Eu sou louco!

Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças! (este blog está registado sob o nº 7675/2005 na IGAC - Inspecção Geral das Actividades Culturais)

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terça-feira, novembro 28, 2006

Uma família burguesa - parte XXI

- Mas tu queres mesmo que seja a última vez? – perguntou ele.
- Eu? Eu não! Mas não achas que devemos cumprir o combinado? – disse ela com um tremendo ar de chacota.
- Eu quero que a combinação vá para as malvas! Vamos fazer amor, já! – decidiu o Manuel António.
E atirou-a para cima da cama.
- Desculpa ter sido tão bruto! Acho que agora temos de ser mais cuidadosos nestas coisas senão poderemos afectar a criancinha – disse ele, paternalmente.
Ela soltou uma estrondosa gargalhada.
- Homens! Sempre iguais! – disse, por fim.
E esclareceu:
- Oh Manel! Podemos fazer com todo o à-vontade com que fizemos até aqui.
- Eu sei, meu amor! Estava a brincar contigo – desculpou-se ele.
- Pois! Pensas que não sei que és paridinho como os outros?
E fizeram amor com uma ternura e uma alegria no coração como nunca o haviam feito antes.
Quando se preparavam para sair, ele perguntou:
- E quando é que comunicas à família?
- Para já deixa saber o resultado da análise à urina. A seguir vou à médica. Depois, suponho que à décima segunda semana, faço a primeira ecografia.
- E eu não posso ir, provavelmente... – lamentou-se o professor.
- Provavelmente não! Mas deixa-me continuar – pediu ela.
- Continua, que gosto de te ouvir – disse ele, babado.
- Nessa altura e se tudo estivesse normal, poderia começar a pensar em fazer a comunicação que vai deixar toda a gente em polvorosa. Mas como a minha mãe está a começar agora a quimio e só acaba daqui a três meses, em Fevereiro, não vou dizer nada antes. Vou aguentar até a mamã estar o mais recuperada possível.
- Parece-me sensato – disse ele.
E continuou:
- E vamos continuar a encontrar-nos aqui para fazermos amor e tu me contares as novidades da gestação.
- Certamente, meu Manelinho querido!
E deixaram o 102 depois de um longo abraço e um beijo.
Quando conduzia de regresso à faculdade onde era docente, o Dr. Manuel António Félix ía pensando:
- Curioso que gosto muito da Ana mas continuo a adorar também a Joana. E acho que ela vai ficar muito feliz quando adoptarmos a criança. E, se me dessem a escolher entre criar o meu filho com a Ana ou a Joana, acho que optaria pela minha mulher. Não sei se é o hábito, se é amor, se é remorso, se é compaixão. Mas tenho quasi a certeza de que seria essa a opção. Humm...talvez a ache mais maternal. Mas primeiro é preciso que tudo corra dentro do previsto e combinado.
Teve de fazer uma travagem brusca pois ía apanhando um peão numa passadeira.
Mas continuou a elucubrar:
- Será que alguma vez poderei deixar de ter os encontros com a Ana? Devia fazê-lo. Aliás foi isso o combinado. Não sei. Talvez o consiga, com o tempo. Mas será que a Ana, determinada como é, não vai querer ficar comigo e com o bebé? Acho que não! Mas não punha as mãos no fogo.
E suspirou.

Finais de Novembro de 2006.
Mário Jorge, já recuperado, e Fernanda chegaram juntos, o que agora é habitual, à Rimafor e pediram para toda a gente se juntar.
O engenheiro informático falou:
- Quero anunciar a todos que eu e a Fernanda vamos casar.
- Muitos parabéns!
- Muitas felicidades!
- Muitos meninos!
Foram algumas das expressões que se ouviram no meio de algum burburinho.
- A decisão já foi tomada há algum tempo, mas só a comunicamos agora porque queríamos dizer-vos outra coisa! – prosseguiu o Mário – Vamos ser pais!
Agora houve mesmo uma pequena algazarra.
- É menino ou menina? – perguntou alguém.
- Ainda não sabemos, mas não vai tardar muito a darmo-vos essa outra novidade – falou, desta vez, a Fernanda.
Foi então que Ricardo Costa Lima disse:
- Quem iria prever que após três anos de convívio diário vos haveríeis de apaixonar? Se não fosse aquele acidente, provavelmente nada teria acontecido.
- Não sei! Eu já começava a ficar farta de esperar e, se calhar, um dia qualquer tinha de mudar de táctica, senão arriscava-me a que ele fosse apanhado por outra. Mas as coisas correram bem! - confessou a Fernanda.
- Eu já estava a ficar farto da vida que levava! Acho que há fases para tudo. Estava a precisar de mudar, de assentar, de ter um lar com esposa e filho: completo! E confesso que trazia a Nanda debaixo de olho há muito tempo mas ainda não me sentia preparado para ter uma relação verdadeiramente séria. A ideia dela ir para minha casa apoiar-me foi decisiva!

