Hoje não é Dia dos Namorados
14 de Fevereiro.
Hoje faz 24 anos que faleceu a minha mãe.
Foi numa segunda-feira de Carnaval.
Na terça-feira, ao acordar, abri a persiana e olhei pela janela.
Estava tudo coberto de neve.
Nunca mais vi assim a Maia e já cá resido há 27 anos.
Será que a natureza se vestiu de branco especialmente para se despedir da mãe Julieta?
Numa sexta-feira, recebi um telefonema do meu cunhado que na altura vivia com a minha irmã e os dois filhos em casa dos meus pais. Já tinha jantado e ele disse-me que iriam levar a minha mãe para o Hospital de Santo António, para a Urgência.
Já não se vinha sentindo muito bem e tinha muitas dores nos membros inferiores, mas a situação agravara-se.
Comentei para a minha mulher:
- É o começo do fim da minha mãe!
Premonição?
Acho que não, mas tinha a certeza que tinha razão.
Fui logo para lá. Que confusão!
Finalmente lá foi para uma enfermaria.
No sábado fui visitá-la. Falei com os médicos. Não sabiam qual a causa do mal, mas inclinavam-se para um vírus que lhe teria atacado o sistema nervoso e provocado uma paralisia flácida ascendente.
No domingo foi o baptizado do meu filho. Não houve qualquer festa, naturalmente. A minha mãe tinha mandado fazer um vestido novo para usar nesse dia. Não o usou nesse dia mas foi o que escolhemos para lhe servir de mortalha.
Foi a última vez que a vi consciente.
Na 2ª feira de manhã, por voltas das onze horas, telefonou a minha irmã que, por razões profissionais se mexia bem naquele Hospital, a dizer:
- A mamã está em coma nos Cuidados Intensivos.
O horário de visita era só de meia hora e não mais de duas pessoas de cada vez.
Mas a situação agravava-se dia a dia. A causa da doença continuava mal definida. A temperatura do corpo era de 35º centígrados.
No sábado, um médico disse-me que a mãe Julieta já estava num estado de morte cerebral, irreversível.
A segunda-feira de Carnaval foi o dia oficial da morte pois foi quando desligaram as máquinas que a mantinham aparentemente com um sopro de vida. Mas era só aparentemente.
A autópsia, que não foi conclusiva, e o funeral realizaram-se na quarta-feira de cinzas.
Foi sepultada no jazigo da família em Vila Praia de Âncora. Tinha 66 anos.
Dez anos depois o meu pai foi-lhe fazer companhia.
Foi em 1983.
Faz hoje 24 anos!
Mas parece que foi ontem!
Escrevi tudo isto de rajada e não verti uma lágrima.
Acho que as gastei todas esta manhã.
NOTA: Tinha previsto colocar aqui, hoje, mais uma das minhas ”Histórias curtas”, mas o coração ordenou ao cérebro para alterar a programação.
Hoje faz 24 anos que faleceu a minha mãe.
Foi numa segunda-feira de Carnaval.
Na terça-feira, ao acordar, abri a persiana e olhei pela janela.
Estava tudo coberto de neve.
Nunca mais vi assim a Maia e já cá resido há 27 anos.
Será que a natureza se vestiu de branco especialmente para se despedir da mãe Julieta?
Numa sexta-feira, recebi um telefonema do meu cunhado que na altura vivia com a minha irmã e os dois filhos em casa dos meus pais. Já tinha jantado e ele disse-me que iriam levar a minha mãe para o Hospital de Santo António, para a Urgência.
Já não se vinha sentindo muito bem e tinha muitas dores nos membros inferiores, mas a situação agravara-se.
Comentei para a minha mulher:
- É o começo do fim da minha mãe!
Premonição?
Acho que não, mas tinha a certeza que tinha razão.
Fui logo para lá. Que confusão!
Finalmente lá foi para uma enfermaria.
No sábado fui visitá-la. Falei com os médicos. Não sabiam qual a causa do mal, mas inclinavam-se para um vírus que lhe teria atacado o sistema nervoso e provocado uma paralisia flácida ascendente.
