O deslize do Bolinhas
Ano lectivo 1960/61.
Liceu de Alexandre Herculano no Porto.
Turma B do 2º ano.
No intervalo que precedeu uma aula de português, o Bolinhas, alcunha pela qual era conhecido um dos colegas (hoje, psiquiatra e poeta) devido ao seu porte anafado, teve um problema intestinal mesmo, mesmo quando estava a tocar para a entrada. O pobre do rapaz tinha de decidir rapidamente correr para uma casa de banho e chegar atrasado à aula o que, dada a severidade que reinava nas escolas daquele tempo, lhe acarretaria uma falta e alguns dissabores, ou aguentar.
O facto é que não aguentou!
Mas, estóicamente borrado, foi assistir à aula.
Ao contrário do que se poderia pensar, não houve grande alastramento de cheiro.
Mas o desgraçado do Pinduca, o colega que estava atrás dele (hoje engenheiro e presidente de uma importante Câmara Municipal), é que se sentiu fortemente afectado. E não deixou de o dizer várias vezes ao professor Cruz Lopes:
- Sr. Doutor. Aqui cheira muito mal!
- Sr. Doutor. Este menino cheira mal!
(reparem que naquele tempo não havia Setôr nem meio Setôr)
Mas recebia invariavelmente a resposta:
- Cale-se, e preste atenção à aula!
O fedor devia ser imenso pois a cara do Pinduca metia dó, apesar de tentar afastar o cheirete com a mão a funcionar como um leque.
E o Bolinhas, mais vermelho do que nunca, caladinho.
E a aula terminou, 50 minutos depois, ao toque da campaínha.
Seguia-se a aula de francês com uma senhora já velhota, a Drª Florisa Costa.
Começa a aula e pasme-se, o Bolinhas estava exactamente na mesma. Só que ainda mais vermelho pois no intervalo tinha sido bem "cheirado" e bem "gozado" pela malta. Talvez por isso nem tenha tido o discernimento de resolver o problema.
E no Francês o Pinduca continuou:
- Srª. Doutora. Aqui cheira muito mal!
- Srª. Doutora. Este menino cheira mal!
Mas, talvez porque agora o odor estivesse mais disseminado, ao fim de alguns minutos a professora aproximou-se dos dois. Fez uma careta e perguntou o que se tinha passado. Foi o Pinduca, já um bocado amarelo, quem lhe explicou a situação.
E a Drª Florisa lá disse ao Bolinhas para ir lavar-se, tendo tido o cuidado maternal de chamar um contínuo para dar uma ajuda ao moço.
A aula continuou, naturalmente, mas o Pinduca só na hora seguinte voltaria à sua cara normal.
Ao fim de uns 15 ou 20 minutos, lá entrou o Bolinhas com as cuecas embrulhadas em papel de jornal que colocou junto aos pés.
Não sei se tinham sido lavadas ou perfumadas, mas o Pinduca não se queixou mais.
Juro que esta história é rigorosamente verídica, com nomes e tudo.
Eu, que gosto de meditar nas coisas, ainda hoje me pergunto se não terá sido este episódio quem deu o "empurrão" ao Bolinhas para a Psiquiatria!
Liceu de Alexandre Herculano no Porto.
Turma B do 2º ano.
No intervalo que precedeu uma aula de português, o Bolinhas, alcunha pela qual era conhecido um dos colegas (hoje, psiquiatra e poeta) devido ao seu porte anafado, teve um problema intestinal mesmo, mesmo quando estava a tocar para a entrada. O pobre do rapaz tinha de decidir rapidamente correr para uma casa de banho e chegar atrasado à aula o que, dada a severidade que reinava nas escolas daquele tempo, lhe acarretaria uma falta e alguns dissabores, ou aguentar.
O facto é que não aguentou!
Mas, estóicamente borrado, foi assistir à aula.
Ao contrário do que se poderia pensar, não houve grande alastramento de cheiro.
Mas o desgraçado do Pinduca, o colega que estava atrás dele (hoje engenheiro e presidente de uma importante Câmara Municipal), é que se sentiu fortemente afectado. E não deixou de o dizer várias vezes ao professor Cruz Lopes:
- Sr. Doutor. Aqui cheira muito mal!
- Sr. Doutor. Este menino cheira mal!
(reparem que naquele tempo não havia Setôr nem meio Setôr)
Mas recebia invariavelmente a resposta:
- Cale-se, e preste atenção à aula!
O fedor devia ser imenso pois a cara do Pinduca metia dó, apesar de tentar afastar o cheirete com a mão a funcionar como um leque.
E o Bolinhas, mais vermelho do que nunca, caladinho.
E a aula terminou, 50 minutos depois, ao toque da campaínha.
Seguia-se a aula de francês com uma senhora já velhota, a Drª Florisa Costa.
Começa a aula e pasme-se, o Bolinhas estava exactamente na mesma. Só que ainda mais vermelho pois no intervalo tinha sido bem "cheirado" e bem "gozado" pela malta. Talvez por isso nem tenha tido o discernimento de resolver o problema.
