Eu, borboleta
Finais de Novembro de 1956.
Eu frequentava a 2ª classe.
Turma só de rapazes pois Salazar não gostava de promiscuídades.
Numa aula que se previa normal, a jovem e bonita professora D. Ester, deu-nos a novidade:
As mestras iriam organizar um espectáculo de Natal para ser assistido pelos familiares dos alunos.
Claro que a rapaziada ficou em alvoroço. Mas as informações não tinham terminado e a D. Ester continuou:
(já passaram muitos anos e o que retenho é só uma pequena parte de todas as peripécias ocorridas)
O espectáculo seria constituído por vários quadros, neles participando activamente só uma parte dos alunos de todas as classes.
E outras coisas disse. Recordo que, não sei se nessa manhã ou noutra qualquer, fiquei a saber que era um dos escolhidos.
E qual o meu papel?
Borboleta! Isso mesmo! Eu, borboleta, com mais quatro miúdos da 2ª e cinco da 1ª classe.
O número consistia numa dança das mariposas ao som do Danúbio Azul e com uma interessante coreografia criada pelas professoras.
Lembro-me que havia também um quadro com gafanhotos saltitantes, outro com os 7 anões (acho que a Branca de Neve não entrava...o Salazar não deixava), um mocito da 4ª classe recitava um poema, um grupo coral cantava e outros números que já esqueci.
Mas voltemos às borboletas.
Tivemos que confeccionar um fato especial (o trabalho de guarda- roupa foi excelente), todo negro, muito justo ao corpo e cabeça, diria que muito parecido com o dos actuais mergulhadores, mas o material era um tecido, talvez flanela.
E as asas, brancas para os mais novos, amarelas (amarelo torrado) para os mais velhinhos - portanto para mim - eram de um tecido fino e macio, penso que seda artificial, com uma armação de arame, cosidas aos braços e deles pendentes. Quando os braços se elevavam e baixavam, as asinhas agitavam-se de uma maneira graciosa.
Nas semanas em que as vestimentas eram confeccionadas íam decorrendo os ensaios.
Até que chegou o grande dia!
(na tarde de um sábado, no fim das aulas do primeiro período, ainda recordo)
Vestiram-me em casa. Fizeram-me um sinal artificial na carinha laroca com o carvão de um fósforo queimado. E puseram-me um pouco de um bâton levemente rosado nos lábios.
E lá fomos.
Eu nos bastidores (com os outros artistas), os papás e a mana sentados na plateia.
E a coisa correu bem! Ninguém trocou o passo!
As professoras (Ester, Palmira, Maria da Graça e Maria Adelina) estavam radiantes...e tinham motivo para isso. O show fora um sucesso. E eu senti-me gente.
Agora já sabem como é que fui, durante algumas semanas, uma borboleta.
Quem esboçou risinhos malandros ao ler o título, lixou-se!
Bem feito!
Já se tinham esquecido da inocência da vossa infância?
Eu frequentava a 2ª classe.
Turma só de rapazes pois Salazar não gostava de promiscuídades.
Numa aula que se previa normal, a jovem e bonita professora D. Ester, deu-nos a novidade:
As mestras iriam organizar um espectáculo de Natal para ser assistido pelos familiares dos alunos.
Claro que a rapaziada ficou em alvoroço. Mas as informações não tinham terminado e a D. Ester continuou:
(já passaram muitos anos e o que retenho é só uma pequena parte de todas as peripécias ocorridas)
O espectáculo seria constituído por vários quadros, neles participando activamente só uma parte dos alunos de todas as classes.
E outras coisas disse. Recordo que, não sei se nessa manhã ou noutra qualquer, fiquei a saber que era um dos escolhidos.
E qual o meu papel?
Borboleta! Isso mesmo! Eu, borboleta, com mais quatro miúdos da 2ª e cinco da 1ª classe.
O número consistia numa dança das mariposas ao som do Danúbio Azul e com uma interessante coreografia criada pelas professoras.
Lembro-me que havia também um quadro com gafanhotos saltitantes, outro com os 7 anões (acho que a Branca de Neve não entrava...o Salazar não deixava), um mocito da 4ª classe recitava um poema, um grupo coral cantava e outros números que já esqueci.
Mas voltemos às borboletas.
Tivemos que confeccionar um fato especial (o trabalho de guarda- roupa foi excelente), todo negro, muito justo ao corpo e cabeça, diria que muito parecido com o dos actuais mergulhadores, mas o material era um tecido, talvez flanela.
E as asas, brancas para os mais novos, amarelas (amarelo torrado) para os mais velhinhos - portanto para mim - eram de um tecido fino e macio, penso que seda artificial, com uma armação de arame, cosidas aos braços e deles pendentes. Quando os braços se elevavam e baixavam, as asinhas agitavam-se de uma maneira graciosa.
Nas semanas em que as vestimentas eram confeccionadas íam decorrendo os ensaios.
Até que chegou o grande dia!
(na tarde de um sábado, no fim das aulas do primeiro período, ainda recordo)
Vestiram-me em casa. Fizeram-me um sinal artificial na carinha laroca com o carvão de um fósforo queimado. E puseram-me um pouco de um bâton levemente rosado nos lábios.
