Eu sou louco!

Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças! (este blog está registado sob o nº 7675/2005 na IGAC - Inspecção Geral das Actividades Culturais)

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segunda-feira, novembro 07, 2005

Reencontro - parte VII

Paulo, logo na quinta-feira telefonou a Anabela para lhe explicar o local onde teriam os seus encontros amorosos clandestinos.
Durante muitas manhãs passavam largos minutos ao telefone a conversar sobre tudo e nada.
No sábado não se encontraram pessoalmente no Shopping, mas Paulo foi ler o jornal para o banco em frente da loja Ramos Gonçalves.
Em casa, o amuo de Inês terminara. A mulher removera o cinto de castidade e Paulo estava muito mais simpático com ela.
Pensara muitas vezes porque razão a situação conjugal descambara para um estado de degradação tão acentuado. Atribuía a causa desse estado ao facto de a mulher tudo querer controlar. Já não amava Inês mas esta não lhe era indiferente.
Agora, como tipo experiente, sabia que a melhor maneira de afastar desconfianças era ser gentil, dar-lhe mais liberdade para comandar a família, ter gestos de simpatia como levar umas flores ou uma guloseima para casa, convidá-la para sair e, sobretudo, ter relações sexuais com alguma frequência.
Assim, pensava, a probabilidade de ela desconfiar que tinha uma amante diminuía drasticamente.
Resultaria? Desde que não cometesse erros grosseiros, tinha a certeza que sim.

Quarta-feira.
O encontro fora aprazado para as três e meia da tarde.
Ao lado da residencial, aliás com um bom aspecto, havia uma rampa por onde podiam descer as viaturas que assim estacionavam nas traseiras.
E as pessoas que queriam preservar a privacidade entravam pela porta dos fundos, passavam áreas privadas como a cozinha e iam à recepção.
Paulo foi o primeiro a chegar.
Arrumou o carro no aparcamento do fim da descida, subiu a rampa a pé e colocou-se no passeio oposto para ver a sua ex-namorada e amante chegar.
Ela demorou pouco mais de cinco minutos.
Pareceu hesitar, mas o professor voltou para junto da rampa, fez-lhe um sinal com o indicador da mão direita para o seguir e voltou a descer para o parque.
O velho Peugeot 106 seguiu-o.
Pouco depois estavam junto da recepção e Anabela não largava a mão de Paulo para se sentir mais segura. Não era a primeira vez que estava numa pensão com aquele homem, mas era-o depois de casar.
Ele já lá estivera num dia anterior a falar com a moça da recepção e, perante a necessidade de deixarem os nomes e o número do Bilhete de Identidade no Livro de Registos, haviam combinado escrever outros nomes que habitualmente não usavam.
Ele assinou Jorge Branco e ela, a tremer, escreveu Ana Bela Teixeira. Depois, a rapariga escreveu os algarismos dos bilhetes de identidade com um deles alterado. Claro que isto implicava uma gorjeta, mas era preciso ter todas as cautelas!
Depois de cumprido este ritual, foi-lhes dado a escolher o quarto que pretendiam. Anabela optou pelo maior que ficava voltado para as traseiras e com o sol a bater-lhe de chapa.
A empregada saiu, Paulo fechou a porta à chave, baixou as persianas para reduzir muito a luminosidade dentro do compartimento, encostou as vidraças, inspeccionou o quarto de banho e, finalmente disse para a amante:
- Anabela! Estás bem?
Esta inspeccionava o local simplesmente com o olhar.
- Ufa...o meu coração está muito acelerado.
- Chega-te para mim. Já vais ficar calma – disse ele.
E apertaram-se num abraço e num beijo que demorou até ao ponto de fadiga.
Não era um encontro fortuito qualquer. Era o reencontro total após um afastamento de dezasseis anos.
Paulo começou a despir-se.
Fê-lo rapidamente e deitou-se na cama, nu.
A erecção era bem evidente e Anabela, mesmo antes de tirar toda a roupa, deitou-se sobre o homem para sentir aquele corpo que tanto a excitava.
As carícias, as palavras cheias de ternura, os “amo-te”, os “adoro-te”, os “quero-te”, os “meu amor”, os "aperta-me", os "toca-me", sucediam-se.
Os jogos amorosos, mesmo os menos ortodoxos foram jogados.
Paulo, com aquela mulher, ficava num estado de excitação quasi irreversível. Nunca houvera outra que lhe provocasse tal efeito. Muitas vezes bastava tocar-lhe ou ser tocado na mão para ficar erecto.
- Mas como consegues tu manter esse corpo de garça, Anabela? Tens 43 anos e dois filhos – perguntou ele espantado com a esbelteza da mulher.
- Sabes que sempre fui magra e tenho umas maminhas pequenas. E como pouco. E ando o mais que posso a pé – explicou ela – mas tu também estás que pareces um rapaz novo. E continuas a ser o homem que eu adoro!
Paulo riu-se, vaidoso.
E a sessão prosseguiu sem tabus. Eram quasi cinco horas quando Paulo lhe perguntou se não havia problemas em continuar ali.
Ela deu um gritinho e correu para o quarto de banho:
- Ai meu Deus! Tenho de ir. Para a próxima vimos mais cedo – disse ela.
Paulo levantou-se para abrir um pouco mais as persianas e assim apreciar melhor como estava o corpo de Anabela. Pois nem sinais de celulite, nem varizes, nem barriga.
- Tu continuas a parecer uma top-model – disse.
- Não exageres – comentou ela, sorrindo de orgulho, enquanto se secava.
- Agora vou eu aí – Paulo entrou no compartimento da higiene e, ao roçá-la, não se conteve e beijou-a e abraçou-a novamente com uma carga de desejo insuperável.
E voltaram para a cama.
- Que se lixe! O Quim é boa pessoa. Engole qualquer mentira bem aplicada – disse ela.
- Só espero que esta noite a minha mulher tenha sono.
Quando saíram dali já passava das cinco e meia.

