O Quim no urologista
O meu velho amigo Quim, colega do liceu e dos bancos da universidade, gajo porreiro, compincha brincalhão, de refinado senso de humor, inteligente e mulherengo, namorava há uns dois ou três anos a Matilde, miúda catita, sensata e com um coração do tamanho do mundo.
Mas, naquele tempo, a virgindade no casamento era uma questão muito séria para as meninas e o Quim tinha de ir a outras paragens para dar plena satisfação à sua sexualidade, que era coisa que andava sempre a fervilhar naquele corpo jovem e saudável.
Acompanhei-o várias vezes nas suas aventuras de D. Juan ou, mais prosaicamente, de papador e pagador de mulheres.
Pois o Quim resolveu casar-se.
A Matilde era realmente a mulher da sua vida (pelo menos a favorita).
Mas as hormonas não o deixavam descansar. Faziam-lhe um tal nervoso miúdinho que não dava para aguentar. E que se lixasse a fidelidade.
Umas quatro ou cinco semanas antes da boda, e depois de uns momentos bem passados com uma meretriz supostamente asseada, o rapaz começou a sentir uma impressãozita no orgão.
Imaginou que fossem uns gonococos a fazer das suas. Mas os sintomas habituais da blenorragia não apareciam. Nem a ardência na micção, nem o prurido.
E continuou a esperar pela revelação da infecção para aplicar a dose adequada do antibiótico que, em dois ou três dias, o deixaria são como um pêro.
Mas a coisa nem andava nem desandava. A data do casamento aproximava-se e o pobre do Quim já imaginava a terrível situação de, na noite de núpcias, ter de dizer à Matilde que não podia ser nada...mas tinha apanhado uma coisita ligeira numa dessas retretes públicas onde vai todo o tipo de gente e era melhor não arriscar.
Enfim...a coisa estava a ficar negra. O mancebo andava em polvorosa. Tinha da fazer alguma coisa. E fez!
Foi às Páginas Amarelas, procurou um médico urologista, e conseguiu uma consulta para a tarde seguinte.
Coitado! Nos últimos dias nem parecia o mesmo. - Maltita puta! - bradava.
Mas aproximava-se a solução. O médico, ainda por cima um especialista, não deixaria de solucionar o seu problema.
Chegada a hora da consulta, e após uma rápida espera de dez minutos, foi chamado.
- Dá-me licença, Sr. Doutor?
- Faça favor - disse o clínico. Boa tarde. Queira sentar-se.
Cumpridas as formalidades habituais de uma primeira consulta, perguntou o médico:
- Então o que o trás por cá, Sr. Engenheiro?
- Há uns quinze dias atrás - começou o Quim - tive relações com uma prostituta e...e continuou a descrever tudo o que podia com o maior rigor, para que o médico tivesse toda a informação e assim fizesse um diagnóstico correcto.
- Queira desapertar as calças e deitar-se aí, Sr. Engenheiro - disse o doutor.
Já deitado, continuou o Quim:
- Há uma coisa muito importante que eu quero dizer ao Sr. Doutor. Daqui a quinze dias vou casar e...
- Não diga mais - interrompeu o médico. Já sei qual o seu mal.
O Quim fez a maior cara de parvo que é possível imaginar.
- O senhor tem um esquentamento de consciência - rematou o urologista.
O Quim estava meio aturdido. Teria ouvido bem?
- Sabe?! É uma situação muito mais habitual do que as pessoas pensam. Sobretudo com homens casados que fazem um extra fora do matrimónio.
O Quim continuava boquiaberto, mas um sorriso começava a desenhar-se no seu rosto.
- Vou examiná-lo - atalhou o especialista.
Finalmente, concluiu:
- Pode ir descansado para casa. Não tem rigorosamente nada. Vou receitar-lhe umas drageias que são um desinfectante das vias urinárias, mas só tome se quiser.
E ao despedir-se, disparou o doutor num evidente tom irónico:
- Então que corra tudo bem no seu casamento!
Nem por milagre! O Quim nunca mais sentiu impressão nenhuma e acho que nem chegou a tomar uma única drageia.
E no dia do casamento (melhor dizendo, na noite), lá cumpriu as suas obrigações com toda a galhardia.
Hoje, ainda está casado com a Matilde. Tem dois filhos e um netinho.
Mas nunca deixou de dar umas facadinhas no casamento. Aquilo estava-lhe no sangue.
Só mais tarde, quando se divulgou o Síndrome de Imuno-Deficiência Adquirida (SIDA), ele acalmou um pouco. E também por causa da idade, direi eu!
Mas, de toda esta história, a coisa mais deliciosa foi a expressão:
"Esquentamento de consciência".
Só não a usei como título desta prosa porque tornaria o desenlace mais óbvio.
"Esquentamento de consciência" - adoro a expressão!
Mas, naquele tempo, a virgindade no casamento era uma questão muito séria para as meninas e o Quim tinha de ir a outras paragens para dar plena satisfação à sua sexualidade, que era coisa que andava sempre a fervilhar naquele corpo jovem e saudável.
Acompanhei-o várias vezes nas suas aventuras de D. Juan ou, mais prosaicamente, de papador e pagador de mulheres.
Pois o Quim resolveu casar-se.
A Matilde era realmente a mulher da sua vida (pelo menos a favorita).
Mas as hormonas não o deixavam descansar. Faziam-lhe um tal nervoso miúdinho que não dava para aguentar. E que se lixasse a fidelidade.
Umas quatro ou cinco semanas antes da boda, e depois de uns momentos bem passados com uma meretriz supostamente asseada, o rapaz começou a sentir uma impressãozita no orgão.
Imaginou que fossem uns gonococos a fazer das suas. Mas os sintomas habituais da blenorragia não apareciam. Nem a ardência na micção, nem o prurido.
