Eu sou louco!

Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças! (este blog está registado sob o nº 7675/2005 na IGAC - Inspecção Geral das Actividades Culturais)

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domingo, novembro 19, 2006

Uma família burguesa - parte XVI

Chegado ao bar, com pouca frequência nessa noite, Alex chamou o cunhado à parte e disse-lhe:
- Oh Chico! Eu acho que precisamos de introduzir aqui qualquer coisa que nos permita ganhar mais dinheiro.
- Já tenho pensado nisso! Agora só trabalho em “part-time” nos automóveis para estarmos aqui os dois à noite e não haver necessidade de mais empregados para além da Alzira. Mas o negócio dá pouco. Ganhava mais a trabalhar a tempo inteiro no stand do que actualmente. E já tenho uma ideia que me parece boa! Contratar um pianista e tornar isto num piano bar – avançou o homenzarrão.
- E temos de pagar ao pianista um balúrdio! A casa é pequena e, provavelmente, mesmo cheia não aumentaria os lucros em muito – falou o Alex.
- Sim! Não sei! Fazendo umas contas... – balbuciou o Francisco.
- Pois eu tenho aqui (e apontou com o indicador da mão direita para a testa) uma ideia muito melhor! – aguçou a curiosidade do interlocutor.
- Então diz!
- Um momento! Vou atender aquele cliente e já te conto! – e o sócio menor dirigiu-se a uma das mesas.
Pouco depois:
- Olha, Chico! O que eu proponho para que o negócio nos dê dinheiro é termos aqui umas meninas...
E repetiu o que dissera a Marina.
A reacção do Francisco, depois de um repúdio inicial, acabou por ser bastante favorável.
- Eu acho uma boa ideia! Desde que elas se comportem como clientes normais, evidentemente. Não quero que isto tenha nenhuma parecença com uma casa de tias – comentou.
Mas prosseguiu:
- O pior vai ser convencer a minha mulher!
- Deixa isso por minha conta! Sabes? Estava à espera que tu reagisses de forma negativa. Mas vejo que tens visão para o negócio! – elogiou o cabeça rapada.
- Mas há outras coisas! Nada de estrangeiras porque dão logo a ideia de redes de mulheres e a polícia pode começar a cocar.
- Sem dúvida! – concordou o Alex.
- E podemos ser levados pelas gajas. – lembrou o Chico – Elas saem com um cliente uma vez, nós recebemos a comissão e depois passam a encontrar-se com ele sem ser através do bar. E lá se vão as comissões.
- Pois! Isso é sempre um problema, mas não há nada como fazer umas ameaças de porrada e estar atento. Quando alguma for suspeita vai de vela e entra outra. Temos de ter umas três ou quatro efectivas e uma lista com suplentes – disse, resoluto, o irmão da Marina.
- Por mim começava já a procurar as moças – disse o sócio principal.
- Não te esqueças de que é preciso convencer a tua mulher. Fala com ela e diz-lhe da nossa conversa, que estás relutante porque não sabes se ela tem confiança suficiente em ti, porque doutra forma já terias decidido. Topas? Diz-lhe que ela pode aparecer aqui quando quiser se tiver alguma suspeita. E fala-lhe no dinheiro que vai render. Ela é pior por dinheiro do que o porco por landras. Se se mantiver reticente, eu convenço-a!
- Está bem! – anuiu o calmeirão – E não vamos redigir já um anúncio?
- Vai tu pensando nisso enquanto eu presto atenção à clientela – apoiou o Alexandre.
E o Francisco Torres pegou num bloco de papel, numa esferográfica, sentou-se ao balcão, foi buscar um fino e começou a fazer a redacção:
Ao fim de poucos minutos tinha escrito:

Raparigas jovens
Para actividade em part-time num bar
Guarda-se sigilo
Resposta ao nº xxx da Redacção

Chamou o Alex.
- Já escrevi isto. Que achas? – perguntou o Chico.
- Está bem! Mas porque não pomos o número de um telemóvel?
- Porque nos denunciávamos com mais facilidade – respondeu o marido de Marina.
- Tens razão! Assim só os tipos do jornal ficam a saber. Estás a ficar um às nestas coisas – elogiou o cunhado.
- E pelos tipos de resposta e caligrafia já ficamos com uma ideia do nível de estudos. Elas devem saber falar minimamente.
- Muito bem! E pela Internet? Não achas que vale a pena? – perguntou o sócio minoritário.
- Não sei muito bem como essas coisas funcionam na Net. Lembra-te que não nos serve qualquer coisa. Se houver poucas respostas ou mesmo nenhuma, então teremos de seguir outra via menos clássica – disse, ufano, o Francisco.

