Eu sou louco!

Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças! (este blog está registado sob o nº 7675/2005 na IGAC - Inspecção Geral das Actividades Culturais)

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quarta-feira, outubro 04, 2006

Uma família burguesa - parte II

Ricardo Jorge é o filho mais velho do casal Costa Pinto.
Com trinta e seis anos de idade, alto e moderadamente magro, é parecido com o pai. De olhos e cabelos castanhos, estes levemente ondulados mas sempre com um bom corte e penteados com gel em abundância, ostenta um certo ar de galã do cinema, anos cinquenta.
Formado, como o progenitor, em engenharia electrotécnica, dedicou-se aos computadores e criou uma empresa do ramo em 2003 tendo como sócio o engenheiro informático Mário Jorge Gomes que conhecera numa empresa em que ambos haviam trabalhado.
O escritório da Rimafor fica na Maia, onde vive desde o final desse ano após se ter casado com Bárbara Mendes, mais nova um ano, com quem tinha uma relação já antiga. Tem um filho com dois anos, João Paulo, o Jocas.
Possui um Honda Accord que conduz normalmente com velocidade excessiva.
Os três residem num bom apartamento muito perto do infantário de que Bárbara é sócia maioritária, ela que, por formação, é educadora de infância.
Alta, elegante, loira natural com cabelos lisos e pendentes sobre os ombros, com uns olhos azuis muito claros numa cara bonita, mais parece uma mulher da Europa Central.
Ana Maria é a segunda filha do casal António José e Maria Helena.
Com trinta e cinco anos, estatura média para a sua geração e elegante, tem também cabelos castanhos, mas pintados de loiro.
Casou com Francisco Torres com apenas dezoito anos mas o casamento só durou cinco. Aos vinte e três estava separada e o divórcio não demorou muito pois foi por mútuo acordo. Dessa relação ficou uma filha, Maria Cláudia, agora com 14 anos e que frequenta o 9º ano da escola de Aurélia de Sousa. A tutela da adolescente foi atribuída à mãe.
Só depois da separação é que frequentou um curso de secretariado exercendo actualmente a profissão numa empresa da Boavista.
Não voltou a casar nem a ter mais nenhuma relação durável.
Tem um temperamento instável que pode estar ligado a essa lacuna na sua vida.
Viveu vários anos, só com a filha, num apartamento mas decidiu aceitar o convite dos pais para ir morar para a casa das Antas, após as obras.
Joana Isabel é a terceira filha de Tó Zé e Lena.
Com trinta e dois anos, da altura da irmã mas um pouco mais roliça, é a que apresenta menos semelhanças com os progenitores. Os olhos negros e os cabelos longos e ondulados da mesma cor azeviche, dão-lhe um ar muito hispânico.
É casada há sete anos com um seu antigo professor do curso de Filosofia que frequentou e concluiu, sendo hoje professora dessa disciplina no secundário, em Penafiel, para onde se desloca no seu Golf.
Vive num bom apartamento em Leça da Palmeira com a exclusiva companhia do marido, Manuel António Félix, pois não tem filhos.
O marido é mais velho, quarenta e seis anos, de estatura baixa e um pouco anafado, mas os seus cabelos grisalhos, tez morena, olhos azuis, dentes alvos e bem alinhados num sorriso bonito, um timbre de voz especial, bom conversador, fazem-no parecer uma espécie de sedutor de balzaquianas.

