Diálogos de gente (IX) (O lambe-botas)
Duarte Nóvoa estava sentado na secretária do seu gabinete a escrever um e-mail de resposta a uma questão suscitada pelo seu superior hierárquico e Director – Geral.
Eis que o seu subordinado Óscar Ribeiro assomou à porta do compartimento e perguntou baixinho:
- O Sr. engenheiro dá licença?
O chefe nem teve de levantar a cabeça para saber quem era:
- Oh Óscar! Eu agora preciso de estar concentrado aqui a redigir um texto para o meu chefe. Falamos daqui a um bocadinho.
- Sim, Sr. engenheiro Nóvoa – respondeu o Ribeiro, ao mesmo tempo que entrava completamente no gabinete e se postava silenciosamente junto à porta.
Ao fim de uns bons quinze minutos:
- Ufa! Finalmente! – suspirou o Duarte, e reparando no outro – Então você ainda está aí, Ribeiro?
- Estava à espera que o Sr. engenheiro acabasse esse trabalho para falar consigo.
- Já lhe disse para não me chamar Sr. engenheiro. Não gosto. Pode chamar-me engenheiro Nóvoa se quiser usar o título, mas sabe muito bem que não gosto muito disso. O meu nome é Duarte Nóvoa – ralhou o “manda-chuva”.
- Pois é! Mas estou habituado a meter sempre o engenheiro e agora, se não usar, não me sinto bem – justificou-se o Óscar.
- Mas afinal qual é o problema, oh Ribeiro? – interrogou o Nóvoa.
- Queria pedir-lhe autorização para logo à tarde me deixar sair. Tenho uma consulta marcada no oftalmologista às quatro horas. Mas eu ainda venho cá depois porque o Sr. engenheiro Nóvoa pode precisar de mim – disse o homem.
- Está muito bem! É sensato olhar pela saúde e a visão deve ser bem vigiada – autorizou o engenheiro.
E continuou:
- E está dispensado para o resto da tarde. Você passa cá muito tempo e até lhe faz bem ir apanhar ar fresco. Senão ainda fica mais doente estando sempre aqui metido.
- Muito obrigado, Sr. Engenheiro! – agradeceu o Óscar – Mas eu gosto de estar aqui porque acho que devo dedicar o máximo de tempo à empresa que me paga.
- Eu agradeço muito a sua dedicação, Ribeiro, mas não quero que prejudique a sua vida privada e familiar. Salvo em situações excepcionais – disse o chefe.
- Sabe que, se não estou cá eu, muitas das outras pessoas não tem tanta dedicação à firma e alguns assuntos ficam adiados. Eu procuro resolver tudo de imediato.
- Eu sei da sua dedicação, Ribeiro! Não precisa de ma lembrar. – afirmou o Nóvoa, já um pouco fatigado dos salamaleques e auto-elogios do outro – Pode retirar-se e, se me fizer o favor, peça ao Nogueira para cá vir.
- Acho que o Nogueira não está cá! Mas eu vou procurá-lo e se estiver eu dou-lhe o recado – prontificou-se o “lambe – botas”.
- O Nogueira não está cá? Mas ninguém me disse nada! – admirou-se o Duarte.
- Eu não tenho a certeza, mas vou já tratar disso. Com licença! – e saiu da sala, o Ribeiro.
- Até que enfim! Este tipo é pior que uma carraça! – desabafou para consigo o Director do Departamento.
Passados alguns minutos, apareceu novamente o Óscar.
- O Sr. Engenheiro dá licença? – perguntou.
- Diga lá, Ribeiro!
- Estive a procurar o meu colega Nogueira mas não o encontrei.
- Mas ele saiu e não disse nada? – perguntou, um pouco irritado, o responsável.
- Parece que saiu e não disse nada a ninguém – enfatizou o “graxista”.
- Isto assim não pode ser!
Mas eis que surge à porta um terceiro homem!
- O engenheiro andava à minha procura?
- Oh Nogueira! Afinal você está cá!
- Estive sempre! Mas de vez em quando tenho umas necessidades fisiológicas para satisfazer – disse o recém-chegado enquanto olhava com cara de poucos amigos para o Ribeiro.