E no Francês o Pinduca continuou:
- Srª. Doutora. Aqui cheira muito mal!
- Srª. Doutora. Este menino cheira mal!
Mas, talvez porque agora o odor estivesse mais disseminado, ao fim de alguns minutos a professora aproximou-se dos dois. Fez uma careta e perguntou o que se tinha passado. Foi o Pinduca, já um bocado amarelo, quem lhe explicou a situação.
E a Drª Florisa lá disse ao Bolinhas para ir lavar-se, tendo tido o cuidado maternal de chamar um contínuo para dar uma ajuda ao moço.
A aula continuou, naturalmente, mas o Pinduca só na hora seguinte voltaria à sua cara normal.
Ao fim de uns 15 ou 20 minutos, lá entrou o Bolinhas com as cuecas embrulhadas em papel de jornal que colocou junto aos pés.
Não sei se tinham sido lavadas ou perfumadas, mas o Pinduca não se queixou mais.
Juro que esta história é rigorosamente verídica, com nomes e tudo.
Eu, que gosto de meditar nas coisas, ainda hoje me pergunto se não terá sido este episódio quem deu o "empurrão" ao Bolinhas para a Psiquiatria!
18 Comments:
Ok!
Ficas na tua que eu fico na minha.
N faço nenhum coment Sociologico pq n é minha especialidade.
N me cheirou a nada!?!?!?...
Mas agradou-me este bocadinho.
E já agora, morei pertissimo do Liceu A.H. há dois anos.
E estas histórias...ai q ricos tempos (n os meus).
para quando um comment ao post?
A arquitectura pertence a todos...
Eu nunca me queixei, mas confesso que o João, isto nos meus tempos do ensino básico - outrora primária -, causava-me verdadeiros arrepios quando sacava aqueles burriés do nariz...
Ok, ok.
Boa Semana, que so volto na proxima.
Nunca pensei!
Adorei o nome: Guevara
Sabes, acho que vou mudar.
Microrocha nunca me cativou...
Deve estar toda a gente inquieta para saber quem são os senhores. ;)
Na minha 3ª classe tive um caso semelhante mas foi mais "levinho", hehe. Hoje, esse meu colega trabalha na bolsa de lx. O seu amigo psiquiatra explicará porquê concerteza! :)
Beijinhos dos Açores.
Claro que não vou revelar os nomes!
Só revelei as alcunhas porque é altamente improvavel que alguém as relacione com as pessoas. Só os alunos dessa turma que ainda se lembrem dos apelidos. E eu tenho memória de elefante, o que nem todos tem. E algum vai ler o meu blog? Mas era giro, não era?
Era era. ;)
Beijinhos!
António
Estou a imaginar toda acena! estava a ler a tua "história" e na minha cabeça, o filme estava a passar, o imaginário a correr e eu... perdida de riso!
Estas passagens de vida, não cheiram mal! são de encantar!...
Boa semana :)
Um Beijo
olá
vi o teu comentário no blog da Betty e como falaram em rir, que é uma coisa que eu gosto muito de fazer, vim logo a correr...
bastante divertida a história.
Vcs já viram a angústia que esses putos viveram? Agora claro que riem, como nós rimos, mas naquele dia deve ter sido um sufoco, em todos os sentidos!
nada de patrocinadores. stop. tudo ok. stop. beijos.
ahahaha muito obrigado pela gargalhada que os teus tempos de infancia me proporcionaram!
Ha sempre historias assim, no meu tempo, a uns poucos anos atras tambem aconteceu algo semelhante na minha turma...hoje a gente ri/se, na altura.... enfim, bons velhos tempos!!!
Beijinhos e boa semana
"Em ti, grito
No lume desse ter-te
E sou maior que os mundos
Porque sou tua.
Perdidamente."
PS: Anoto e agradeço o teu comentario. Beijinho grande :)
www.lbutterfly.blogs.sapo.pt
Deliciosa!! Especialmente a parte do Sr. Doutor responder: "Cale-se, e preste atenção à aula!" e todos obedecerem parece-me, a mim, um verdadeiro filme de ficção!! Ai, outros tempos!!
BEijos
Bem , isto uma pessoa vai ali e já volta e fica espantada com a produção , o senhor vai de vento em popa hemmm !!! a barra de blogues esta gigante e isto a funcionar !!! boa parabens !!! gostei
...e daí..quem sabe?
Gostei da história....Foi no ano em que nasci...heheheh....61!
Grata pela visita, Jinho, BShell
Olá António
Seria uma realização completa para qualquer escritor escrever contos como escreveu Hans Christian Andersen. Lamentavelmente (para mim)só traduzi, encantam-me todos os seus contos :)
Um beijo
Eu, talvez por deformação profissional fiqui-me pela actuação dos professores: naquele tempo os professores eram todos "beras", mas apesar de tudo as mulheres sempre mais atentas e sensíveis!
Enviar um comentário
<< Home