Eu sou louco!

Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças! (este blog está registado sob o nº 7675/2005 na IGAC - Inspecção Geral das Actividades Culturais)

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sexta-feira, janeiro 13, 2006

O viúvo - parte V

O fim-de-semana foi penoso para o José Luís.
Embora tenha ido ao cinema e visto alguns programas na Televisão que lhe esconderam as memórias de Margarida, quando não tinha nada a distrair-lhe o espírito este afundava-se nas recordações.
Mas isto não era nada que não esperasse. Somente foi mais um alerta para que não se deixasse isolar do resto do mundo e procurasse convivência.
Na segunda-feira trocou umas impressões com a Rosa sobre os seus planos e as listas de compras. Mas olhou para ela de outra maneira. Começou a fazer uma criativa avaliação sobre como seria ela a viver com ele, na sua casa, na sua cama, no restaurante, a visitar amigos ou conhecidos, a receber. Mas essa análise iria demorar algum tempo, seguramente. E a mulher provavelmente precisaria de um bom polimento.
Um aspecto, no entanto, começou desde logo a ter uma nota positiva. A empregada estava vestida de forma muito vaporosa, dado que estávamos num cálido Agosto e ele apreciou, como nunca o tinha feito, os seios e as pernas bem desenhados.
- Nunca tinha reparado em como é tão boa! – pensou para consigo próprio.
Às sete da tarde foi a missa do sétimo dia. Mais um momento que não o ajudou nada a ultrapassar as lembranças da vida em comum. Valeu a conversa com as pessoas depois do acto religioso.

Os dias foram-se passando mais ou menos de acordo com o que tinha planeado. Alguns assuntos relacionados com o falecimento e heranças tiveram de ser tratados.
Passou a despender mais tempo na Internet. Era uma boa distracção e descobriu alguns sites que propiciavam o encontro de pessoas solitárias. Também começou a ter algumas conversas em canais de conversação.
Não tinha praticamente nenhuma experiência no assunto mas foi aprendendo, sobretudo com a ajuda da professora de português com cinquenta e dois anos, do Porto, Júlia Campos, divorciada, que conheceu num desses sites. Esta senhora foi muito simpática e, como já tinha algum tempo nessas andanças, ensinou rapidamente o Zé Luís a usar o MSN. E foram mantendo conversas quasi todos os dias.
Entretanto, na tarde do dia vinte e seis, sexta-feira, resolveu ir à agência de viagens com a qual tratava dos seus passeios turísticos com Margarida. O objectivo era obter uns catálogos para viagens na época baixa, no Outono e Inverno.
- Boa tarde! – disse ao entrar.
- Boa tarde, Sr. Novais – respondeu a proprietária.
Mas, ao reparar na indumentária preta de cliente, perguntou:
- Não me diga que a D. Margarida...
- É verdade! Faleceu no dia dezasseis – completou o José.
- As minhas condolências.
- Muito obrigado.
- Já se esperava, não era? Sabe que eu gostava muito da sua esposa – disse Maria Helena – era duma alegria contagiante.
- Toda a gente simpatizava com ela. E não merecia ter tido tanto sofrimento.
- Era muito nova...
- Tinha só cinquenta e oito anos. Foi muito cedo, é verdade – esclareceu o viúvo.
Maria Helena era uma simpatiquíssima mulher de trinta e nove anos, casada, de estatura baixa e gorducha.
- Desculpa, Cristina! – disse, voltando-se para uma morena com quem estava a conversar quando o Zé Luís entrou.
- Está à vontade! – respondeu a Cristina – e embora não conheça este senhor, não posso deixar de lamentar o sucedido. Peço desculpa por me intrometer, mas não pude deixar de ouvir a conversa – concluiu, voltando os seus olhos negros em direcção ao viúvo.
- Muito obrigado, minha senhora – respondeu este, não deixando de sentir qualquer coisa ao ouvir o tom de voz sensual da morena.
- Deixem-me que vos apresente – disse Maria Helena – este é o senhor José Novais, nosso cliente, e esta é a minha amiga Maria Cristina Soares que vem trabalhar comigo brevemente e que anda a procurar uma habitação aqui perto. Nasceu em Luanda, como eu.
- Muito prazer em conhecê-la – disse ele.
- Igualmente – respondeu ela.
- O senhor Novais não conhece por acaso um T2 para vender ou alugar para os seus lados? – inquiriu a Helena.
- Por acaso há um para venda mesmo ao lado do meu. Se estiver interessada em vê-lo, eu escrevo-lhe aqui o endereço e o contacto do antigo proprietário que já não o habita, aliás – informou o Zé.
- Claro que estou! Pode então dar-me esses elementos? – pediu a mulher da voz grave e sensual.
- Com certeza! Tenho aqui um cartão dos meus e vou escrever no verso – apressou-se o Zé a prestar a informação.
Feitas as anotações necessárias, entregou o cartão a Maria Cristina:
- Eis os elementos de que precisa.
- Muito obrigado pela sua gentileza – agradeceu a Cristina, fulminando o reformado com um olhar como ele raramente vira.
- Mas afinal o que trouxe aqui o senhor Novais? – interveio a dona da agência.
- Vinha ver se já tinha catálogos de viagens para a época baixa – disse o Zé – para a Europa, só.
- Tenho aqui dois que pode levar para casa e analisar à vontade – disse, entregando-lhos.
- E estes tem programas para os países de leste? – quis ele saber.
- Tem, tem! Pode pedir-me mais esclarecimentos ou tirar dúvidas quando quiser – disponibilizou-se a Helena – já sabe que eu estou sempre aqui para o ajudar.
- Verdade absoluta! – comentou o homem, sorrindo.
E continuou:
- Bom! Vou-me retirando e deixando-as à vontade.
- É sempre um prazer ter a sua visita. Embora neste caso... – disse a proprietária.
- Prazer em vê-la Maria Helena. Cumprimentos ao marido. E também foi um prazer conhecê-la, dona Cristina – despediu-se o Zé Luís.
- O prazer foi todo meu! E ainda me prestou um favor. Lamento, de novo, o falecimento da sua esposa.
- Ó Maria Helena! E aqui a D Cristina quando é que começa a trabalhar aqui? – perguntou, curioso, o Zé.
- Na segunda-feira já começa a aprender o negócio. E quando tiver habitação aqui na Maia entra em pleno – explicou a Helena.
- Obrigado, mais uma vez! Então tenham um bom resto de dia. Adeus! – despediu-se e saiu, o Novais.
E as amigas continuaram a conversar.