Estamos numa quente noite de início de Setembro.
Depois do jantar em que estiveram presentes os cinco membros da família que habitam a casa, disse o Costa Lima:
- Lena! Vou para a sala da cave. Quando puderes aparece lá porque gostava de falar contigo.
A mulher parou, olhou para ele e respondeu:
- Humm... Essa maneira de falar traz água no bico. Que se passa? Não ias dar um passeio com o Armando?
- E vou! Ele passa por cá. Por isso gostava que não demorasses, sim? Ah... não é nada de especial, mas gostava de trocar umas impressões contigo.
E o Tó Zé desceu as escadas.
- Aqui há gato! – ficou a matutar a dona da casa.
Pouco depois a Maria Helena apareceu na fresca sala onde o marido via TV. Mal a viu, ele desligou o aparelho e indicou o local onde a mulher se devia sentar. Em frente a ele.
- É o seguinte, Lena! A Ana Maria está separada há mais de onze anos. Viveu durante seis anos só com a filha e, tanto quanto sabemos, teve uma vida um tanto desbragada. Felizmente havia sempre alguém que tomava conta da Claudinha, mas não me pareceu que aquela situação fosse muito boa para a formação da miúda. Convidámo-la a vir viver para cá há cinco anos. Reconheço que também houve um certo interesse da nossa parte pois a tua mãe já tem oitenta e um anos e mais uma pessoa pode ser útil no caso de ela ficar acamada ou precisar de um grande apoio.
- Sim! E aonde queres chegar? – interrompeu a mulher.
- Calma! Já lá vou. Dizia eu que a nossa filha levou durante seis anos uma vida desregrada. Infelizmente parece que continua. Agora a nossa neta já não me preocupa tanto, mas a Ana precisava de assentar. E não vejo nada! Tu sabes alguma coisa que eu desconheça? – revelou, finalmente, o que pretendia saber, o engenheiro.
- Oh Tó! Sabes que ela não faz grandes confidências. Tem o seu grupo de amizades e provavelmente é com algum ou alguns deles que se abre. Connosco não, e com os irmãos idem – respondeu a Helena.
E continuou:
- Mas, se fosse a ti, não me preocupava tanto. Ela ficou muito zangada com a instituição matrimónio depois do primeiro casamento...
- Mas, as mulheres procuram sempre um novo homem. – cortou o António José – Este tipo de comportamento salta-pocinhas é mais habitual nos homens.
- Pois é! Mas provavelmente ainda não encontrou o ideal – opinou a Lena.
- E entretanto vai experimentando os tipos todos do Porto e arredores. É pena no meu tempo não ter sido assim... – disse, irónico, o pai da Ana Maria.
- Não sejas mauzinho, António! Se calhar já encontrou mas não é um tipo disponível. E como não lhe interessa mais nenhum, vai-se divertindo com outros – sentenciou a mulher.
O Costa Lima soltou uma gargalhada.
- Afinal a devassa és tu! – disse, retomando o humor que lhe era habitual.
Ouviu-se o toque de uma campaínha.
- Deve ser o Armando! Vai-te vestindo para a passeata que eu faço um pouco de sala. E não te preocupes demais com a Ana. Ela já tem trinta e cinco anos e muita experiência da vida. Sabe o que está a fazer! – disse a professora.
- Espero que sim! Espero que sim!
E subiram ambos as escadas.
Ela ficou no piso térreo e ele foi para o quarto vestir uns jeans velhos, uma T-shirt e calçar sapatilhas.
- Deixe estar Dina, que eu vou abrir a porta. É o Dr. Borges, com certeza – disse a patroa para a empregada.
Instantes depois:
- Olá, Armando! Com o calor que está hoje vocês vão chegar aqui bem transpirados. A Inês e o João estão bons? E o teu filho e a Dora?
- Olá, Leninha! Está tudo bem, felizmente. E cá por casa?
- Tudo corre normalmente, Armando – respondeu a Lena.
- E a tua mãe? Sempre com uma saúde de ferro, não?
- Sim! Se algo correr mal tu és o primeiro a saber. És o médico mais próximo... – disse Lena com um largo sorriso.
- O nosso atleta ainda não está pronto? – perguntou o vizinho.
- Já cá vou! Já cá vou! – ouviu-se a voz grave do Tó Zé vinda das escadas.
E lá foram os velhos amigos porta fora, desta vez até ao estádio do Dragão.

26 Comments:

Blogger Mushroomdeluxe said...

Agradam-me as descrições dos espaços que acho muito policiais e as idades que se escondem nos cabelos pintados...

12:47 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá.
Gostei de ler.

Marujinha

10:32 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

A tua escrita prende o leitor, obrigado. Irei continuar atenta!
Beijos

11:58 da manhã  
Blogger António said...

Para "fatyly":
Obrigado pela visita.

Beijinhos

2:10 da tarde  
Blogger Maria Carvalho said...