- Entre e sente-se! E você, Ribeiro, pode retirar-se. Já não preciso de si, por enquanto – ordenou o Director.
- Então, com a sua licença, Sr. engenheiro!
E o Óscar Ribeiro saiu, a pensar:
- Este sacana vai ter de me dar um bom aumento! Nem que tenha de passar cá dentro 24 horas por dia.
Eis que o seu subordinado Óscar Ribeiro assomou à porta do compartimento e perguntou baixinho:
- O Sr. engenheiro dá licença?
O chefe nem teve de levantar a cabeça para saber quem era:
- Oh Óscar! Eu agora preciso de estar concentrado aqui a redigir um texto para o meu chefe. Falamos daqui a um bocadinho.
- Sim, Sr. engenheiro Nóvoa – respondeu o Ribeiro, ao mesmo tempo que entrava completamente no gabinete e se postava silenciosamente junto à porta.
Ao fim de uns bons quinze minutos:
- Ufa! Finalmente! – suspirou o Duarte, e reparando no outro – Então você ainda está aí, Ribeiro?
- Estava à espera que o Sr. engenheiro acabasse esse trabalho para falar consigo.
- Já lhe disse para não me chamar Sr. engenheiro. Não gosto. Pode chamar-me engenheiro Nóvoa se quiser usar o título, mas sabe muito bem que não gosto muito disso. O meu nome é Duarte Nóvoa – ralhou o “manda-chuva”.
- Pois é! Mas estou habituado a meter sempre o engenheiro e agora, se não usar, não me sinto bem – justificou-se o Óscar.
- Mas afinal qual é o problema, oh Ribeiro? – interrogou o Nóvoa.
- Queria pedir-lhe autorização para logo à tarde me deixar sair. Tenho uma consulta marcada no oftalmologista às quatro horas. Mas eu ainda venho cá depois porque o Sr. engenheiro Nóvoa pode precisar de mim – disse o homem.
- Está muito bem! É sensato olhar pela saúde e a visão deve ser bem vigiada – autorizou o engenheiro.
E continuou:
- E está dispensado para o resto da tarde. Você passa cá muito tempo e até lhe faz bem ir apanhar ar fresco. Senão ainda fica mais doente estando sempre aqui metido.
- Muito obrigado, Sr. Engenheiro! – agradeceu o Óscar – Mas eu gosto de estar aqui porque acho que devo dedicar o máximo de tempo à empresa que me paga.
- Eu agradeço muito a sua dedicação, Ribeiro, mas não quero que prejudique a sua vida privada e familiar. Salvo em situações excepcionais – disse o chefe.
- Sabe que, se não estou cá eu, muitas das outras pessoas não tem tanta dedicação à firma e alguns assuntos ficam adiados. Eu procuro resolver tudo de imediato.
- Eu sei da sua dedicação, Ribeiro! Não precisa de ma lembrar. – afirmou o Nóvoa, já um pouco fatigado dos salamaleques e auto-elogios do outro – Pode retirar-se e, se me fizer o favor, peça ao Nogueira para cá vir.
- Acho que o Nogueira não está cá! Mas eu vou procurá-lo e se estiver eu dou-lhe o recado – prontificou-se o “lambe – botas”.
- O Nogueira não está cá? Mas ninguém me disse nada! – admirou-se o Duarte.
- Eu não tenho a certeza, mas vou já tratar disso. Com licença! – e saiu da sala, o Ribeiro.
- Até que enfim! Este tipo é pior que uma carraça! – desabafou para consigo o Director do Departamento.
Passados alguns minutos, apareceu novamente o Óscar.
- O Sr. Engenheiro dá licença? – perguntou.
- Diga lá, Ribeiro!
- Estive a procurar o meu colega Nogueira mas não o encontrei.
- Mas ele saiu e não disse nada? – perguntou, um pouco irritado, o responsável.
- Parece que saiu e não disse nada a ninguém – enfatizou o “graxista”.
- Isto assim não pode ser!
Mas eis que surge à porta um terceiro homem!
- O engenheiro andava à minha procura?
- Oh Nogueira! Afinal você está cá!
- Estive sempre! Mas de vez em quando tenho umas necessidades fisiológicas para satisfazer – disse o recém-chegado enquanto olhava com cara de poucos amigos para o Ribeiro.