No dia seguinte, o marido de Marina foi ao Jornal de Notícias colocar o anúncio para ser publicado no sábado e no domingo. Fê-lo antes de almoço para não ter de chegar atrasado ao stand onde, agora, só trabalhava quatro horas, começando às duas da tarde.
Quando chegou a casa, não teve coragem de falar no assunto à mulher que já lá estava, mas esta não aguentou e disse:
- Oh Chico! O meu irmão não falou contigo a propósito de meter umas meninas no bar?
- Ah...é verdade! Eu acho que é uma boa sugestão para aumentar os lucros, mas pensei que tu poderias não gostar e resolvi dizer que não! Quero preservar o nosso casamento acima de tudo – mentiu o Chico.
- Olha que eu estive a pensar e acho que não é má ideia. Desde que conduzida com cautelas e muita discrição – disse ela.
O homem até se engasgou com o que acabara de ouvir, mas acabou por dizer:
- Então o teu irmão já tinha falado contigo! O patife não me disse nada! – desabafou, agastado.
- E convenceu-me! Mas gosto muito da tua atitude em relação à família. No entanto, se o problema for só esse, podes avançar. Eu sei como evitar chatices cá em casa – disse, confiante, a mulher.
- Então, se tu não vês problemas, eu vou falar com o Alex para discutir outra vez o assunto. Mas não quero ver-me ou ver a família na lama. É um ponto fundamental. E ainda há a minha filha Cláudia. Espero que ela nunca venha a saber de nada – mostrou-se preocupado, o homem.
- Ela só sabe se tu lho disseres! – ripostou a mulher.
- Nunca se sabe! Nunca se sabe! – terminou o marido.
Nessa noite, o Francisco Torres mostrou o seu desagrado ao cunhado por este ter falado com a mulher.
Este respondeu:
- Mas tu achas que se eu não tivesse intervindo ela teria aceite?
- Provavelmente, não! – condescendeu o pachola.
- Estás a ver?! Entregaste o anúncio? – perguntou o cabeça rapada.
- Claro! – respondeu o Chico – e tenho aqui o recibo para dar ao Gilberto.
- E quando é que podemos ir buscar as respostas?
- Vou lá na sexta-feira – respondeu o sócio bonacheirão.

16 Comments:

Blogger Maria Carvalho said...

Gostei. Gosto dos teus diálogos...beijinhos.

3:43 da tarde  
Blogger wind said...

Tal como previsto, a teia urdio efeito.
Ai António este capítulo foi muito pequenino:(((ehehehe
Quero mais acção:)))
beijos

4:17 da tarde  
Blogger Fatyly said...

Li e reli e pensei nessas "garotas" que sem qualquer legalização que as defendam, os "sabidões"...enfim...que bonitoooooo não quer a familia na lama e ainda vai levar com ela na fuça, será que uma das respostas vai ser da Cláudia?????
Isto vai dar uma caldeirada bem surpreendente. Aguardarei!

Beijos

4:44 da tarde  
Blogger Leonor said...

afinal era as quatro e coisa, cinco e picos, seis e tal, rssss

olha, ele com medo da mulher e a mulher afinal... até parece hithcok (nunca soube la muito bem como este nome se escrevia)rsss

fico á espera do resto. ha sempre novodades.

abraço da leonoreta

4:50 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Magnifica, descrição do bom pai de família, do homem sério que trabalha honestamente para o dia a dia! Depois dizem, é com grande poupança que podemos comprar esta grande casa, os carros, as férias para ilhas paradisíacas! Armas, prostituição e droga, está aqui o segredo das actuais fortunas portuguesas!!!
A atitude dos dois irmãos leva-me a crer que o marido está a ser levado! Não passa de um joguete nas mãos de dois ambiciosos e oportunistas!
Parabéns, cada dia está melhor!

Bjs,

GR

6:19 da tarde  
Blogger António said...

Para "GR":
Olá, Guida!
Obrigado pela visita.
Vou fazendo o que posso para que a trama seja interesante e variada e para que haja várias histórias que permitam um caldo bem condimentado.
E quem não sabe fazer melhor...a mais não é obrigado!
Mas tu és uma leitora fidelíssima.
Gostas mesmo. Obrigado!