Durante essa noite e no fim-de-semana, dentre as muitas coisas que fez, incluindo a visita à sogra que continuava sem aparentar melhoras, merecem relevo as várias e animadas conversas que manteve com a professora Júlia. E acabaram mesmo a combinar um encontro para a tarde da quarta-feira seguinte, no café Aviz, no Porto.
O José Luís Novais não iria morrer de inanição, seguramente!

29 Comments:

Blogger Su said...

opssssssssss
primeiraaaaaaaaa
euzinha

como sempre adorei ler

é obvio ele não morrerá de inanição

será que é escorpião? dizem serem terríveis...eheheh

jocas maradas

9:15 da tarde  
Blogger Caiê said...

Parece-me que ele já conhecia a profe... a Rosa, seguramente, já conhecia. Eu, caso fosse o senhor, começava algo do zero, com alguém totalmente novo! :)

Mas isso sou eu... eh eh!

beijinhos. Gostei bastante deste episódio!

9:18 da tarde  
Blogger wind said...

Já é a 2ª vez, se não me engano que leio uma professora no messenger.lol. Agora tens duas alternativas, ou mais: o Zé tem a escolher a nova empregada e possível futura vizinha, a professora e ainda a empregada para as horas vagas. gargalhadas:))) beijos

10:01 da tarde  
Blogger SL said...

Ando tão ocupada que só me resta tempo para actuaizar o meu blog...Desculpa, mas a parte V é grande para o pouco tempo que tenho.
Jinhos, vou passando...

10:16 da tarde  
Blogger Zica Cabral said...

estive a ler a historia do viuvo Zé que me está a interessar de sobremaneira. Afinal lá arranjei um tempinho (á custa do sono mas enfim....) para pôr os blogs em dia.
´Não sabia que se podiam pôr blogs sob a protecção de obras ineditas (quando eu tinha ainda pachorra e viva em Lisboa, ía ao registo de Obras Inedictas registar os meus trabalhos e sou sócia da SPA) Tens que me ensinar como isso se faz e pode ser que eu faça o mesmo.
Beijokas muito amigas
Zica

10:59 da tarde  
Blogger Zica Cabral said...

ah já escrevi mais uma coisinha no meu blog das palavras. Vai lá ver e diz-me a tua opinião
beijokas
Zica

11:02 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querido António

Bom, este viuvo, parece que não vai ter problemas, no que diz respeito à "possibilidade" de uma companhia. Ainda bem, porque a solidão não faz bem para ninguém e ele está vivo - só tem mesmo que viver!

Mais uma vez, Parabéns pela tua escrita.