- Entre e sente-se! E você, Ribeiro, pode retirar-se. Já não preciso de si, por enquanto – ordenou o Director.
- Então, com a sua licença, Sr. engenheiro!
E o Óscar Ribeiro saiu, a pensar:
- Este sacana vai ter de me dar um bom aumento! Nem que tenha de passar cá dentro 24 horas por dia.
26 Comments:
lololol, Este sim, gostei:))))Típica caricatura e sárira de como escreveste do "lambe botas". Chega a ser irritante! Muito bom! Estás perdoado do último post. gargalhadas:)))) beijos
*sátira
xiiiiiiii António, o que eu detesto os lambe-botas. São intragáveis! Já fui directora geral em duas situações profissionais distintas e, sempre encontramos "Oscares Ribeiros" em todos os sitios.Não tenho a minima pachorra e faço logo saber rssss.
Até o nome do cromo está bem colocado rsss (sem ofensa para os Oscares que não sáo lambe-botas) ahahah
Beijinhos
Ana Joana
Para "ana joana":
É com prazer que te vejo aqui de novo.
Só não percebi porque achas que o nome está bem colocado.
Foi escolhido ao acaso...eh eh
Beijinhos
Eu cheiro estes graxistas à distância. Tenho-lhes um nojo tal... Enfim, são feitos de tanta manteiga que, se estou ao pé de um, até me sinto gordurosa! :)
Óptimo!! Bem descrito o estilo 'lambe botas'!! Odientos, execráveis e insuportáveis!! Apetece desatar à chapada...ao 'lambe botas', não a ti, óbvio!! Beijinhos, gostei muito.
Olá António! Esta figura típica do "lambe-botas", inconveniente e intragável também já me calhou em sorte... Espécie execrável, pronta a se necessário for passar a primeira rasteira àqueles de quem se diz amigo... Paradigmático este teu diálogo de gente, que me divertiu (lol) Beijo
Olá amigo...
Destes é o que mais existe por aí... lol
Até se esquecem da familia ou vida pessoal para satisfazerem o ego...
Quero agradecer as tuas palavras no Bufagato e sim...
A revolução continua...
até porque os ideais desta ainda não findaram...
Liberdade
Igualdade
Fraternidade
Estas duas, ainda não chegaram...
será que foram utópicas?
Abraço
Luís
São uns tristes coitados!
Os patrões detesta-os, mas aproveita-se deles!
Desprezados pelos colegas de trabalho!
São os primeiros a irem embora em ocasiões de desemprego!
Seres odiados!
Engraçado, o único “lambe-botas” com quem trabalhei chamava-se Ribeiro (hoje está reformado e o ar mais puro)
Esta crónica está formidável!
Lembras-te de temas que todos conhecemos, jamais escreveríamos!
Magnífico!
Sempre de parabéns!
Bjs,
GR
Mas que cromo!!!! - diria a Maria João se aqui viesse ler-te.
O que é mais curioso é que esses cromozitos estão a proliferar e começam cedo!!!...
O problema é que há alturas, sabes, em que fazem um jeitaço do caramba aos ditos Senhores Engenheiros. (Pois!...)
Já estou como a Ana Joana: - São intragáveis!
Na minha área de trabalho, vou-te dizer, ele é cada Óscar Ribeiro e cada "Oscarina"!...rsss...Até sibilam, nos corredores.
Haja pachorra!
........
Vais buscar temas óptimos!
Como desliza essa caneta, Amigo!
Beijo e mais uma vez, obrigada por fazeres com que não pense no "resto" que tanto me preocupa.
***
Bom resto de noite, António e, bons Diálogos de gente :-)
Não gosto deste Ribeiro, mas continuo a gostar destes teus textos.
Continua a deliciar-nos.
Beijinhos
Varios SORRISOS durante a leitura e, parei, aqui*:
"- Já lhe disse para não me chamar Sr. engenheiro. Não gosto. Pode chamar-me engenheiro Nóvoa se quiser usar o título, mas sabe muito bem que não gosto muito disso. O meu nome é Duarte Nóvoa – ralhou o “manda-chuva”."
.........
Prossegui, sorrindo ja' de "orelha a orelha"! e... no FIM, uma GARGALHADA!.......