É preciso estar atenta...pois, para começar a entrar em tantas pessoas diferentes. Mas está óptimo. Desta parte, destaco a preocupação do Pai em relação a uma filha, que sai da 'norma' segundo o conceito dele!! Onde é que eu já vi um filme parecido??!! Estou a brincar. Deve ser o ar mourisco que me trouxe bom humor...Beijos para ti, meu querido.

2:21 da tarde  
Blogger 4ever... or never said...

... estou a gostar... e isto de escrever por episódios prende-nos.. ( será uma maneira arranjada para virmos todos os dias "espreitar" o blog??.. eu, que nao gosto de telenovelas, estou a interessar-me por saber mais da vida desta familia.... estarei a ficar "cuscuvilheira"??
ah ah ah

4:48 da tarde  
Blogger wind said...

Continuas com as descrições ao pormenor. Aguardo mais acção:)
beijos

4:59 da tarde  
Blogger Lmatta said...

esta linda
gostei
beijos

5:39 da tarde  
Blogger Leonor said...

ah, mas eu nao me referi ao facto de o texto ser fácil ou dificil. fiquei surpresa por ires ja no segundo episodio. nao estou a recriminar nem tenho nada que faze-lo, rsss, pelo amor de dues, era o que mais faltava. a questao é que "estou a ficar atrasada".

abraço da leonoreta

6:51 da tarde  
Blogger magarça said...

Estou curiosa para saber em que é que vai dar a preocupação paternal. E com uma família tão numerosa deves ter muitas aventuras na manga!

7:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

António,

Nestas famílias bem estruturadas há também, problemas como em qualquer outra, só que são mais soft, pois o dinheiro ajuda muito!
Eu jamais iria viver para casa dos meus pais. Visitas diárias, ajudar em qualquer coisa necessária, tudo bem mas, viver, depois tinha um “Tó Zé” a dar palpites, uf!!!
Estou a gostar muito das descrições.
Temos que estar com muita atenção, com tantos personagens.
Que pena todos os dias não ser domingo, saberíamos rapidamente o fim deste enredo que já começou!

Bjs,

GR

11:58 da tarde  
Blogger António said...

Para "GR":
Olá, Guida!
Obrigado pelo "comment"!
Olha que eu ainda não sei o fim.
Tenho ideias razoavelmente precisas dos primeiros 17 ou 20 episódios. Doze já estão escritos. Depois...

Beijinhos

12:12 da manhã  
Blogger Papoila said...

António:
Sabes que gosto de ler-te, dos teus diálogos da descrição das cenas onde se mexem as tuas personagens.
Beijo

3:33 da tarde  
Blogger Heloisa B.P said...

Eu, ando aqui a tentar DESTACAR esta parte ou aquela... mas... acabo por desistir de DESTACAR PARTES, porque, *O TODO SERIA DESTACAVEL*!!!
assim digo "prosaicamente":_EXCELENTE_!!!!

Voltarei a procura da continuacao!
UM ABRACO!

Heloisa.
**********

3:41 da tarde  
Blogger Peter said...

Muito interessante o diálogo entre os pais de Ana Maria.

6:30 da tarde  
Blogger Leonor said...

Ufa! Estava com medo de chegar aqui, depois do desaire de fim de semana de apanhar dois episódios atrasados, e dar-me de caras já com outro, mas … escapei.

Finalmente pus a leitura em dia. Realmente, um pouco complicado a parte da apresentação na medida em que aparecem logo todos os personagens ou quase todos de repente, muito pormenorizado e não estou a falar de defeito, mas feitio.

Mas com a continuação vamos sabendo quem são e em caso de duvidas podemos sempre voltar atrás.

Ora bem! No segundo episodio começamos com uma analaepse (eu sou boa nisto, nas analepses e prolepses, também não custa nada, rasss). A meio do texto uma cena encaixada noutra cena.

Eu gosto de fazer isto: descortinar a técnica da escrita. Muitas vezes perguntam aos escritores qual foi a intenção dele ao escrever daquela maneira e ele geralmente responde: nenhuma, saiu assim.

Pela leitura feita salta logo à vista uma família com alguns princípios mas só de fachada (esperemos pela nódoa no melhor pano). São todos muito bonitos e elegantes.

