Eu sou louco!

Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças! (este blog está registado sob o nº 7675/2005 na IGAC - Inspecção Geral das Actividades Culturais)

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segunda-feira, maio 01, 2006

Diálogos de gente (X) (Três no escritório)

Margarida Torres e Teresa Brandão eram as duas únicas ocupantes de um dos gabinetes da Contabilidade na empresa onde trabalhavam
Ambas casadas, na casa dos trinta e tal, eram duas bonitas mulheres, casadas e com um filho cada uma.
Mas a primeira vestia-se de forma mais provocante, era mais sensual, e não havia homem que ao passar por ela não a olhasse de forma mais ou menos concupiscente.
- Bom dia, minhas lindas – saudou o colega Tomás da Costa mal entrou na sala de ambas.
- Bom dia, Tomás! – responderam em uníssono.
- Oh menino Tomás! Não vens chatear a gente, pois não? – perguntou a Margarida.
- Mas eu não te chateio, Guidinha! – ripostou o homem – Como é que eu podia chatear a mais bela mulher à superfície da Terra? Ai minha querida! Quando é que vens cair nos meus braços?
- Lá vens tu cantar-me a canção do bandido! – disse a Margarida – Vai fazer o teu trabalho que é para isso que te pagam. Não é para vires aqui desviar-nos a atenção do que temos para fazer.
Mas o Costa, quarentão recentemente divorciado, não desarmou:
- Guidinha! Eu para produzir trabalho com alto rendimento preciso de vir aqui ver os teus lindos olhos verdes, sentir o perfume que exalas do teu corpo de ninfa, cegar-me com o brilho dos teus cabelos doirados, inebriar-me a escutar a tua voz sensual.
Nenhuma delas conseguiu evitar um largo sorriso, mas a loira aconselhou, tentando ser muito séria:
- Pronto! Agora que já te inspiraste, podes pôr-te a andar!
- Agora sim, vou trabalhar! O dia que nasceu turvo para mim, já se iluminou – e saiu, sorrindo, o Tomás.
- Coitado do homem! – disse a mais discreta Teresa, que contrastava com a amiga por ter uns cabelos e uns olhos muito negros e arranjar-se de uma maneira mais simples.
- A mulher pôs-lhe os cornos e agora nós é que temos de o aturar a ele mais às suas carências – comentou a loira.
- Mas deixa-me dizer-te, Guida! Ele anda perdidinho por ti! – afirmou, num tom de quem tem a certeza, a morena.
- Isso sei eu! Mas está com azar! De mim não leva nada! – respondeu, peremptoriamente, a visada.
Tocou o telefone, a Teresa atendeu e a conversa morreu ali.
Tinha decorrido mais ou menos meia hora quando:
- Aqui estou eu de novo, Guidinha! – disse o Tomás enquanto entrava.
- Outra vez? – fingiu admirar-se a loira.
- Já estava a perder inspiração e tive que vir aqui à fonte absorver mais uma dose – disse o colega.
- Então inspira-te caladinho e põe-te na alheta depressinha, está bem? – ordenou a Margarida.
- Ok! Eu não digo mais nada! – afirmou o Tomás, calando-se e aproximando-se devagarinho da Guida que estava atenta ao que lia nuns papéis.
Postou-se ao lado dela e passou-lhe a mão, suavemente, pelos cabelos.
- Oh Tomás! Tu és demais! – refilou a mulher – Ainda apanhas uma bofetada! Ai apanhas, apanhas!
- Eu só estou a fazer o que mandaste! – justificou-se o homem – Inspirar-me em silêncio. Mas só tocando-te consigo ter alento e talento para mais de meia hora. Olhar-te, só alimenta a carga para trinta minutos.
- Olha, Tomás! O que tu querias sei-o eu. Mas estás com azar. Comigo não te safas – avisou a Guida.
- Nunca se sabe! Nunca se sabe! – disse ele em tom de desafio.
- Se estás à minha espera, bem ficas divorciado o resto dos teus dias. Divorciado e a seco – avisou de novo a loira.
- Queres vir tomar um cafezinho comigo? – convidou o homem, mudando o rumo da conversa.
- Daqui a pouco vou mas não é contigo, não! – disse, secamente, a Margarida.
- Bom! Já recarreguei para uma horita, mais ou menos. Vou trabalhar até à próxima carga – disse o homem, saindo a sorrir, como sempre.
- Oh, Guida! Se não te impões de uma vez, ele não te larga! – aconselhou a Teresa.
- Eu sei! Mas, no fundo, até gosto de ouvir alguns dos piropos que ele me diz – confessou a loira.
- Tu lá sabes! Mas o comportamento dele configura perfeitamente um crime, ou lá o que é, de assédio sexual – disse, convictamente, a morena.
- Deixa lá o homem! Qualquer dia arranja uma gaja que o satisfaz e acalma logo – pôs a Guida água na fervura.
- Não sei, não! Olha que ainda estava com a mulher e já te fazia rapa-pé.
- Eu sei, Teresa! Mas era poucochinho – disse a outra.
- Olha, Guida! Só te digo que se não o pões em sentido, qualquer dia ele pode chegar a extremos que tu nem estás a imaginar.
- Não dramatizes, Teresa! Eu sei pôr-me no meu lugar! – e a Margarida sossegou a colega.
- Espero que o teu lugar não seja debaixo dele! – preveniu a Teresa.
- Oh filha! Parece que estás com ciúmes! Já viste que o homem até é bem jeitoso?
O telefone tocou e a morena atendeu.
- Pois é, queridinha! Tens é dor de cotovelo! – pensou a Guida.

