Eu sou louco!

Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças! (este blog está registado sob o nº 7675/2005 na IGAC - Inspecção Geral das Actividades Culturais)

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sábado, março 25, 2006

Férias no Oeste

No Oeste...
Já estão a imaginar-me a escrever sobre os meus passeios de sandálias, calções e camisa com palmeiras estampadas pelas praias da Califórnia, o meu surfar nas grandes ondas de Long Beach, San Diego ou Pasadena, as minhas apostas com um punhado de dólares (que me desculpe o plágio, o Sérgio Leone) nos casinos de Las Vegas, a minha cara de espanto a observar as mansões das grandes vedetas de Hollywood, o meu espreitar por binóculos para as máquinas de extracção de petróleo no Texas, o meu afã a fotografar as montanhas do Grand Canyon do Colorado, o percorrer das estradas do Arizona, do Nevada, do Oregon, do Novo México, do Utah, do Wyoming, do Idaho ou de Montana, as caminhadas pelas ruas de Los Angeles, S. Francisco, Dallas, Pecos, Houston, Denver, Salt Lake City, Portland ou Phoenix, ou sobre as verdadeiras lendas que são Buffalo Bill, Kit Carson, Davy Crockett, Daniel Boone, Wyatt Earp, Geronimo ou Sitting Bull.

Pois estão redondamente enganados!
Eu vou escrever sobre os oito ou dez dias que passei com a minha mulher Maria Fernanda, o meu enteado Mário Rui e o meu filho Fernando Miguel na zona Oeste deste Portugal.
Aconteceu em Agosto de 1986.
Há quasi vinte anos.
Era uma zona do país que conhecíamos mal (ou não conhecíamos de todo) e conseguimos alojar-nos em dois quartos, com uma porta de ligação, duma residencial das Caldas da Rainha situada perto da Praça de Touros. Passou a ser aí o nosso quartel-general.
De manhã saíamos para passar o dia em locais periféricos.
Antes do almoço, normalmente, uma ida à praia da Foz do Arelho ou à curiosa e poluída concha de S. Martinho do Porto.
De tarde íamos a outros locais:
Óbidos, com o burgo apertado dentro das muralhas do castelo que, consta, foi edificado pelos romanos tendo sofrido, posteriormente, inúmeras alterações e ampliações, e relevando a rua Direita que vai desde a Porta da Vila até ao Paço dos Alcaides, as igrejas de Santa Maria, de S. Pedro, de S. João Baptista, da Misericórdia, de S. Tiago, a capela de S. Martinho, o Pelourinho e o Telheiro, o Santuário do Senhor Jesus da Pedra, o Aqueduto.
É seguramente uma das mais interessantes vilas do país.
Estava pejado de gente, turistas, sobretudo estrangeiros que se deleitavam, como nós, a percorrer tudo aquilo sob um sol intenso e temperatura estival.
Peniche, vila situada junto ao cabo Carvoeiro, não foi muito descoberta por nós. Estivemos a almoçar junto do porto de pesca, fomos ao farol do cabo e depois resolvemos apanhar um barco que nos levou a um paraíso natural:
as Berlengas.
A viagem demorou cerca de quinze minutos e o mar, apesar de ser Agosto, não estava propriamente sereno. Como antigo marinheiro, deu-me um gozo particular voltar a navegar sobre as salsas ondas.
Desembarcados no pequeno cais da Berlenga Grande, perto do qual existia uma pequeníssima aldeia de pescadores, subimos até junto do farol e do local para poiso de helicópteros (chamar-lhe heliporto seria uma promoção despropositada), a cerca de 80 metros de altitude. Daí se podiam ver as Estelas e os Farilhões, pequenos ilhéus, além de alguns rochedos.
E inúmeras aves marinhas.
Após algum repouso, pois a subida foi um tanto cansativa e levávamos uma criancinha que só tinha três anos, descemos por um estreito caminho, feito na escarpa, para o forte de S. João Baptista que estava aproveitado, de forma bem imaginativa, como estalagem.
Eu fiz a descida à frente, com o miúdo ao colo, e a mulher e o Mário Rui seguiam-me. Mas só quando chegamos cá abaixo e olhamos todo o trilho pelo qual viéramos, é que nos apercebemos do risco de queda que, felizmente, não ocorreu. Mas não fomos só nós. Muitas mais pessoas andaram por esse caminho, ou descendo ou subindo.
Seguiu-se um passeio numa pequena embarcação cujo manobrador nos ía dando algumas indicações sobre as várias grutas e rochedos que proliferavam ao redor da ilha. Não me esqueci nunca mais da tromba de elefante e da limpidez daquelas águas.
Foi uma tarde inolvidável!
Também fomos a Rio Maior. Aquilo que mais se gravou na minha memória foram as minas de sal-gema, que não é mais que cloreto de sódio (o sal das cozinhas) cristalizado longe do mar, no subsolo. Lembro-me que, exactamente dois anos depois, quando se deslocava de automóvel de Lisboa para o Porto, faleceu num acidente de viação, julgo que ainda na Estrada Nacional nº 1 que atravessava a vila, um dos maiores talentos como compositor, letrista e intérprete instrumental e vocal da música ligeira portuguesa da segunda metade do sec. XX – o Carlos Paião.
Não deixamos de visitar também a Nazaré. Já a conhecíamos relativamente bem, mas a subida ao Sítio e a paisagem que de lá se desfruta é tão deslumbrante que vale sempre a pena lá voltar e aproveitar também para ver a lendária marca do casco do cavalo de D. Fuas Roupinho.
A maior parte das noites (após os imprescindíveis banho e jantar) eram passadas nas Caldas da Rainha, uma linda cidade com um velho, mas interessantíssimo hospital termal fundado em 1485 pela Rainha D. Leonor, mulher de D. João II, e famoso pelas suas águas sulfurosas – parece ser o mais antigo em todo o mundo. De realçar o magnificente parque, com várias estátuas nele disseminadas, e dentro do qual existe o museu de José Malhoa. E é impossível esquecer o ex-libris das Caldas: as louças, nomeadamente as que tem um sui generis componente fálico. Neste assunto não se pode deixar passar em claro a importância de Rafael Bordalo Pinheiro.
Coincidiu com a parte final da nossa estadia a abertura das animadas Festas da Fruta.