Beijinhos

Bfs

1:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Quem me dera ser multifacetada como tu mei querido migo António, que me delicias com as tuas escritas, sejam elas quais forem... Foi só uma pequenina surpresa para o meu Caranguejo, e já lá acrescentei mais uma hihihih jinhos ternos

2:29 da tarde  
Blogger Luís Monteiro da Cunha said...

Morrer de inanição!???
Vai morrer é de solicitação... sedução... paixão... não vai ter mãos a medir...lol
E a empregada... sei não.
Acho que nos estás a enganar, mas...

Bom fim de semana, caro vizinho.

Abraço

7:39 da tarde  
Blogger Leonor said...

pois! confesso que há anos que ando às voltas com a questão... afinal o destino existe ou não? mas o que é o destino?
a nossa vida é gerida por coincidências ou foi tudo programado lá em cima?

abraço da leonoreta

8:35 da tarde  
Blogger Heloisa said...

De "INANICAO", e' que Ele nao morre, nao!!!!!
_Isto compoe-se!-temos uma professora julia e temos uma CRISTINA SENSUAL E DE OLHOS NEGROS!...A *ROSA*, ira', por enquanto,dedicar-se as listas de compras e, as limpezas domesticas_pese embora, os vaporosos vestidos_... que apesar da "missa do setimo dia e as sete"...Ele, o NOSSO ZE'(nosso faz favor_da JULIA, da CRISTINA, quica' da ROSA e...de quem mais se apresentar aos seus olhos e..."anseios"!), repara em todos os pormenores e... pesa todos os "PROS E CONTRAS"_FRIAMENTE_!!!
_Estou dividida: umas vezes simpatizo com o ZE', outras tenho vontade de lhe bater! E...isto quer dizer que o *ANTONIO* e, Criador do Enleio, nos ENLEIA E PRENDE!_Ca' estarei, se deus quiser, no VI CAPITULO!!!!
_Fica um ABRACO E UM SORRISO e... votos de OPTIMO FIM DE SEMANA!!!!!
Heloisa B.P.
**************

8:41 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Inanição? Só no episódio de hoje, as possibilidades cresceram... Desde a "vaporosa" e "boa"... Rosa, à sensual Cristina que já arranjou maneira de a ter por perto, até à "velha" amizade(já conversava com ela faz tempo...)do MSN..., já lá vão três e palpita-me que não vais ficar por aqui! Estou a deliciar-me com a história do zé e a tua escrita. Beijo

12:09 da manhã  
Blogger margusta said...

Querido António,
...passo só para te desejar um bom Domingo.
Volto para te ler.
Um beijo

1:05 da manhã  
Blogger Maria Carvalho said...

Movimento é que é preciso, exactamente. Morrer de inanição, isso nunca!! Beijinhos, bom domingo.

7:38 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Zé Luís começa a ficar com problemas!
Rosa – a jeitosa, Júlia – a inteligente, Cristina – a simpática e ainda os sites que lhe proporcionam encontros – as virtuais!
Com tanta escolha, continua só!
Para muitos a solidão, é terrível. Zé Luís não aguenta muito tempo.
Será a nova vizinha, a futura companhia/companheira?

Como sempre o texto desenrola-se lentamente!
Há uma suavidade nostálgica na narrativa.
Talvez por isso (mesmo não concordando, com tudo que Zé Luís pensa), continuo a simpatizar com a personagem!
Característica dos bons escritores!
Parabéns!

Um beijo,

GR

4:04 da tarde  
Blogger António said...

Para "GR":
Obrigado pela visita e pelo comentário.
Já tenho quasi três novos episódios escritos, mas como ainda há poucos leitores, vou esperar até ter um número que me agrade.
Eu escrevo para os outros e não para mim.
Sem "clientes" isto não tem graça!

Beijinhos

6:51 da tarde  
Blogger lena said...

vim de descansar um pouco e pensei que ainda não estava a parte V,
vinha dizer-te um olá e que sobre o insensível, disse para não me julgares assim, pois pelo facto de se perder alguém tão querido a vida não terminava ali, pois sentia que apesar de tudo o Zé amava a Margarida, mesmo que se entusiasmasse com outra não se esquece assim facilmente quando se ama
Deparei com um novo episódio que devorei, e tive que voltar a ler, não foi por não o compreender, mas para saciar os meus olhos da beleza com que escreves e entrar em cada momento que ias descrevendo, com mais atenção
Imaginei os primeiros dias difíceis de José Luis,
a forma audaz com que olhou melhor para a Rosa e como a conseguiu transportar para a sua vida no dia a dia,
continuo a dizer que isso acontece quando se está demasiado sozinho
depois a net, o msn, que raramente uso, mas que até dá jeito para comunicar às vezes e a prontidão com que alguém o ajudou,
lembrei-me de outros tempos, em como foi importante uma ajuda,
ainda bem que vai conhecer essa sua já amiga "virtual" e sempre será alguém com quem pode ir partilhando as suas idéias
finalmente a Cristina, certamente sua futura vizinha, é sempre bom ter alguém por perto que nos dê atenção,
vai virar romance, acredito que sim, todas elas têm a sua importância na vida do Zé, também será mais fácil combater a solidão em que se encontra
continuo agarrada a este teu conto, e a admirar a maneira como consegues descrever tão bem cada personagem, fazes com que me viaje ao lado delas, é um “defeito” meu sempre que leio algo que me prende