26 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Bem, de vez em quando venho cá. Mas hoje deliciei-me com este "diálogo de mulheres" :-)

Não sei de onde veio a inspiração, mas que está magnífico e real... isso está!!

Boa percepção de uma parte da psicologia feminina ;-)

Um óptimo dia!

Bjs

2:49 da tarde  
Blogger Papoila said...

Olá António. Diverti-me com este diálogo da gente. E muito! E posso garantir-te que este é um diálogo de mulheres´... Tu conseguiste apanhar muitos dos "tiques" de quem trabalha no feminino... Beijo

2:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá, António!
Já estava com saudades. Cá estou de novo!
Magnífico diálogo no feminino. Parabéns!
Bjos

3:35 da tarde  
Blogger Su said...

como sempre é um prazer ler.te

6:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Continuas-me a surpreender, com os diálogos no feminino!
É exactamente assim, parece escrito por uma mulher. Mas como também penso (não sou a única) que não há uma escrita no feminino e outra no masculino! Mais um texto magnífico.
O Tomás não desiste e… acredito que vá conseguir! Pois está claro, determinação e continuidade no seu propósito. Não é assédio sexual, uma vez que a Margarida está a aceitar e gostar (talvez vá alinhar) com o Tomás. Já a Teresa ou é severa, no relacionamento com as pessoas, no local de trabalho!!! Ou está um bocadinho despeitada!
Gostei muito deste texto no local de trabalho, no Dia do Trabalhador!

Parabéns.

Um beijo,

GR

7:44 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Então hoje temos festa...ups,quero dizer,alegria no trabalho!muito bem...escrito e mete uma Guidinha e tudo,se tu soubesses o que engalinho com essa da Guidinha,ah!ah!Pois,não digo não,porque sim...lembras-te do Corin Tellado?(era assim né?)aquelashistóriasdecordelrosacuecatipomexicano dos anos setenta?Ora claro não lias e eu também não mas nas livrarias e quiosques eram paletes delas!!!Bem isso só me faz lembrar essas coisadas!Mas achei que tem a ver com a produção,desculpa produtividade nacional,dois em um ,trata da vidinha e vai dando andamento ao expediente,ah!ah!bons empregos que trabalho!!!!!
Ah!claro,a outra estava preocupadíssima,o costume!!! mas olha que isto está a mudar e só para não estares com funfuns ficas a saber que há homens (resmas não mas muitos,olaré!)a porem processos em tribunal a colegas por assédio,mai nada!elas estão-se a vingar.ah!ah!
Mas pronto o artista esforça-se o público gosta,está tudo bem e outros farão o trabalho(que remédio!) e também não azedará..digo eu!ah!ah!
E o senhor engenheiro está um especialista em psicologia feminina,sim senhor,tem-se debruçado(olhooooó degrau!pronto!eh!eh!) muito sobre o assunto imagino,claro,cultura geral a atirar pró específico muito bem...hum,tu és o máximo!
Ah!ah!
Beijos
margarida

8:17 da tarde  
Blogger wind said...

