Eu sou louco!

Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças! (este blog está registado sob o nº 7675/2005 na IGAC - Inspecção Geral das Actividades Culturais)

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segunda-feira, abril 25, 2005

O meu 25 de Abril

A quatro de Fevereiro de 1974 parti para Luanda, a fim de cumprir a parte mais importante do meu serviço militar no NRP Rovuma, como oficial da Armada Portuguesa (NRP=Navio da República Portuguesa). Tropa boa!
O Rovuma era um navio patrulha, fabricado nos estaleiros do Alfeite, se bem me lembro, juntamente com outros da mesma classe e que, por isso, eram iguaizinhos. Ainda navegam.
Tinha uma guarnição de pouco mais de 30 homens, sendo só três os oficiais:
O Comandante Silva Dias, elitista e "bon vivant", casado com a bela francesa Jacqueline, foi mais tarde capitão do porto de Viana do Castelo, como já o havia sido seu pai. Faleceu há 2 ou 3 anos.
O Imediato, Fernando Ribeiro e Castro, jovem oficial do quadro, tinha acabado um ano antes o curso da Escola Naval onde fora considerado o melhor aluno dos últimos vinte ou trinta anos.
Era filho do Governador-Geral de Angola em funções, o Engº Santos e Castro que, nos anos sessenta, fora Presidente da Câmara de Lisboa onde ficou conhecido como o Engenheiro dos Viadutos, pois do seu legado fazem parte vários viadutos que na altura foram muito importantes para desanuviar o já então complicado trânsito na capital. Curiosamente, o número dois na hierarquia provincial (ao tempo, as colónias eram chamadas de províncias ultramarinas) era o candidato a Presidente da República apoiado pela Aliança Democrática liderada por Sá Carneiro (que morreria tragicamente no último dia de campanha). Seu nome, Soares Carneiro.
O irmão mais novo do Fernando, por coincidência, foi este fim de semana eleito como presidente do CDS-PP. É o Dr. José Ribeiro e Castro.
O Fernando, com quem partilhava o camarote no navio, casou no ano seguinte com uma jovem chamada Leonor e hoje tem nove (leram bem...nove) filhos, sendo o presidente de uma associação de pais de famílias numerosas.
Finalmente, o 3ª oficial, que era este vosso escriba, o único miliciano.
Mas porquê tanto ênfase na pessoa do Imediato do navio.
Porque no dia vinte e cinco de Abril de 1974, quando deixavamos o navio que estava atracado ao cais da Base Naval de Luanda para ir almoçar à messe dos oficiais, ía eu começar a descer a prancha quando o Fernando volta a entrar, com uma cara de espanto:
- Houve um golpe de Estado em Portugal. O Spínola tomou o poder.
Eu fiquei embasbacado, porque um sonho de muitos anos aparecia como realidade. Já não sei o que disse ou deixei de dizer. Lembro-me que não tive grandes manifestações de júbilo, naquele momento, pois ainda demorou um ou dois dias a termos a certeza de que o golpe militar resultara, e até porque havia ocorrido um outro pouco mais de um mês antes, nas Caldas da Raínha, que tinha abortado. Mas também a cara de decepção do Fernando, que resmungava:
- Foi o palerma do Tomás quem estragou tudo. Se tivesse deixado o Marcelo fazer o que queria, isto não teria acontecido. Agora tudo isto vai ser independente. Lá se vai o nosso Portugal!
Dizia eu que a cara do Fernando inibia-me de, por educação, ter manifestações de júbilo.
E lá fomos para a messe. Comecei a falar com os meus amigos ou colegas do reviralho, e conforme íamos sabendo novidades, os sorrisos e as manifestações de alegria começaram a subir de tom. Havia grupinhos e falavamos baixinho. Ainda tínhamos de aprender a viver em democracia e liberdade. Nós, e quasi toda a gente.
Curioso, foi também observar o rosto fechado dos oficiais mais graduados. Não se manifestavam, salvo um ou dois. Mas nos dias seguintes começaram a mostrar um sorriso que deixava adivinhar que, ou já eram opositores do regime e estavam a ver em que paravam as modas, ou eram a favor e estiveram de quarentena a mudar a casaca! Alguns não mudaram. Honra lhes seja feita!
E o meu 25 de Abril foi assim!
Sem cravos nem multidões, lá longe, na África meridional.
Parabéns para os que conseguiram chegar ao fim deste texto chatinho, mas pelo menos não escrevi as banalidades do costume. Procurei dar uma imagem com algum ineditismo. Consegui?