E continuou a esperar pela revelação da infecção para aplicar a dose adequada do antibiótico que, em dois ou três dias, o deixaria são como um pêro.
Mas a coisa nem andava nem desandava. A data do casamento aproximava-se e o pobre do Quim já imaginava a terrível situação de, na noite de núpcias, ter de dizer à Matilde que não podia ser nada...mas tinha apanhado uma coisita ligeira numa dessas retretes públicas onde vai todo o tipo de gente e era melhor não arriscar.
Enfim...a coisa estava a ficar negra. O mancebo andava em polvorosa. Tinha da fazer alguma coisa. E fez!
Foi às Páginas Amarelas, procurou um médico urologista, e conseguiu uma consulta para a tarde seguinte.
Coitado! Nos últimos dias nem parecia o mesmo. - Maltita puta! - bradava.
Mas aproximava-se a solução. O médico, ainda por cima um especialista, não deixaria de solucionar o seu problema.
Chegada a hora da consulta, e após uma rápida espera de dez minutos, foi chamado.
- Dá-me licença, Sr. Doutor?
- Faça favor - disse o clínico. Boa tarde. Queira sentar-se.
Cumpridas as formalidades habituais de uma primeira consulta, perguntou o médico:
- Então o que o trás por cá, Sr. Engenheiro?
- Há uns quinze dias atrás - começou o Quim - tive relações com uma prostituta e...e continuou a descrever tudo o que podia com o maior rigor, para que o médico tivesse toda a informação e assim fizesse um diagnóstico correcto.
- Queira desapertar as calças e deitar-se aí, Sr. Engenheiro - disse o doutor.
Já deitado, continuou o Quim:
- Há uma coisa muito importante que eu quero dizer ao Sr. Doutor. Daqui a quinze dias vou casar e...
- Não diga mais - interrompeu o médico. Já sei qual o seu mal.
O Quim fez a maior cara de parvo que é possível imaginar.
- O senhor tem um esquentamento de consciência - rematou o urologista.
O Quim estava meio aturdido. Teria ouvido bem?
- Sabe?! É uma situação muito mais habitual do que as pessoas pensam. Sobretudo com homens casados que fazem um extra fora do matrimónio.
O Quim continuava boquiaberto, mas um sorriso começava a desenhar-se no seu rosto.
- Vou examiná-lo - atalhou o especialista.
Finalmente, concluiu:
- Pode ir descansado para casa. Não tem rigorosamente nada. Vou receitar-lhe umas drageias que são um desinfectante das vias urinárias, mas só tome se quiser.
E ao despedir-se, disparou o doutor num evidente tom irónico:
- Então que corra tudo bem no seu casamento!
Nem por milagre! O Quim nunca mais sentiu impressão nenhuma e acho que nem chegou a tomar uma única drageia.
E no dia do casamento (melhor dizendo, na noite), lá cumpriu as suas obrigações com toda a galhardia.
Hoje, ainda está casado com a Matilde. Tem dois filhos e um netinho.
Mas nunca deixou de dar umas facadinhas no casamento. Aquilo estava-lhe no sangue.
Só mais tarde, quando se divulgou o Síndrome de Imuno-Deficiência Adquirida (SIDA), ele acalmou um pouco. E também por causa da idade, direi eu!
Mas, de toda esta história, a coisa mais deliciosa foi a expressão:
"Esquentamento de consciência".
Só não a usei como título desta prosa porque tornaria o desenlace mais óbvio.
"Esquentamento de consciência" - adoro a expressão!
14 Comments:
Gostei… e também gosto da expressão “esquentamento de consciência” ou melhor, na consciência.
Hehehehe!! Sim senhor! é bom para aprender a não ir molhar o "bico" onde não devia!!
O pior é que agora divulgaste aos homens que afinal aquilo que sentem depois de "pular a cerca" é apenas psicológico... Bem, espero que doa muito na mesma!! hihihihi!!
Qto às baleias... estou mais para baleia-anã, na verdade, com os meus 51 quilitos, mas, uma baleia é semrpe uma baleia! E mai' nada!
;)
beijos
Deixei um desafio para o senhor no meu blog!...
Amigo, ora aí está uma boa lição. O problema é que não deveria ter sido diagnosticada, assim sentiam mais vezes o esquentamento e ficavam nervosinhos como deveriam. hehe.
Desconfio que muitas depressões actuais derivem desse esquentamento de consciência, venha ele das facadinhas ou não.
Beijinhos!
Hoje não estou bem. Quero apenas deixar um abraço imenso. BShell
António
Mais uma daquelas "Histórias" que nos deixam bem dispostos. E que tu tão bem sabes contar.
Um beijo
Bom fim de Semana
ora muito bem! uma nova patologia para os psicologos...! Sendo assim, acho que existem uns quantos com isso...
Beijinhos e optimo fim de semana
Olha que a patologia não é nova!
Pelo contrário. É tão velha que se perde na bruma dos tempos!
Olha...hoje é que li o texto, estou melhor...relativamente, claro...
Gosto de te ler.
Um jinho GANDE de bom fds
BShell
(cheio de cravos)
de facto é pena que o cerebro não fique infectado , para aprenderem , sinceramente ... estes homens nao tem juizo nenhum...
Muito bem escrito. uma narrativa bem feita.
já te linkei também.obrigado
Uma história que não é assim tão má no total...gostei.
Jinhos
Bem, parece que este blog está a ter sucesso?
É porque o conteudo é bom!
passei por ca so para cumprimentar.
Gosto das tuas histórias!
(embora a diferença de idades, vou continuar a tratar-t por tu, pode ser?)
Histórias bem interessantes...como
os humanos são complicados...
Beijinhos
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