Durante vários meses, quasi um ano, os encontros entre Paulo e Anabela sucederam-se com uma boa regularidade e sempre com a mesma fogosidade. Uma semana era um bom período para recarregar baterias. Nos períodos de férias havia uma interrupção que funcionava como acicate.
Mas o casal Paulo – Inês melhorou a sua relação de tal forma que, por vezes, pareciam ter voltado aos primeiros anos.
Até depois dos jantares com os amigos Paulo vinha mais cedo para casa. Desculpava-se junto do amigo Jorge com o trabalho e o Champagne-Club foi perdendo dois clientes.
Várias vezes a professora dizia ao marido que queria sair com ele às quartas à tarde. O encontro tinha de ser adiado mas ele nunca mostrava má cara.
A certa altura, os dois amantes também começaram a encontrar-se aos sábados de manhã para compensar as falhas. Era mais rápido mas nem por isso menos voluptuoso.
O casal Joaquim – Anabela também acabou por funcionar melhor. A mulher, seguramente com alguns remorsos da traição, tratava-o muito bem. Esforçava-se mais na ajuda dentro da loja e servia algumas sessões de sexo ao marido que o faziam adorá-la como a melhor mulher do mundo.
Certa vez, Anabela teve um atraso menstrual.
Coincidiu com um dos encontros com Paulo e ela falou-lhe na ansiedade que estava a sentir.
- E se eu ficar grávida? – disse ela.
- Já não era a primeira vez – gracejou o homem, mas depressa acrescentou – uma de mim e duas do Quim.
- Não brinques. Agora não sei quem é o pai – e mostrou alguma decepção.
- Se isso acontecer, o pai legal só pode ser o teu marido. O pai biológico determina-se facilmente com um exame de ADN – acalmou ele.
- Para ti é fácil. Mas para mim é mais complicado. Primeiro teria de decidir se tinha a criança ou abortava. Espero que não seja nada – procurou tranquilizar-se Anabela.
- Não deve ser. Vais ver que não é nada – procurou Paulo sossegá-la.
E não era. Passados dois ou três dias as regras apareceram.

Um dia, quando pela manhã Joaquim Gonçalves abriu a porta do estabelecimento, encontrou uma carta caída mesmo na entrada. Parecia ter sido introduzida manualmente por baixo da porta. Meteu-a no bolso mas, mal teve oportunidade, abriu-a e leu o seguinte, escrito em computador, tal como o envelope:

Sr. Joaquim Gonçalves
Alguém que gosta muito de si quer avisá-lo que a sua esposa o trai com outro homem.
O senhor é muito boa pessoa e não merece que lhe façam isso.
Devia escolher outra mulher para sua esposa.
Alguém que lhe quer bem.