De então para cá, nunca mais estive em nenhum destes locais, salvo em rápidas passagens. E não duvido que muito terá mudado, em vinte anos.
Não será altura de passar mais uns dias no Oeste...português?

28 Comments:

Blogger António said...

Desde já esclareço que a série "Diálogos de gente" vai continuar.
Apenas resolvi introduzir de permeio um post diferente, para desenjoar.

Saudações

6:33 da tarde  
Blogger Su said...

um post diferente, mas gostoso, cheio de belas recordações e como te digo, viajamos contigo

jocas maradas de paisagens

7:05 da tarde  
Blogger BlueShell said...

Ah...gostei da tua estadia no "oeste"...
Apanhaste a Primavera? Deves ter apanhado ...porque aqui...não chegou nada.
Hoje deixo um apertado abraço

BShell

7:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Curioso post, António!
De repente, (perdoa-me mas sei que vais entender-me) deixei de te ouvir para ouvir um outro (tão meu!) Contador de Histórias preferido...
Ele adorava ir passar as férias para essa zona.
Só por isso, vou roubar-te mais um texto.
Beijo, António, e... um obrigada grande por este passeio delicioso!

8:04 da tarde  
Blogger lena said...

primeiro obrigada por passares na minha cabana e comentares a "minha" primavera escrita "à minha maneira" pois sei ser difícil para ti muitas vezes, eu prometo mudar um dia a minha forma de escrever, não sei é quando

depois, sim é tempo de voltares a ver de novo o Oeste de Portugal e sentir como tudo está diferente, as Berlengas são a minha paixão e dormir no forte é uma doce sensação. ali respiro "mar"
Caldas da Rainha está linda e Peniche diferente do que conheceste, engraçado que ias descrevendo o teu passeio e eu ia visualizando em tempo mais recente esta tua viagem e gostei e ir viajando contigo, ia seguindo os mesmos trilhos