E, os "Deuses" nos livrem de "OSCARS RIBEIROS"!!!!!!!!!!
_ANTONIO*,
Meu caro Amigo, impagavel!
Seus TEXTOS*****, para alem do prazer que me dao ainda sao uma OPTIMA TERAPIA:_estou ficando velha e chata_!
Deixo-LHE MEU ABRACO!
FIQUE EM SAUDE!
Heloisa.
************
íiiiiiiiiiiiii esse Ribeiro é do pior! eu cá não queria um trabalhador desses na minha empresa, não! pode ser trabalhador mas parece ser mentiroso e gosta de passar a perna aos colegas! muito mau!
Olá António. Desde pequena que ouço dizer "é fugir dos sonsos!" e este Óscar lambe-botas faz parte deles. Infelizmente há muitos por aí à solta como há muitos superiores que deles se aproveitam. Conheci alguns desde operários a Drs mas estes últimos são mais perigosos.
Escreves muito bem e agarras quem te lê e sabes onde e como aplicar uma pitada de humor. Ingredientes necessários para um livro. Quando sai o teu?
Um bjinho e uma flor
Para "GR":
Obrigado por mais uma visita!
Sabes que é sempre um prazer receber e ler o teu comentário.
Beijinhos
Ola António!!!
Bem, desconhecia o teu jeito inato p a escrita. Está de facto mt bom. Quem me dera... Cm n tenho esse jeito vou-me contentando em ter escrever no meu blog coisas da vida de uma comum mortal. :)
Beijos.
Este Ribeiro não dá ponto sem nó! Muito divertida, esta história! ;)
Meu Ilustríssimo Migo António:
Teus pedidos são uma ordem... ;-)
Seja feita a tua vontade, mudei o template antes do previsto só por tua causa, heimmm...
Jinhos ternos
Ps:Escovas destas como mencionas neste teu texto, infelizmente encontram-se em todo o lado...
Queres ver que visitaste o serviço onde trabalho ?ah!ah!A sério quando li senti um tremelique cá dentro,caramba terça feira regresso ao serviço onde há um lambe botas destes,grrrr!Se sei o o que isto me irrita!!!!!
Irrita?Isto derperta-me uns instintos que nunca tive,apetece-me abaná-lo,que figuras ,que tristeza,não se enxergam!
Mas este chefe é um chefe inteligente,gostei,porque há cenários mais horripilantes quando o chefe gosta destes artistas,de ter séquito e então junta-se a fome com a vontade de comer...
Bem,então mais uma vez a prova da sua qualidade menino António,na escrita mas (e não me venhas com coisas!)nos olhos de ver o que misturado em doses perfeitas dá um resultado excelente.
Cá nos tens,deste lado,como mereces!
Beijinho grande,boa noite!
margarida
Ora, se calhar tinha mais piada se por qualquer razão esquizofrénica de perturbação mental do mais alto grau e interesse, o excelentíssimo Óscar Ribeiro, não fosse graxista mas antes uma entidade paranormal de grande conveniência por parte das multinacionais!!! Mas gostei...
Para "margarida":
Obrigado pela visita e pelo comentário.
Haveria outros tipos de "lambe-botas" a caracterizar; optei por este.
Já é um exemplar que merece a pena expôr...eh eh
Beijinhos
Passo e deixo outro ABRACO e, ROSAS DE MAIO!!!!!
_Tenha um excelente DIA!
Heloisa.
**********
Muito bem caracterizada a personagem "lambe botas", e muito bons os diálogos.
Beijinhos
saudades dos teus diálogos
tão bem descrito, um "lambe botas" perfeito
pegas em cada tema tão verdadeiro,
e tantos há por aí, onde o ego fala mais forte que a vida de cada um, esquecendo a sua maneira se saber estar, saber ser ...
beijinhos meus, muitos para ti António
lena
Para "sonamaia":
Minha querida amiga!
Obviamente que existem e existirão tipos deste género.
Quantos eu conheço! Uns mais subtis, outros mais ostensivos e os piores de todos: os delatores.
Obrigado pelo "comment".
Beijinhos
lindo! este blog tem textos deveras interessantes. dsd já os parabéns pelos excelentes pedaços de prosa . (sem graxismo, hehe)
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