vou ficar a aguardar mais novidades


beijinhos muitos

lena

7:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

António...os homens são todos iguais. Mal a mulher fecha os olhos logo rejuvesnecem e a oferta é tanta,que até ficam baralhados na escolha.

Bom, eu apanhei este episódio de relance e nem sei se é real ou fruto da tua fértil imaginação.

Beijinhos

10:01 da tarde  
Blogger Ovelha Negra said...

passei só para mandar beijinhos ;)

10:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A este ritmo, o Zé Luís vai construir um Harem!!! Esta história está uma animação, estou a gostar muito! bjs

1:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Meu Migo António hihih com que então eu a cantar hihihi... Bom ainda muito influênciada pelo teu belo post, só tenho a acrescentar uma coisa: Se o "destino" existe, ou se eu o pudesse alterar, podes crer que até era capaz de ser uma boa dar uma "cantadas" por aí, tipo hip-hop ou coisa assim hihihi É que eu aqui em casa tenho que "gramar" tanto 50cent's que dou comigo a cantarolar 50cent's também... Bom mãe sofre... ;-)
Jinhos ternos

1:59 da tarde  
Blogger margusta said...

Olá querido Antònio,
...quer dizer que a missa do sétimo dia ainda não tinha sido!!!!
...e o viúvinho já andava com aqueles "projectos sexuais" todos?..lol
Agora já temos pelo menos três na lista ;) vamos ver no que isto vai dar mas eu quase que aponto para a Maria Cristina.

Beijinhos meu amigo e venha o próximo.

6:41 da tarde  
Blogger pinky said...

isso é que é um homem cheio de espirito! fecharam-lhe uma porta mas ele não esmorece e toca de abrir janelas! cooool man! ;)

10:09 da tarde  
Blogger Mitsou said...

E qual delas o acompanhará na viagem aos países de Leste? Se fosse a ele ia sozinho :)

Estou a gostar muito, António.

Beijinhos e uma óptima semana.

12:30 da manhã  
Blogger nelsonmateus said...

café Aviz? tenho k la dar 1 salto! eh! eh! eh!

11:58 da manhã  
Blogger Leonor C.. said...

O vestido vaporoso sa Rosa deixou-me toda arrepiada e a desejar o Verão... Bem, a cabeça do Zé Luís nãp pára! Detesto homens que despem as mulheres com os olhos! Para cúmulo, ainda lhe aparece a empregada da agência... Is....to é que vai uma vida!

Ó António, tu vê lá se o aconselhas!

8:38 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Muito bom, deixo um abraço...

osaldanossapele.blogs.sapo.pt

8:53 da tarde  
Blogger Xuinha Foguetão said...

Isto são só babes a entrar em cena!

Assim vai ficar com um leque alargado de escolha.

Ehehehehe!

Vou continuar... Inté!

3:05 da tarde  
Blogger MT said...

Bem li hoje a saga do Viúvo do primeiro ao quinto episódio.
O que achei:
1º Achei o Zé Luis demasiado preocupado em substituir a mulher, tendo passado apenas 4 dias do seu falecimento, penso que o luto mesmo que esperado demora um pouquinho mais.
2º A empregada Rosa deixou o marido demasiado fácilmente, penso que essas coisas tem sempre mais uns quês.
3ºGosto da personagem, e estou espectante para ver o que o vai acontecer.
4º Pegou-me na trama, ou seja vou passar a espreitar o seu blog diáriamente para encontrar novos episódios.
5º E por último gosto muito da maneira como escreve, penso é que não deve precepitar tanto a acção, dê tempo ao Zé Luis para se desenvolver.

Não fique chateado, mas disse lhe mesmo o que pensava, e apontei as coisas que penso que poderiam ser melhoradas, se bem que como disse gosto muito da história e da maneira como escreve.

4:17 da tarde  

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