beijinhos muitos para ti meu amigo

lena

9:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

António,

Permite-me não concordar quando dizes: “Apenas resolvi introduzir de permeio um post diferente, para desenjoar”.
A tua escrita nunca enfastia ninguém, é sempre um prazer! Neste caso é também aprender, viajando!
A descrição dos locais é tão perfeita, por momentos revi-me de férias, com bonito sol, no centro e sul do país!
Só não falaste nas habitantes das Berlengas. As atrevidas gaivotas. Agora são tantas. Grandes e lindas. Destemidas! Roubam, saqueiam, assaltam. O turista, quando lá chega nem forças tem para as afastar! Nós, é que lhes estamos a invadir a sua propriedade!
Óbidos está mais bonita! Muito limpa! No burgo não entram carros.
Agora sim, parece mesmo da época medieval!
Entre eu ir de férias e ler as tuas narrações! Prefiro, ler-te, é bem mais divertido e cultural!

Bjs,

Guida

11:12 da tarde  
Blogger António said...

Para "GR":
Obrigado pela visita.
Acredito piamente que tudo esteja mudado.
Há poucos anos, passei de raspão pelas Caldas da Raínha (não propriamente a zona central ou o Parque) mas não reconheci nada do que vi.
Como dizia o outro:
"Vinte anos é muito tempo"
(acho que ele dizia dez...mas eu digo vinte)

Beijinhos

11:39 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gostei muito de ler este post, porque acho que temos um pais lindo, com muitas terras cheias de história e "sabor".
De todos os locais que descreveste o que mais gostei e gosto é sem duvida a Vila de Obidos, porque para além de ser um lugar lindo, foi lá que eu a a minha Perfect passamos um dia maravilhoso, percorrendo toda a muralha e todas as ruelas. Foi um dos muitos dias maravilhosos, que passei ao lado da minha mais que tudo.
Já agora aproveito para falar um pouco do norte do país, que também tem lugares espectaculares, com por exemplo: Amarante, As fisgas do Ermelo, O monte da Senhora da Graça em Mondim de Bastos, etc., etc..
Abraços

2:53 da manhã  
Blogger Maria Carvalho said...

Pois, para desenjoar. O meu pai pescava na Foz do Arelho quando estávamos de férias nas Caldas da Rainha, eu tinha 5 anos? Todos os dias eu comia um robalo que o meu pai pescava e que me era servido no Hotel. António, está lindo o teu texto. Recuei tantos anos, nas tuas palavras...Obrigada, é lindo o teu texto. Beijos.

4:02 da manhã  
Blogger Papoila said...

António gostei muito do texto de hoje e impõe-se nova visita, mas desta vez promete que vais a Alcobaça e que passeias no claustro do Mosteiro depois de contemplares os túmulos de Pedro e Inês... (eu e os monumentos funerários...) Beijo

1:34 da tarde  
Blogger wind said...

Tudo o que relataste eu conheço e assim viajei mais uma vez e revi os lugares:)beijos

2:05 da tarde  
Blogger Luís Monteiro da Cunha said...

Claro que é altura de reviver emoções e ver as alterações e...
pasmar com as novidades...lol

Bem descritivo este teu texto de memórias... que me reviveram a memória... sim, também me apetece
voltar e ver se está ainda tudo no sítio...lol

Abraço

2:27 da tarde  
Blogger Heloisa said...

AI, ANTONIO*!...Nao me faca chorar!...
_coisa que ultimamente nao esta' sendo muito dificil, pois ando uma chorona!
Gosto muito das Caldas da Rainha (e...ETC...) e, ja' la' nao vou ha' mais de meia duzia de anos!!!!!!!!!!!
SAUDE E FELICIDADE PARA SI* E SUA FAMILIA! e...quem sabe...repetirem o "Itenerario" e "comparar" ou acentuar as diferencas:para melhor e para pior, durante este "SALTO DE CERCA DE 20ANITOS!..._20 ANITOS, e' qualquer coisa que nos faz passar da PRIMAVERA AO OUTONO (quica' ao Inverno...)e, acrescentar ao "Estatuto" de PAIS, tambem o de AVOS!!!!!!
*****************
MEU ABRACO E MEU OBRIGADA POR SUA NOVA VISITA_SEMPRE MUITO AGRADAVEL, PARA MIM_!!!!!!
Heloisa.
**************

8:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Por acaso pensei no nosso Oeste. Talvez porque o acho encantado e encantador, como a tua forma de descreveres as coisas.
Beijinhos

8:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá Antonio!
Optimiza o tempo e vai aos dois oestes! Cada um tem a sua beleza. O nosso, mais pitoresco e sempre encantador. Como somos um país pequeno, num instante nos pomos lá.