Muito bom este diálogo "estória". Por um lado a caracterização de um recém divorciado "cornudo, cujo comportamento é típico, e muito bem descrito, embora a mim me irrite solenemente, juro!.)
Por outro, a loira até gosta de ser o alvo das atenções do fulano, porque embora a colega lhe chame a atenção até para um suposto "assédio sexual" (que para mim é o que esá a acontecer), ela vibra, porque como mulher julga-se a maior.
Bem pensada esta situação:))) Parabéns:-)
beijos

9:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Excelente António:)

Diálogo de Mulheres realmente
...o final diz tudo.
Pois...
90% dos meus amigos
são Homens.Vamos lá saber porquê!?

Mas...aqui temos tb
um belo exemplar
de um Diálogozinho de Homens.
Carentes ou não...são
todos mt parecidos nessa
falta de inspiração.

Um beijo meu querido
A.de nós...
meu querido A. de Gente ;)

10:27 da tarde  
Blogger António said...

Para "GR":
Obrigado pelo comentário.
Inicialmente pretendi retratar um caso de assédio sexual.
Mas, conforme fui teclando, fui-me entusiasmando com as personagens femininas que se resolveram confrontar e...saiu o que saiu.

Beijinhos

9:03 da manhã  
Blogger Maria Carvalho said...

Bem escrito como sempre. Quando ao assédio, até está discreto. Já assisti a mais cerrados. Beijinhos.

9:16 da manhã  
Blogger António said...

Para "margarida":
Obrigado pela visita.
Acho que cheguei a ler um ou dois livros do Corin Tellado.
Sei que li vários livros de uma colecção foleira de aventuras no Oeste (americano).
Tudo faz parte da busca.
Mais tarde tornamo-nos mais selectivos.
Mas claro que o assédio não tem só um sentido. Apesar de tudo, penso que ainda é predominante esse tipo de comportamento por parte dos homens.
Confesso que estou surpreendido com a forma como tu e quasi todas as pessoas do sexo feminino que comentaram, aprovaram a minha abordagem das personagens femininas.
Resultado:
O próximo Diálogo vai ser uma conversa entre mulheres.
Veremos se depois não caem todas em cima de mim (em sentido figurado, claro...eh eh)

Beijinhos

9:16 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

... olhos verdes,ah ah ah
Concordo com a Paula Raposo- que não foca o dialogo das mulheres,porque não o sinto como tal.
beijinhos
Ani

12:07 da tarde  
Blogger António said...

Para "Ani":
É um prazer receber a tua visita na minha humilde casinha.
Obrigado pelo comentário.
Volta sempre que serás bem recebida.

Beijinhos

4:18 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu passei por aqui pela primeira vez e li este post duma ponta à outra sem me cansar:). Acho que realmente está bem escrito e fiel ao que se passa com muitas "amigas" que por ai andam e que nem uma com a outra conseguem ser honestas!
Não me enquadro no género apesar de ser loira arrebitada e ter uma amiga morena e...arrebitada também:), mas porque já estou naquela fase em que digo tudo como os malucos:)).

Boa semana, vou passando!

7:32 da tarde  
Blogger pinky said...

xiiiiiii as mulheres são mesmo terriveis, sempre ao despique...

8:34 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

porquê meu A.? :)

porque...ASK=amor
e...IM=meu
Meu Amor...numa língua
diferente.
o nome que alguém me
deu para me chamar.askim.
...num tempo que já foi.