No domingo foi o baptizado do meu filho. Não houve qualquer festa, naturalmente. A minha mãe tinha mandado fazer um vestido novo para usar nesse dia. Não o usou nesse dia mas foi o que escolhemos para lhe servir de mortalha.
Foi a última vez que a vi consciente.
Na 2ª feira de manhã, por voltas das onze horas, telefonou a minha irmã que, por razões profissionais se mexia bem naquele Hospital, a dizer:
- A mamã está em coma nos Cuidados Intensivos.
O horário de visita era só de meia hora e não mais de duas pessoas de cada vez.
Mas a situação agravava-se dia a dia. A causa da doença continuava mal definida. A temperatura do corpo era de 35º centígrados.
No sábado, um médico disse-me que a mãe Julieta já estava num estado de morte cerebral, irreversível.
A segunda-feira de Carnaval foi o dia oficial da morte pois foi quando desligaram as máquinas que a mantinham aparentemente com um sopro de vida. Mas era só aparentemente.
A autópsia, que não foi conclusiva, e o funeral realizaram-se na quarta-feira de cinzas.
Foi sepultada no jazigo da família em Vila Praia de Âncora. Tinha 66 anos.
Dez anos depois o meu pai foi-lhe fazer companhia.
Foi em 1983.
Faz hoje 24 anos!
Mas parece que foi ontem!
Escrevi tudo isto de rajada e não verti uma lágrima.
Acho que as gastei todas esta manhã.
NOTA: Tinha previsto colocar aqui, hoje, mais uma das minhas ”Histórias curtas”, mas o coração ordenou ao cérebro para alterar a programação.
40 Comments:
e dói muito meu querido amigo António
hoje não há neve, mas sim um dia lindo de sol, quem sabe se não é a tua mãe Ju e outras mães ou pais que partiram e nos quiseram brindar com este lindo dia
abraço-te António, um abraço carinhoso e apertadinho, abraço-te hoje pela força que tens tido sempre
beijinhos para ti
lena
e tenho a certeza, que hoje, dia dos namorados sim,lá de um cantinho do çéu essa mãe venturosa dir-te-ía baixinho..meu querido,nós já fomos tão amados; não te esqueças que quem ficou,vai precisar sentir em pequenos gestos,demonstraçôes de amor e carinho,que são amadas por ti.mesmo neste dia de mágoa.
sabes;o maior consolo que pude ter nas mesmas circunstancias,foi na véspera da morte do meu pai, ter-lhe dito que o amava imenso,sem qualquer desconfiança que fosse ao çéu no outro dia.
sei que dói.um abraço do tamanho do mundo.
Lamento muito, querido amigo.
A minha mãe (na verdade, avó, mas vivi com ela desde os 4 meses e logo era a minha mãe, como compreendes) morreu no dia do meu aniversário. Fará 3 anos este ano, e não mais fiz anos, na acepção de ser esse um dia de festa. Passou a ser sempre de luto.
É muito curiosa a vida nas suas rodas e círculos.
Um grande abraço para ti. O tempo não apaga nada, ao contrário do que apregoam.
Querido António.
Dar-te-ia sempre um forte abraço porque tua amiga, mas dou ainda mais porque como sabs também passei pelo mesmo, e sei...
Beijo-te terna e fraternalmente
Sem palavras...querido. Beijos. Não me deixes chorar.......António. Está lindo o teu texto. A homenagem mais bela que li...não sei, nem posso.
Meu Querido Amigo!
Uma mensagem sentida, muito carinhosa, mas uma mensagem de amor. Linda homenagem àquela que fez a maior parte, o maior quinhão do homem que és. Sei quanto te custa recordar esse momento,um dos mais dolorosos da nossa vida, inesquecível. No dia 19 de Fevereiro, faz sete anos que partiu a minha. Quantos dias de choro, quantos momentos tristes. Hoje, deixa-me dar-te aquele abraço apertado que dou aos amigos porque , embora virtual, tens muito de real, tens tudo de verdadeiro.