Quim ficou atordoado. Primeiro achou que se tratava de uma brincadeira de mau gosto. Mas depois ficou na dúvida.
Releu a denúncia.
Achou que aquilo fora escrito por uma mulher.
E uma mulher que se insinuava perante ele de forma clara.
Não conhecia muitas. Quem seria?
Que iria fazer?
Mas sentiu-se triste, muito triste.
Ele sabia que Anabela não o amava com a mesma intensidade que ele. Muito longe disso. Mas ele dera-lhe aquilo que podia e não fora assim tão pouco: amor, filhos, segurança, casa, bem-estar. Não poderia estar a traí-lo. E, para mais, no último ano ela parecia estar mais próxima, mais amiga, mais provocante para com ele. Não! Aquilo era uma falsidade. Alguém que queria destruir a sua felicidade e a de Anabela.
Que iria fazer? Perguntou-se de novo.
A entrada de uma cliente fê-lo afastar-se dos tormentosos pensamentos e voltar a concentrar-se no trabalho.

26 Comments:

Blogger LUIS MILHANO (Lumife) said...

Enciclopédia não. Apenas uns apontamentos que acho de interesse para todos.
Mas para não ser só saúde vamos a um pouco de informática.

Até breve.

12:07 da manhã  
Blogger Xuinha Foguetão said...

Isto aqueceu!

Continuo muito curiosa. Ehehehehe!

Acho engraçado nesta blogonovela as relações extra-conjugais melhorarem as relações dos casais!
Ehehehehe!
Isto ainda vai revolucionar o casamento tradicional.

Beijocas.

12:28 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Conheci alguém quando o marido recebeu uma dessas cartas, suicidou-se. Nessa mesma noite!
Apesar dele saber há muitos anos que a esposa tinha alguém, para além dele!Ele gostava tanto dela,
que fazia de conta não saber!
Se as pessoas se metessem na SUA vida e nunca nas dos outros!!!


Neste conto, será Cátia Lopes, a denunciante?
Esperando que Joaquim fique com ela?
Inês??? Pura vingança??? Cada vez a história está mais fascinante!
Mas esta minha ansiedade, para continuar a ler…
Que mais posso dizer,

Obrigado António,

Bjs

GR

12:36 da manhã  
Blogger António said...

Obrigado por mais uma visita!
Acho particularmente interessante que aquilo que dizes venha credibilizar a minha história.
Os comportamentos humanos são muito variáveis e não estereotipados como alguns gostam de fazer crer.

Beijinhos

9:35 da manhã  
Blogger Anna^ said...

Tantas hipóteses ficaram em aberto...!
Parabéns mais uma vez!!

bjokas ":o)

10:58 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Bom todos vêm aqui e dizem muito bem do que escreves eu própria contra mim falo que já disse maravilhas dos teus escritos. Lamentavelmente, tenho uma má noticia a dizer-te... Não fiques aborrecido, espero que me entendas, mas os amigos não são só para dizer bem, não é?~Então eu passo a explicar: tenho vindo cá tenho lido, mas não tenho comentado e porque já vais ver. Li num dos comentários que alguém imprimia os teus escrito para os ler calmamente... Segui o exemplo e fiz a mesmíssima coisa... faltava-me ler atentamente os 3 últimos, imprimi 2 porque fiquei sem papel na impressora... Levei para a cama ontem e confortavelmente a minha leitura estava a ser perfeita e tinha como musica de fundo os doces roncos do meu Caranguejo que dormia como um anjo... Comecei a ler convicta que entretanto me chegava aquele sono gostoso e acaba por adormecer... Agora as más noticias António e falo aos berros: TINHAS QUE ESCREVER ASSIM E OBRIGAR-ME A LEVANTAR do quentinho do meu ninho correr gavetas e mais gavetas do escritório, sem encontra uma única folha A4 e obrigar-me a ficar a altas horas de madrugada em trajes menores coladinha ao monitor para ler o que entretanto já tinhas escrito... TINHAS?!?! Arre homi publica o livro assim não me fazes exasperar de curiosidade... Jinhos António, estou a adorar... Ps: Já comprei papel...Ps1: papel de fax de rolinho não dá para imprimir nas HP...

2:01 da tarde  
Blogger INFORMANIACA said...

Depois do que já li nos comments...o que mais dizer????
Escreves porque os teus dedos insubordinados...não te deixam parar.
Há 4 anos atrás, aconteceu-me o mesmo...e para o m~es que vem vou finalmente "lançar" o que já cheirava a mofo.
Posso convidar-te?
Talvez seja uma altura gira para nos conhecermos...vale?
Bj

LC

3:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá, António, a história que continuas a escrever é uma história de vida com bastantes pontos em comum, seguramente, com muitas das pessoas que te lêem. Digo..."mimos nunca", porque depois de uma vez ter lisonjeado a tua escrita disse: "e agora chega de mimos" e tu respondeste mais ou menos assim: "podes continuar a dar mimos que eu gosto". Ora, mimos a ti eu bem posso dar; mimar a tua escrita parece-me desnecessário perante todas as opiniões que são aqui deixadas a favorecer e a enaltecer a tua escrita. Só pretendia excepcionar os mimos e passar a valorizar objectivamente o texto. E agora não escrevi nada sobre o texto pq estive para aqui a justificar a ausência dos miminhos. Mas toma lá uma festinha de mocho...(a escrita...excelente).

