é mesmo gorda! Simpática, mas gorda, não importa, gordura é formosura, mas setenta!!!
Adoro a tua história!

Beijos,

GR

8:04 da tarde  
Blogger nelsonmateus said...

sorriso malandro dizes tu?
estranho, lembra-me alguém ...

8:18 da tarde  
Blogger Maria Carvalho said...

Sem comentários...

8:26 da tarde  
Blogger Su said...

opssss isto está mto mal começa por entornar td em cima da roupa...até eu já estava a ver até onde ia a limpeza....depois aqueles trocadilhos com a vizinha

opsss daqui a pouco temos cenas escaldantes ehehehehe

agora a serio, gostei de ler-te
jocas maradas

8:50 da tarde  
Blogger pinky said...

ai este zé! isso é que vai um virote! o rapaz anda mesmo com as antenas em cima, hahahaah ;)

8:50 da tarde  
Blogger wind said...

Ó pá tu desculpa lá, mas este Zé só pensa em mulheres, credo! É a empregada, a vizinha e mira-as de alto a baixo, como se diz.
Não sei o que é que ele vai fazer ao cemitério!lol. Ainda é daqueles machos latinos que pensa que sem mulher não é homem. gargalhadas.Agora a sério, está bem escrito, mas isso já tu sabes;) beijos

9:46 da tarde  
Blogger António said...

Para "GR":
Mais uma vez a dizeres:
Presente!
Obrigado por isso.

Olha que a Cristina não tem 70 mas 60 kg de peso.
Nunca disse que era magra nem sequer elegante, mas sim que tinha as formas muito bem definidas e era muito sensual.
Portanto, tens de a imaginar doutra maneira...ah ah ah

Beijinhos

9:54 da tarde  
Blogger Heloisa said...

"Teremos, com certeza, muito tempo para conversar – alvitrou o Zé."
************************TERAO, certamente! e, eu, ca' estarei para seguir o rumo dessa *CONVERSA*!!!!!
Fica UM ABRACO, ANTONIO*!
Heloisa.
**********

11:15 da tarde  
Blogger MT said...

Bem, se este Zé se demonstrava qualquer coisa de sensivel nas primeiras linhas, voltou o obsecado por sexo a seguir, tens de lhe arranjar uns hobbies que se pratiquem debaixo de água para ver se ele refresca um bocado :)

Continuo colada...

Beijinhos

10:40 da manhã  
Blogger Xuinha Foguetão said...

Mais uma babe!

Ehehehehehe!

Esta novela vai ser muito grande...

Fico à espera.

Beijocas.

11:28 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Mais pistas.... já espero o próximo episódio! ;)

11:59 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ele mira-as, ele entorna o leite, a Rosinha vai e limpa, dá pela "protuberância" nas calças, ele foge, ele vê a sensual Cristina, ele "oferece-se" ela também se calhar no IX as coisas vão aquecer...eheheheh... Filme ou livro, este promete!
Começo a gostar deste Zé.
Beijo

1:12 da tarde  
Blogger Caiê said...

Já a minha avó dizia... O burro não pensa senão em palha! :)

5:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Mas esse homem anda num desaforo! Parece-me que ele tem pancada... Tudo lhe serve, caramba! Desculpa mas eu acho que é melhor ir ao psiquiatra...

7:51 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ó vizinho, desculpe lá a minha franqueza, mas eu acho que o gajo tem falta de parafusos! Arre, chiça, que é de mais!!! Rastaparta certos homens são como o porco (com licença), só pensam na bolota! Aqui entre nós, esse gajo deve pensar qu'é muinta bom... Não vás ao médico, não...
Olhe lá, ele não é seu vizinho, pois não? Porquê? Porque se não era melhor não lhe dar confiança pode apanhar o vírus... Vai lá vai... que até a barraca abana!!!

8:02 da tarde  
Blogger António said...

Para "sonamaia":

Obrigado por mais uma visita.
Não vale a pena dizer "volta sempre" porque eu sei que tu voltas.

Beijinhos

10:38 da tarde  
Blogger margusta said...

Meu querido amigo,
...hoje tirei um bocadinho só para ti e já vou no terceiro post :)

Pois então ou eu me engano muito ou o viuvinho vai estrear-se primeiro com a Maria Cristina, mas a mulher com quem ele vai ficar é mesmo a Rosa.

Gostei muito de te ler...agora vou outras obrigações me chamam...obrigada por este bocadinho aqui no teu cantinho.

Beijinhos muitos.

10:40 da tarde  
Blogger lena said...

continuas a escrever muito bem e a surpreender em cada momentos,
está a ficar cada vez mais interessante,
a Cristina com o sangue africano, fez-me rir, lembrei-me do sangue que me corre nas veias
a Rosa tão simpática a limpar o leite derramado, olha que eu entornava o leite propositadamente, mas isso sou eu que sou destravada. serei??
Resumindo, baralhaste-me as idéias e já não sei para que lado o José Luís vai cair, eu gosto da Cristina, é morena, tenho que conhecer o José Luis para o convencer das vantagens que há naquele sangue, mas a Rosinha está lá todas as manhãs com o saboroso pequeno almoço e já o meu pai dizia que pela boca morre o peixe, não sei se tem muito de verdade

Vou esperar por mais e porque não um filme, ou um livro, pensa nisso, quero estar presente no lançamento

Beijinhos muitos, amigo António

lena

12:17 da manhã  
Blogger SL said...

Passei para deixar um jinho

10:06 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querido António

Mais um capitulo do "nosso" viúvo - carente e indeciso. Que tu descreves o seu dia-a-dia e (pensamentos) também, com enorme precisão de detalhes que tanto enriquece a escrita.

Beijinhos

10:33 da tarde  
Blogger Luís Monteiro da Cunha said...

Já li dois de rajada...

Deixa que te diga... falta muito prós coisas e tais?
Quando é que se decide o moçoilo?
Mas quer-me parecer, agora com a Cristina ao lado, que a coisa vai-se complicar...
Não digo mais nada, senão trocas as voltas todas...

Abraço

2:44 da manhã  
Blogger Esther said...

Gostei daquí..só preciso voltar com amis tempo. Quando puderes,atravessa o mar para me visitar!

2:42 da tarde  
Blogger I N T E I R O S said...

Imaturo Garrido quem te afiguro
Na agitação que bufa no ajuntamento
Rodopiar sem intuição de interesse
Abalamos ingerir em pirralhas a procedência

10:19 da manhã  
Blogger Mitsou said...

Já tinha dado pela falta da Cristina :)
E a viagem? Já sei, tem calma Mitsou, que lá chegaremos!

4:30 da tarde  

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