E lá fomos.
Eu nos bastidores (com os outros artistas), os papás e a mana sentados na plateia.
E a coisa correu bem! Ninguém trocou o passo!
As professoras (Ester, Palmira, Maria da Graça e Maria Adelina) estavam radiantes...e tinham motivo para isso. O show fora um sucesso. E eu senti-me gente.
Agora já sabem como é que fui, durante algumas semanas, uma borboleta.
Quem esboçou risinhos malandros ao ler o título, lixou-se!
Bem feito!
Já se tinham esquecido da inocência da vossa infância?
25 Comments:
Gostei de rir com essa ausência de texto...
Jinhos
É tipo por a cadeira fora da porta para não estacionarem no lugar, hehe.
Aguardamos amigo António!
ahhhhhhhhhhh........ninguém perguntou nada, António...afinal o que é isso de ser muito homem?
Fica bem. Beijinhos
Tu, borboleta???? Tens de explicar isso muitoooooo bem explicado para não haver más interpretações!
Beijocas!
hauhauha... sem comentários....
bjinhos!!!
E depois eram as moças da Finlândia... pois, pois!
hihihihi!
bj
Interessante o que tens por aqui. Betty :)
Mas quem disse que não eras ...ai ai
Bem , sem dúvida original heheheheh!!! obrigada pelas mensagens de melhoras , estou de regresso heheheh
Este é um dos melhores posts que eu já li. Dava uma tese sobre a oportunidade da blogosfera. :-)
Que fofo!!! Realmente saiu-me o tiro pela culatra, não foi nada do que pensei, mas é bem! Eu, na minha infancia tambem fiz de um insecto qualquer, mas isso fica para um post no meu blog um dia destes quando estiver inspirada :-)
Beijinhos
Já reparaste que nos roubaram a inocência?
Muito giras estas histórias de Borboletas, Salazar e das suas escola do plano dos centenários... tb andei numa, ou no que conseguiram fazer dela os devidos anos depois!! (sim, as costas estão "podres", mas a idade ainda não é assim tanta!!)
Mas, fiquei triste... nunca fiz de borboleta... ohhhh!
(brincadeira!)
beijinhos!
gosto particularmente de borboletas, por acaso! (as da classe Insecta, claro!)
Para lolaviola:
Obrigado pela tua primeira visita.
Tentei comentar no teu blog mas não consegui. Não sei se é do sono, se aquilo é muito complicado ou se sou meio burro...eh eh
Quando tiver vagar irei tentar de novo.
Obrigada pela tentativa. Por vezes o Live Journal está em manutenção e não se consegue deixar um comentário. Tenho outros blogues por ai na blogosfera, mas estão todos arquivados...De facto gostei da ironia dos teus textos. Voltarei.
PS.. Be affraid. Be very affraid.
Eu volto....agora é que estou com um apressa do caneco. Eu volto para ler o texto. Obrigada. Beijo BShell
Imagino a cena! Devias estar lindinho! Os meus meninos ontem andaram a fazer de abelhas e flores... mas sem asinhas!
Achei deliciosa esta estória!
Parecia-me mesmo estar a viver os meus momentos de infância!
Gostaria de linkat-te. Pode ser?
Abraço e bom fim de semana...;-)
Olá António,
Só te digo... é uma DELÍCIA! Adorei!!!
Agradeço a visita e as tuas palavras.
Um beijo
Poxa... te fofo.... existe coisa melhor do que a nossa infância???
Ahh.. vc naum tem nenhuma foto naum???
Deveria estar muito fofo!!!
Bjussss
António amigo... Eu enchi-me de coragem hoje para dizer isto:
o que mais me marcou nesta historinha é o seguinte - é incrível mas todos os homens recordam o nome de todas as suas profes primárias ! Já reparou?
Eu não conheço nenhum que não recorde, sem maldade e com carinho, o digo.
***
Já sei que sou sempre acusada de fazer teorias PSi... nã me julgue. *
António, o amigo deve ser uma pessoa muito bem disposta! Esses seus textos são demais. Este, além de engraçado e levinho, mostra também muita sensibilidade entrelinhas. Sim, a infância marca-nos. Eu tenho presente, ainda que bastante mais nova, tudo o que passei, inclusivé os teatrinhos todos e mais importante ainda, como me sentia na altura. É isto que devemos reter não é? Uma espécie de memória cheia que nos obriga a não deixar de ser o que fomos. A vida muda sim e como muitos dizem - para pior. Mas há sempre parte de nós que sabe se manter. Estou muito errada ou faço-lhe sentido? Um beijinho*
Rosa
Obrigadissima pela visita!
N percebi aquela das janelas de patrocinador...É que n tenho nenhum!...nunca me apareceu nada do género!
Pode ser do seu servidor...n sei.
Quanto ao resto ainda vou ler...
ate ja
Xiça, alguém que tb se irrita com as janelas do patrocinador! heheh! aquilo é mesmo chato, não é?
Eu até já fiz um post sobre isso e tudo mas ninguém percebeu o que era. ;)
Very cool design! Useful information. Go on!
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