Até um dia destes com beijinhos.
...abraço.te menino maluco....
a dor da ausencia está sempre presente pq vive em nós....sempre
jocas muitas..ok hoje até te mando jinhossssssss
Linda esta homenagem sentida à tua Mãe. São momentos muito difíceis aqueles em que vemos partir quem nos é querido. Depois as recordações magoam por todo o tempo mas temos de ser fortes.
António, o que sinto é mais do que posso dizer-te por isso aqui vai o meu abraço.
António, Um beijo a abarrotar de carinho!
Gosto de ti, seja lá como for e se reparares, há uma estrelinha muito brilhante, no céu...
Cuida de ti, Amigo.
Dói imenso a saudade mas falar dela ameniza-a, tal como amenizada é a dor que se sente.
Pensa assim, e vais ver que bem dentro de ti vais encontrar um sorriso, que vai, direitinho para a tal estrelinha que está a brilhar, garanto-te, só, só para ti!
Beijo,
Cris
Para "nena":
Olá!
Já é a segunda vez que me comentas e da outra esqueci-me de te agradecer.
Parece que não tens blog, por isso deixo aqui o meu obrigado pelos teus comentários.
Beijinhos
Muito bem fez o teu coração António em alterar-te os planos. Acho que é ele que manda e sempre ouvi dizer que o devemos seguir. O resultado é este:partilhas uma história que te marcou mas não menos importante apesar de me afectar directamente, ler-te também mexeu comigo. Há dias que vieram para nunca serem esquecidos e este é um deles. Deixo-te um grande abraço.
Lamento muito ...não sei que dizer! A morte de um familiar é sempre dolorosa, mas quando se trata dos nossos progenitores é diferente ... é mais ainda.
Bela homenagem em jeito de desabafo que faz sempre bem à alma.
Beijinhos!
Fizeste bem em desabafares para o papel, porque são dias que nos marcam para sempre.
Beijos
lamento imenso... passei pelo mesmo fez no dia 10 deste mês um ano, não voltei a ver a minha mãe... o dia não se vestiu de branco, mas esteve um sol lindo. A saudade aperta e jamais desaparerá
AUSÊNCIA
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Sophia de Mello Breyner Andresen
bjs sentidos
Fica um abraço do tamanho do amor que uma mãe nos tem e do tamanho do amor que nós temos à nossa mãe.
Até breve
SE DEUS QUISER
ola antonio
bonita homenagem á mãe. ainda guardas tudo na tua cabeça. guaradarás sempre. é incrivel como algumas coisa nunca se apagam da memória. e ás vezes tanto esforço fazemos para se vão embora ou fiquem mais atenuadas.
abraço da leonoreta
Para "GR":
Olá Guida!
Obrigado pelo teu comentário.
Estes assomos de tristeza vão sendo cada vez mais raros, com o passar do tempo.
Mas de vez enquando batem forte.
Beijinhos
Caro António:
Cheguei a este seu cantinho através do blog da minha amiga tb.
Permita-me saudá-lo pela grande qualidade do seu blog! Li com atenção alguns dos seus contos e histórias e deixe-me dizer-lhe que tem um grande talento para a escrita. Gostei mesmo do que li.
Basta atentar neste post e ver a forma clara e lúcida com que expõe um acontecimento que lhe é muito doloroso. Passarei a ser visitante assiduo e quando tiver tempo, vou ler os seus escritos mais antigos.
Um grande Abraço.
O teu relato é comovedor e como "os amigos dos meus amigos, meus amigos são", associo-me à tua dor.
E nós sabemos tão bem o q é perder-se quem se ama verdadeiramente...
Um abraço.
... Entretanto, nunca mais te calas a perguntar-me qual é a música, qual é? E eu venho alegrar-te e dizer que é a Valsa da Amélie do filme O Fabuloso Destino de Amélie. :) Beijinhos.