15 Comments:

Blogger Fragmentos Betty Martins said...

António

Obrigada por passares no meu "cantinho"

É claro que conseguiste! e muito bem. E não foi nada chato ler-te, bem pelo contrário :-). Do meu 25 de Abril pouco tenho a contar, era ainda bastante menina. A consciência daquilo que se passou, veio anos mais tarde, com a História e toda a informação, que procurei
obter, para realmente saber o que foi de facto o 25 de Abril. Mas o que me parece da "Revolução dos Cravos" é que existe um desencanto muito grande! Não te parece?

Um beijo

7:29 da tarde  
Blogger paula. said...

:-)
História viva!
Belo, belo post.
Tinha apenas 1 ano, pelo que não me recordo de rigorosamente nada, como é óbvio....mas confesso que sempre escutei pela voz de pais e amigos deles a emoção enorme q se seguiria áquele dia tão especial...lembra-me sobretudo o meu avô que ouvia a BBC às escondidas e que até ao ano em q morreu sempre se emocionava num misto de felicidade e orgulho no dia 25.04 ...

paula.
reciprocidades.blogspot.com

12:41 da manhã  
Blogger saltapocinhas said...

Claro que conseguiste, copiaste por mim! Não os acontecimentos, claro, que eu era pequenina demais para ir à tropa, mas procurar uma coisa diferente para contar. como é que ainda estavas na tropa nessa altura??

12:25 da manhã  
Blogger Unknown said...

Pois, eu quando me disseram ouve um golpe de Estado em Portugal, estava sentada n minha secretária de trabalho, nem percebi o que queria dizer disseram-me agora somos livres, ao que eu respondi !e nãõ eramos? pois não me lembro de ter estado presa ou alguém da minha familia que trabalhava sem sentir que estavam presos... Um abraço

3:35 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Curioso este relato "perfiférico" da revolução...Gostei muito e não achei, nada, nada aborrecido :-)

3:46 da tarde  
Blogger Sara Mota said...

Eu não tive 25 d'Abril de 74...

António ;)*

5:13 da tarde  
Blogger dinorah said...

Ora bem... onde andava eu no 25 de Abril? hum?
Pois, ainda a uns anitos poucos de nascer!!
O que não quer dizer que não tenha ouvido "histórias" igualmente deliciosas como esta! Os pais também andavam por terras Africanas e de lá muitos relatos se ouviram toda a vida!
Pena, hj em dia, os mais novinhos não ouvirem tantas destas "histórias" dessa época...

Um beijo

1:18 da manhã  
Blogger RD said...

Amigo António, qual história chata quais 50 contos! É um prazer virmos cá todos ler essas historietas contadas na primeira pessoa. Eu tal como a Dinorah, estava a cozer na forma ainda. Nasci em Dezembro de 75 já com a língua mais livre e destravada possível. Mas sei honrar quem me proporcionou isso e além disso gosto de o ler a si.
Uma beijoka açoriana.

2:21 da manhã  
Blogger BlueShell said...

Cá estou, de novo...

Estou a chá! Detesto CHÁ!!!
Mas estou muito ENJOADA!!!

Jinho, BShell



(...Não.....não estou!!!)

4:57 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Cada um tem a sua própria história,
sua experiência de vida sobre a mesma data e acontecimento. Gostei de te ler.
Beijinhos

9:39 da tarde  
Blogger BlueShell said...

Isso...caldos brancos...e chá!
Obrigada pelas tuas palavras. Jinho, BS

10:43 da tarde  
Blogger Pipocas said...

Boa. Assim gosto. É muito mais giro contar o que cada um passou naquela época tão turbulenta sem nos pegarmos aos livros de História. Por isso foi com imenso prazer que li o texto, nada aborrecido. ;)

11:19 da tarde  
Blogger Caiê said...

meninos muita atenção
e nada de brincadeira
eu agora vou contar
uma história verdadeira

muito bem, uma coisa assim verídica dá gosto! *** beijinhos

11:59 da tarde  
Blogger maresia said...

Obrigada por esta imagem. Gostei mesmo. A minha está aqui: http://enquantoaonda.blogspot.com/2005/04/25-de-abril-de-19-e-troca-o-passo.html

4:41 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Very nice site!
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8:26 da manhã  

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