Beijinhos

6:34 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Agora é que o negócio vai dar... tinha de ter um anúncio no jornal.... eheheh! Onde é que já li uma história com um anúncio no jornal???
Mais uma vez, gostei de ler... espero pela parte seguinte! Não comentei a anterior mas li-a no dia em que "postaste"...
Beijinhos e não demores!!!!

11:44 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá António!

Quando se começa uma asneira que se sabe que é asneira mas quer-se fazer de conta que é outra coisa, arranjam-se os argumentos que o Chico arranjou: meninas sim, mas com bom ar e coisa e tal, para disfarçar e tal e coisa..... mas se fizerem xixi fora do nosso pnico serão ameaçadas e tal... mas vestidas de forma discreta para fazer de conta que.... enfim, desta dupla ou tripla - já que a maninha do Alex se encaixa lindamente neste "projecto"- não era de esperar outra coisa. E o negócio não se ficará por aqui. Um produto arrasta outros e .....

Já estou à espera da Judiciária rssss.(e deve chegar depressinha, percebes a mensagem????)

Beijinhos e optima semana
Ana Joana

12:35 da manhã  
Blogger António said...

Para "Becas":
Olá, amiguinha!
Obrigado pela visita e pelo comentário.
Volta sempre!

Beijinhos

1:56 da tarde  
Blogger António said...

Para "ana joana":
Olá!
Obrigado pelo comentário.
Queres que a PJ entre em acção?
E o SIS?
E porque não a Interpol?
ah ah ah

Beijinhos

1:58 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Ai, Ai, Ai...António!

Isto está a ficar bonito, está:))

Lá o "Bataclan" tem que abrir!!!

Ainda vais vender os direitos de "Uma família burguesa" à TV Globo:)

Beijinhos

4:15 da tarde  
Blogger Peter said...

"Elas saem com um cliente uma vez, nós recebemos a comissão e depois passam a encontrar-se com ele sem ser através do bar. E lá se vão as comissões."

Olha como o Chico está dentro do esquema!

7:36 da tarde  
Blogger Heloisa B.P said...

AQUI ESTOU EU, ATRASADA, para variar.. mas... com FOME DE LER O *ENREDO* que se vai "enredando e desenredando" desta "mui nobre"ou..."MUI BURGUESA" FAMILIA!!
DESTACO ESTE FINAL:

"Então o teu irmão já tinha falado contigo! O patife não me disse nada! – desabafou, agastado.
- E convenceu-me! Mas gosto muito da tua atitude em relação à família. No entanto, se o problema for só esse, podes avançar. Eu sei como evitar chatices cá em casa – disse, confiante, a mulher.
- Então, se tu não vês problemas, eu vou falar com o Alex para discutir outra vez o assunto. Mas não quero ver-me ou ver a família na lama. É um ponto fundamental. E ainda há a minha filha Cláudia. Espero que ela nunca venha a saber de nada – mostrou-se preocupado, o homem.
- Ela só sabe se tu lho disseres! – ripostou a mulher.
- Nunca se sabe! Nunca se sabe! – terminou o marido.
Nessa noite, o Francisco Torres mostrou o seu desagrado ao cunhado por este ter falado com a mulher.
Este respondeu:
- Mas tu achas que se eu não tivesse intervindo ela teria aceite?
- Provavelmente, não! – condescendeu o pachola.
- Estás a ver?! Entregaste o anúncio? – perguntou o cabeça rapada.
- Claro! – respondeu o Chico – e tenho aqui o recibo para dar ao Gilberto.
- E quando é que podemos ir buscar as respostas?
- Vou lá na sexta-feira – respondeu o sócio bonacheirão."
***************************
*****************************NEM COMENTO!
Vou ver, e', "se apanho o comboio a horas" para ficar na primeira fila!
......................
UM ABRACO AMIGO, ANTONIO!
UM ABRACO SAUDOSO!
Heloisa
*********

10:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Vim aqui espreitar na esperança de haver mais peripécias para ler!´
Fico normalmente mais bem disposta depois de te ler e um dia cinzento destes precisava da tua escrita para o colorir... tenho que me contentar a reler...
Não demores!
Beijinhos

12:00 da tarde  
Blogger António said...

Para "becas":
Olá, miguinha!
Em princípio, amanhã haverá mais.
Estou a postar de 3 em 3 dias.
E até é bastante rápido!!!
Beijinhos

1:22 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querido António

Está combinado. Vou só pensar na personagem:))

Craig Armstrong - é fantástico, não é?

Beijinhos

4:06 da tarde  

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