Para quando mais uma das tuas belas "histórias curtas"? é PRECISO andar para a frente António ;)
bjs
ali em cima fui eu.. coff
Olá António,
Penso que só sabemos verdadeiramente o que é perder o pai ou a mãe qdo isso nos acontece. É mais que dor, é mais que revolta, é..... uma clivagem que nos deixa por uns tempinhos um bocado à toa. Numa sexta feira 13 partiu o meu pai. Foi muito feliz em vida e muito feliz na morte. É esse o meu conforto.
Beijinhos António
Ana Joana
Para "ana joana":
Olá!
É isso tudo e a estranha sensação de orfandade!
Obrigado pelo comentário.
Beijinhos
E fez bem em alterar, se o coração também assim ordenava. Faz bem à alma escrever sobre as nossas dores. Felizes dos que o conseguem!
Um abraço
Hoje aportei aqui, nem sei porquê. Demorei-me na tua homenagem à mãe. Confesso uma coisa, tambem não sei porque é que a minha se foi embora quase da mesma maneira que a tua, faz anos, bem menos que a tua mas sempre presente. Um abraço de orfãos, ao largo da Insua...
dor que não senti ainda, mas as palavras do texto fazem-me arrepiar...
Querido António
Um grande abraço_________________________O silêncio se veste de todas as palavras_______
Meu querido amigo
Vou uns diazitos, poucos, de férias para terras de nuestros hermanos e espero, no regresso, encontrar novo post, feito com o carinho de sempre, a mesma criatividade, o encadeamento perfeito. Já está feito, segundo suponho.
Quanto a este post, deixa-me que te diga mais uma vez, está perpassado de um grande amor, de um bonito amor.
Beijinhos
Eu venho espreitar todos os dias o teu blog à procura de textos novos! E mais um dia sem nada!
Um abraço
"Ó Mãe
Quando fores velhinha
Tomo conta de ti
Compro-te uma cama de rede
Onde me esperarás
Em frente à janela
Que dá para o mar
Balouçando...
A ler os livros
Que te hei-de comprar
Sabes Mãe
Quando fores velhinha
Tomo conta de ti
Quero-te ao pé de mim
Sempre
Sempre pela vida fora
Quero tratar-te tão bem
Como tu me tratas agora."
Deixo-te este poema que fiz há uns anos para o filho pequeno de uma amiga oferecer à Mãe.
Não nos permite por vezes o tempo cumprir assim o desejo de tomar conta Delas, como o fizeram por nós.
Um beijo
...e aqui especialmente.
deixo-te o beijo de Julieta.
é com um imenso carinho que aqui venho.é com alguma tristeza que te leio.
doce A.sempre
tão queridíssimo A.
um abraço.
Fiquei sem palavras...............Dói, eu sei que dói (falo por experiência).Tudo de bomn. Um abraço da Intemporal
Para "intemporal":
Obrigado pelo teu comentário.
Beijinhos
A ausência dói, não há dúvida.
Belíssima escrita postada em preito.
Obrigado por teres visitado o meu sinestesia-crepuscular.
Um Abraço.
António
estou arrepiada e as lágrimas correm, correm...
acabei de ler de rajada este teu texto tão belo, pela descrição que fazes, com uma intensa naturalidade
li...que escreveste de rajada sem verter uma lágrima...ainda fiquei mais surpresa...pois, não consegui ficar indiferente.
Um abraço.
17-Março-2007
QUE LINDO QUÉ ESSE SEU CORAÇÃO . E COMO É BOM CONSEGUIR-MOS CONTROLAR A EMOÇÃO PARA CUMPRIR-MOS O QUE A RAZÃO EXIGE. ESPERO ESPERO QUE NÃO SEJA NECESSÁRIO TANTO TEMPO PARA O MEU CORAÇÃO ME DEIXAR CHORAR ALGUÉM QUE AINDA NÃO CONSSEGUI , BIGINHOS , LINDO:::::::::::
Obrigado pelo comentário!
Beijos
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