Eu sou louco!

Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças! (este blog está registado sob o nº 7675/2005 na IGAC - Inspecção Geral das Actividades Culturais)

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quinta-feira, abril 21, 2005

O Quim no urologista

O meu velho amigo Quim, colega do liceu e dos bancos da universidade, gajo porreiro, compincha brincalhão, de refinado senso de humor, inteligente e mulherengo, namorava há uns dois ou três anos a Matilde, miúda catita, sensata e com um coração do tamanho do mundo.
Mas, naquele tempo, a virgindade no casamento era uma questão muito séria para as meninas e o Quim tinha de ir a outras paragens para dar plena satisfação à sua sexualidade, que era coisa que andava sempre a fervilhar naquele corpo jovem e saudável.
Acompanhei-o várias vezes nas suas aventuras de D. Juan ou, mais prosaicamente, de papador e pagador de mulheres.
Pois o Quim resolveu casar-se.
A Matilde era realmente a mulher da sua vida (pelo menos a favorita).
Mas as hormonas não o deixavam descansar. Faziam-lhe um tal nervoso miúdinho que não dava para aguentar. E que se lixasse a fidelidade.
Umas quatro ou cinco semanas antes da boda, e depois de uns momentos bem passados com uma meretriz supostamente asseada, o rapaz começou a sentir uma impressãozita no orgão.
Imaginou que fossem uns gonococos a fazer das suas. Mas os sintomas habituais da blenorragia não apareciam. Nem a ardência na micção, nem o prurido.
E continuou a esperar pela revelação da infecção para aplicar a dose adequada do antibiótico que, em dois ou três dias, o deixaria são como um pêro.
Mas a coisa nem andava nem desandava. A data do casamento aproximava-se e o pobre do Quim já imaginava a terrível situação de, na noite de núpcias, ter de dizer à Matilde que não podia ser nada...mas tinha apanhado uma coisita ligeira numa dessas retretes públicas onde vai todo o tipo de gente e era melhor não arriscar.
Enfim...a coisa estava a ficar negra. O mancebo andava em polvorosa. Tinha da fazer alguma coisa. E fez!
Foi às Páginas Amarelas, procurou um médico urologista, e conseguiu uma consulta para a tarde seguinte.
Coitado! Nos últimos dias nem parecia o mesmo. - Maltita puta! - bradava.
Mas aproximava-se a solução. O médico, ainda por cima um especialista, não deixaria de solucionar o seu problema.
Chegada a hora da consulta, e após uma rápida espera de dez minutos, foi chamado.
- Dá-me licença, Sr. Doutor?
- Faça favor - disse o clínico. Boa tarde. Queira sentar-se.
Cumpridas as formalidades habituais de uma primeira consulta, perguntou o médico:
- Então o que o trás por cá, Sr. Engenheiro?
- Há uns quinze dias atrás - começou o Quim - tive relações com uma prostituta e...e continuou a descrever tudo o que podia com o maior rigor, para que o médico tivesse toda a informação e assim fizesse um diagnóstico correcto.
- Queira desapertar as calças e deitar-se aí, Sr. Engenheiro - disse o doutor.
Já deitado, continuou o Quim:
- Há uma coisa muito importante que eu quero dizer ao Sr. Doutor. Daqui a quinze dias vou casar e...
- Não diga mais - interrompeu o médico. Já sei qual o seu mal.
O Quim fez a maior cara de parvo que é possível imaginar.
- O senhor tem um esquentamento de consciência - rematou o urologista.
O Quim estava meio aturdido. Teria ouvido bem?
- Sabe?! É uma situação muito mais habitual do que as pessoas pensam. Sobretudo com homens casados que fazem um extra fora do matrimónio.
O Quim continuava boquiaberto, mas um sorriso começava a desenhar-se no seu rosto.
- Vou examiná-lo - atalhou o especialista.
Finalmente, concluiu:
- Pode ir descansado para casa. Não tem rigorosamente nada. Vou receitar-lhe umas drageias que são um desinfectante das vias urinárias, mas só tome se quiser.
E ao despedir-se, disparou o doutor num evidente tom irónico:
- Então que corra tudo bem no seu casamento!
Nem por milagre! O Quim nunca mais sentiu impressão nenhuma e acho que nem chegou a tomar uma única drageia.
E no dia do casamento (melhor dizendo, na noite), lá cumpriu as suas obrigações com toda a galhardia.
Hoje, ainda está casado com a Matilde. Tem dois filhos e um netinho.
Mas nunca deixou de dar umas facadinhas no casamento. Aquilo estava-lhe no sangue.
Só mais tarde, quando se divulgou o Síndrome de Imuno-Deficiência Adquirida (SIDA), ele acalmou um pouco. E também por causa da idade, direi eu!
Mas, de toda esta história, a coisa mais deliciosa foi a expressão:
"Esquentamento de consciência".
Só não a usei como título desta prosa porque tornaria o desenlace mais óbvio.
"Esquentamento de consciência" - adoro a expressão!