Seja como for… tu vais ao pormenor da altura do muro da moradia da família?!!!!!!


abraço da leonoreta

8:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Nao, por acaso, não sei escrever, pelo menos, não ´criar estes enredos que tu crias. Tenho pena. Mas sei navegar, lá isso sei. Mas não me perguntes os nomes das velas, OK?

Beijinho da Marujinha

11:17 da manhã  
Blogger BlueShell said...

Gostei da parte da "devassa"...

Mas também gostei do ambiente!
baralhei-me nos casamentos...mas já atinei!

Jinho e PARABÉNS!!!!
BShell

5:14 da tarde  
Blogger Kalinka said...

OLÁ ANTÓNIO

Fiquei presa à sua escrita. Envolveu-me e senti-me deliciada acompanhando a história.
Descrições ao pormenor, essa também a minha forma de escrever, comentada por alguém ligado à Imprensa.
Mas, 12 episódios escritos é obra...
Quem me dera estar reformada e, passar o meu tempo envolvida na escrita!!!
Bom fim de semana.
Abraços.

5:16 da tarde  
Blogger António said...

Para "sonamaia":
Olá!
Obrigado pelo comentário.
Ainda bem que tocaste na questão do bom aspecto físico das personagens.
Tratando-se de pessoas razoavelmente abastadas, portanto com possibilidades para frequentarem ginásios, esteticistas e cabeleireiros (como aliás acontece na vida real), sendo que duas das mais velhas personagens andam muito a pé, sendo que as personagens tem quasi todas menos de 40 anos, sendo que ainda faltam aparecer várias outras personagens, sendo que a empregada é gorda, o Manel também é anafado e baixo, e até o cardiologuista é forte, sendo que eu conheço muitas pessoas reais dessa classe social, não alteraria de forma significativa a caracterização que fiz.
(portanto, não há candidatos a top-model, tão somente pessoas que podem e querem cuidar de si; não é assim na classe média alta?)

Beijinhos

5:49 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querido António

Sempre - rica - envolvente. Dou por mim já no meio daquela família - levada pela mão da tua escrita....

Beijinhos

6:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

e eu que tenho tão fraca memória para nomes, sei que vou voltar aqui mais vezes, para conseguir encaixar as pessoas... :)
A mesma foma cuidade e descritiva de prender a atenção e começar a envolvern a história. Um grande trabalho este, parabéns!
Beijinhos

12:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pois é, tu bem avisaste que o tempo entre os episódios seria de uns 4 ou 5 dias e eu, despassarada, agora apanho com dois :)

Após as descrições e apresentação minuciosa dos personagens, já se começa a delinear uma trama bem ao teu jeito.

Vou subir.
Até já e um beijinho.

9:43 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

A esta hora da noite(00:45 do dia 13/10/2006) já só tenho energia para copiar as partes II, III e IV para um ficheiro word, para ler posteriormente!
Vai saber-me bem!
Beijinhos

12:52 da manhã  
Blogger António said...

És muito querida, Becas!
Então lê e comenta!
Já topaste que estou a publicar uma parte de 4 em 4 dias?
Provavelmente será esse o ritmo a manter.
(mais dia, menos dia)

Beijinhos

9:26 da manhã  
Blogger APC said...

"Mas, as mulheres procuram sempre um novo homem. Este tipo de comportamento salta-pocinhas é mais habitual nos homens".
Não é isto que eu tenho visto, curiosamente. Tenho visto mulheres livres (e libertas) com os seus casos de vida mas sem pensarem em nova relação permanente para tão cedo (o acaso depois logo lhes dirá se surge um novo amor a pedi-lo) e homens "fartos de estarem sós" - com 6 mulheres para um homem, como pode isso ser e porque será? - a quererem juntar-se com alguém que lhes aqueça os pés quando percebem como dá trabalho ser-se interessante (provavelmente o metabolismo feminino vem preparado para não ter tanto frio nos pés, não sei!).
Esta foi uma tirada meio estranha, nem eu gostei lá muito de a trazer, mas mentira não é, caro "António José", lololol.

Volto em breve, que tou a ver que já perdi imenso!
Beijinhos!!! :-)

9:59 da tarde  

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