3:40 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Fiquei um pouco desiludida com a facilidade com q a Anabela "cedeu"... esperarei pelo desfecho!
Elisabete

5:47 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E vai ser a roliça Cátia a delatora? Interessante estar tudo a melhorar com os respectivos consortes...é natural, estão felizes e tentam fazer os outros felizes também...Agora quem vai morrer? Matas qualquer um de curiosidade!

5:53 da tarde  
Blogger António said...

Para "Elisabete":

Obrigado pela visita e pelo "comment".
Devo dizer-te que a Anabela não cedeu.
Ela queria aquilo.
Eles já haviam sido amantes 16 anos antes.

Beijinhos

6:03 da tarde  
Blogger wind said...

Tcham tcham, mantem-se o suspense:)
Muito bem relatado os encontros, a fogocidade que é natural nestes casos, o que Paulo e Anabela fizeram com os respectivos conjuges. Cá para mim foi a empregada que os denunciou.lol. beijos

8:18 da tarde  
Blogger © Piedade Araújo Sol (Pity) said...

Antonio
Aterrei hoje aqui e devo dizer-lhe que tou completamente siderada.É que esta historia é muito semelhante a um livro que tenho publicado. Só espero que nao acabe como a minha.MAs, tou tao curiosa que vou esperar o final.Tou em pulgas.

8:36 da tarde  
Blogger Mitsou said...

Pois, estava tudo a correr tão bem para os três (sim, três) casais e lá vem a maldita carta anónima.
Parabéns, António. Sempre a manter o suspense!

Beijinhos muitos :)

8:51 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Boa resposta! (Nem eu esperava outra coisa).

9:39 da tarde  
Blogger António said...

Para "© Piedade Araújo Sol":

Agradeço a visita.
Desconheço totalmente o livro que referes.

Beijos

8:30 da manhã  
Blogger Zica Cabral said...

ontem não vim aqui e arrependo-me mas de facto tive pouco tempo ao computador. Está cada vez mais interessante esta tua blogonovela e mais real. Eu sei que é ficção mas acho que há muita gente que poderia rever aqui episodios da sua vida.
beijinhos grandes e amigos
Zica

12:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá António,

Estes desmancha prazeres da vida por vezes parecem um praga. E ainda por cima, com grande frequencia, reivindicam o estatudo de salvadores da pátria e repositores da boa moral e dos bons costumes! Seja quem fôr o delactor... já me está a meter raiva rssss.(sou solidária com todos os que vivem bons momentos rsss)

Beijinhos pra ti e até já
Alicia

1:28 da tarde  
Blogger António said...

Para "Alícia":

Obrigado pela visita.
E não te rales com o delator senão ainda te dá uma coisa má...eh eh eh

Beijinhos

2:22 da tarde  
Blogger Maria Carvalho said...

Pois...há sempre uns invejosos que aparecem para enfernizar a vida a cada um! Espero o seguimento, óbvio...beijinhos

9:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Que tal, como excepção, seres tu a dar um miminho agora? Bem preciso...

10:43 da tarde  
Blogger Caiê said...

as cartas anónimas são desprezíveis. sobretudo porque, regra geral, só visam a destruição de algo e funcionam na base da cobardia.
quem as escreve fazia melhor em meter-se na sua vida...

(e não é que até andavam todos a viver melhor antes dessa anónima mexeriqueira meter o nariz?)

11:34 da tarde  
Blogger pinky said...

ai a desgraçada da balconista que quer casar com o patrão!
isto está aquecer e agora é que são elas!
estas coisas, tarde ou cedo são sempre descobertas.
estou curiosa com o desfecho.
muito boa a blogonovela!

11:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

OK, surpreendeste-me (e soube tão bem)!!! Obrigada e muitos, muitos (...) para ti. Inté.

11:46 da tarde  
Blogger Su said...

cada vez mais perto da realidade, até já os conheço bem:)))
gostei de ler
opss a da carta anónima, me enervou....
jocas maradas

9:58 da tarde  
Blogger Eli said...

Grande episódio!!!

lol

3:04 da manhã  

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