14 Comments:

Blogger trigolimpofarinh@mparo said...

Gostei… e também gosto da expressão “esquentamento de consciência” ou melhor, na consciência.

2:16 da tarde  
Blogger dinorah said...

Hehehehe!! Sim senhor! é bom para aprender a não ir molhar o "bico" onde não devia!!
O pior é que agora divulgaste aos homens que afinal aquilo que sentem depois de "pular a cerca" é apenas psicológico... Bem, espero que doa muito na mesma!! hihihihi!!

Qto às baleias... estou mais para baleia-anã, na verdade, com os meus 51 quilitos, mas, uma baleia é semrpe uma baleia! E mai' nada!
;)

beijos

3:27 da tarde  
Blogger dinorah said...

Deixei um desafio para o senhor no meu blog!...

3:39 da tarde  
Blogger RD said...

Amigo, ora aí está uma boa lição. O problema é que não deveria ter sido diagnosticada, assim sentiam mais vezes o esquentamento e ficavam nervosinhos como deveriam. hehe.
Desconfio que muitas depressões actuais derivem desse esquentamento de consciência, venha ele das facadinhas ou não.
Beijinhos!

4:43 da tarde  
Blogger BlueShell said...

Hoje não estou bem. Quero apenas deixar um abraço imenso. BShell

5:59 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

António

Mais uma daquelas "Histórias" que nos deixam bem dispostos. E que tu tão bem sabes contar.

Um beijo

Bom fim de Semana

6:05 da tarde  
Blogger Loucura said...

ora muito bem! uma nova patologia para os psicologos...! Sendo assim, acho que existem uns quantos com isso...
Beijinhos e optimo fim de semana

11:04 da tarde  
Blogger António said...

Olha que a patologia não é nova!
Pelo contrário. É tão velha que se perde na bruma dos tempos!

11:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olha...hoje é que li o texto, estou melhor...relativamente, claro...
Gosto de te ler.
Um jinho GANDE de bom fds
BShell
(cheio de cravos)

4:38 da tarde  
Blogger Viuva Negra said...

de facto é pena que o cerebro não fique infectado , para aprenderem , sinceramente ... estes homens nao tem juizo nenhum...

12:41 da manhã  
Blogger Leonor said...

Muito bem escrito. uma narrativa bem feita.
já te linkei também.obrigado

12:35 da tarde  
Blogger SL said...

Uma história que não é assim tão má no total...gostei.
Jinhos

8:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Bem, parece que este blog está a ter sucesso?
É porque o conteudo é bom!
passei por ca so para cumprimentar.
Gosto das tuas histórias!

(embora a diferença de idades, vou continuar a tratar-t por tu, pode ser?)

8:36 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Histórias bem interessantes...como
os humanos são complicados...

Beijinhos

9:34 da tarde  

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