és A.de louco sim :)))
...e eu gosto.
beijos muitos A.ntónio
das loucuras de gente.

1:14 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Mas não é à toa que eu te apelido de Sábio...

Olha que quem escreve assim sobre as ninas, tem cá uma bagagem...

"Vou-ti contarrrr" (esta parte é pra ler com sotaque brasileiro ok? ;-)


Jinhos ternos

2:09 da tarde  
Blogger lena said...

e hoje dois, isto por andar tão ausente

delicioso de novo, um autentico diálogo de "mulheres"

essa tua psicologia anda em alta

uma vibra pelo elogio, que lhe sabe bem e a outra com uma ligeira "dor de cotovelo"

e parabéns está muito bem escrito, como já nos habituaste


beijinhos para ti António e continua que adoro ler-te


lena

4:50 da tarde  
Blogger Leonor said...

dor de cotovelo e das mais fortes. as mulheres são terriveis... rsss, falsas como judas.

estes diálogos estão muito reais. e é exactamente os diálogos que tornam os textos interessantes de ler.

abraço da leonoreta

9:22 da tarde  
Blogger Amita said...

Olá António. Não pude deixar de soltar uma gargalhada com o final inesperado.
É como eu digo, em cada conto ou diálogos de gente uma nova surpresa. Quantas mais terás na manga? (lol) És um bom observador. Será muito forte classificar como assédio;diria talvez que não há nada como atirar o barro à parede... Pelos vistos ele não se cansa e ela gosta, claro. A relação das duas é o ponto fulcral da história que em poucas palavras descobres no final.
Adorei ler-te.
Bjinhos meu amigo

Ah e uma flor.... (lol)

10:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Bom dia António!

Rsss apetece-me dizer que soltaste a mulher que há em ti! eheheh e apanhaste logo o seu lado mais preverso! Boa! A competição, o desejo de ser mais desejavel do que a amiga ou outra, desencadeia um conjunto de sentimentos que, em ultima analise, visam acabar com a outra! eheheh

As mulheres podem ser terriveis! (mas tambem têm muitaaa coisinha boa)

Beijinhos
Ana Joana

10:14 da manhã  
Blogger mitro said...

O meu amigo nos diálogos é o máximo!
Adorei este e até tava contar com mais um cadinho! MAs pensando bem até termina ocmo esperava.
Continua António!

12:59 da tarde  
Blogger António said...

Para "ana joana":
Perante tantos encómios relativo à minha boa interpretação da psicologia feminina, o próximo diálogo será só entre duas mulheres.
Depois não digas que saiu uma borrada!
ah ah ah

Beijinhos

1:15 da tarde  
Blogger António said...

Para "mitro":
Não consegui chegar ao teu blog (se é que tens algum).
Também não sei de és homem ou mulher.
De qualquer modo, obrigado pelo comentário.

Abraço ou beijinhos (conforme...eh eh)

1:18 da tarde  
Blogger Heloisa B.P said...

ESTOU RINDO!...Penso, que dispensa mais palavras (minhas!)!
So' nao resisto a destacar este fINAL:

"Olha, Guida! Só te digo que se não o pões em sentido, qualquer dia ele pode chegar a extremos que tu nem estás a imaginar.
- Não dramatizes, Teresa! Eu sei pôr-me no meu lugar! – e a Margarida sossegou a colega.
- Espero que o teu lugar não seja debaixo dele! – preveniu a Teresa.
- Oh filha! Parece que estás com ciúmes! Já viste que o homem até é bem jeitoso?
O telefone tocou e a morena atendeu.
- Pois é, queridinha! Tens é dor de cotovelo! – pensou a Guida."
.................................POIS!!!!!!
Fica um ABRACO!E...UM SORRISO, LARGO!!!!!!!!
Heloisa.
**********

7:58 da tarde  
Blogger António said...

Para "sonamaia":
Minha querida amiga!
De facto, não me inspirei em cenas reais (muito menos em mim...eu sou demasiado tímido para assediar ou fazer algo de parecido); é pura ficção!

Beijinhos

6:34 da tarde  

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