O outro, o dos States, é outra musica! Se há sitios onde quero/tenho/necessito voltar é aos Canyon. Mais do que um local é um estado de espírito. Há locais assim - indescritiveis na energia que transmitem. O Zion Canyon (pequeno Canyon) é um desses sitios. Já encontrei mais dois com essa energia, mas os Canyon são fantásticos. Los Angeles parece que vai ser desmontada amanhã e Las Vegas é a loucura construida pelo homem.

Vai aos dois António. Aproveita este teu novo estado de aposentado! Vale muitooooooooo a pena.

Quem me dera ir já hoje!!!

Beijinhos e boa semana
Ana Joana

8:41 da tarde  
Blogger António said...

Para "Ana Joana":
Minha querida amiga!
Obrigado pela tua visita.
Gostaria muito de correr mundo, mas...há sempre um mas, que chatice...não sou tão rico como tu julgas! eh eh

Beijinhos

10:43 da tarde  
Blogger amigona avó e a neta princesa said...

Obrigada pelo passeio!

Boa semana!

11:33 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Acho que é hora de repetir sim! É uma zona maravilhosa...Gosto particularmente de Santa Cruz! Quando fôr avise, talvez nos cruzemos por lá! :)

1:17 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Seria impossivel enjoar com os teus "Diálogos..." Mas também gostei deste, fez-me recordar alguns bons momentos de passeios vividos em tempos.
Uma das coisas que mais gostava quando te lia as tuas experiências de vida, era precisamente essa tua capacidade de me envolver de tal forma que me fazias reviver coisas boas, já passadas.
Hoje isso voltou a acontece, adorei.
Jinhos ternos

10:32 da tarde  
Blogger BlueShell said...

Beijito!...Queres?
BShell
*~*~*~*~*
~*~*~*~*~

11:20 da tarde  
Blogger pinky said...

belos passeios sim sr! há que lá voltar para constatar a evolução. jokas

2:48 da manhã  
Blogger Xuinha Foguetão said...

Destes sítios falta-me conhecer as Berlengas! :)

Gosto muito de Óbidos!

E fiquei curiosa... Não comeram as trouxas de ovos nas Caldas?

Divinais!

Beijos

12:24 da tarde  
Blogger SFeneacoach said...

Amigo António: acerta sempre nos meus pensamentos!! ;) Mas passei aqui para lhe dizer que Santa Cruz é pertinho de Torres Vedras, sítios muito belos e com muita gente boa!

4:10 da tarde  
Blogger Caiê said...

Foi a primeira vez que te vi tão familiar... :)

4:52 da tarde  
Blogger nelsonmateus said...

é pá!
nesse caso, nã te esqueças d dar 1 apitadela. né!?

6:53 da tarde  
Blogger heidy said...

Toni:
O nosso país à beira mar plantado, tem ainda muitos segredos por desvendar. :) Cada ano que passa, consegue-se descobrir mais maravilhas. Só é pena, é não aproveitarmos o que temos. Irrita-me estarem sempre a dizer que o que está lá fora é que é bom, e que não valemos nada. Mentira!!!! Temos uma serra de sintra lindaaaaaaaa; uma arrábida; um gerês de cortar a respiração... um alentejo para desfrutar... um centro... para usufruir.. umas beiras para se ficar nostálgico... uns trás-dos-montes, para sentirmos paz... e ficarmos deslumbrados... um Minho... de cortar a respiração. O que nos falta? coragem para dizermos que valemos a pena.

besos antes que me exalte. lol

12:19 da tarde  
Blogger Clotilde S. said...

È a primeira visita que faço ao seu blog e achei graça à coincidência da sua última postagem.
Sou do Oeste e conheço muito bem todo o itinerário que descreveu.Em vinte anos, muita coisa mudou, mas o essencial mantém-se!
Um abraço

4:34 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Very cool design! Useful information. Go on!
» »

10:06 da tarde  

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