Fevereiro de 2007.
Maria Helena terminou o tratamento de quimioterapia sendo o prognóstico muito favorável. Pensava cada vez mais em fazer uma operação plástica para compor o seio que tinha sido operado, mas os médicos recomendaram-lhe calma e nada de precipitações. Ela acatou, obviamente.
Foi então que, já perto do final do mês, Ana Maria disse à mãe que precisava que reunisse a família em casa porque queria fazer uma comunicação.
Lena sorriu e disse:
- Vais dizer quem é o pai da criança que tens no ventre?
Ana ficou lívida.
- Mãe! Tu adivinhas tudo! Pareces bruxa, safa!
- Já sei muito, minha filha! Estou perto dos sessenta anos e tu deste sinais mais que suficientes para eu notar o teu estado. Não falei em nada porque sabia que tu terias de dizer alguma coisa. Pensei que viesses falar comigo.
- Não falei consigo antes porque estava doente e não quis perturbá-la. Mas agora que já vou em quatro meses de gestação e a mãe parece quasi totalmente recuperada, tenho de contar a todos – disse a grávida.
- Pois! Antes que se comece a notar a barriga – comentou a mais velha, com ironia.
E continuou:
- Isso quer dizer que tens um homem?

- Não é bem assim! Naturalmente que foi um homem quem me engravidou. Mas não estou interessada em juntar os trapos, como se costuma dizer, com ele. Pretendo ser eu somente a criar a criança, e não quero sequer que tenha o nome do pai. Aliás ele nem sabe que estou grávida dele – mentiu a Ana.
- Mas que aconteceu para tomares uma decisão tão radical? – quis saber a Maria Helena.
- É um tipo demasiado novo e desmiolado. Não quero que se repita a história do Francisco.
- Tu és perita em arranjar situações esquisitas. – disse a Lena – Agora queres ser mãe solteira, passe a expressão.
- Sim! No fundo é isso – anuiu a Ana.
- E achas que uma gravidez com estes contornos não deveria ser comunicada de forma mais discreta e quasi individualmente? Não me parece que a ideia de fazer uma reunião familiar para comunicar esse facto seja muito feliz – aconselhou a mãe.
A Ana Maria pensou durante uns instantes:
- És capaz de ter razão! Primeiro contava ao pai, mas contigo presente. Depois à Cláudia. E a Vó São? Ainda lhe dá alguma coisa...
- Pois! Arranjas umas situações bizarras e depois tens de tornear os problemas, o que nem sempre é fácil – disse a Maria Helena em tom de admoestação.
- Deixa lá isso, mãe! Aqueles são os casos mais complicados. Depois é fácil contar à Joana e ao Manel, bem como ao Ricardo e à Barbara.
- Pensando melhor, e se me permites, sugeria que falasses a todos os da casa ao mesmo tempo. Depois de um jantar – rectificou a convalescente.
- Talvez! Tu, que já sabes, o pai, a minha Claudinha e a velhinha – enumerou a grávida.
- E entretanto a Dina ouve a conversa e já fica a saber.
- Então fazemos assim? Eu preparo o que vou dizer e combinamos para amanhã? – programou a filha.
- Acho bem! Prepara um discurso breve e especialmente dirigido à tua filha.

12 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá António,
O que te deu? Vou dar uma voltinha e qdo chego...... uma catadupa de posts! Bolassssssssssss. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Agora digo, vai lá mais devagarinho, mais devagarinho se faz favor, para que possamos comentar um de cada vez.

E já agora menino António (qdo fazes destas birras só me apetece tratar-te assim, como puto), não acha que tem que controlar melhor essa ansiedade? Não acha?

Quando escreves, volto a repetir, escreves-te (tu e todos os que escrevem). Convido-te a pensar no motivo pelo qual te é tão essencial receberes aplausos para poderes continuar a "sinfonia" quando estás a gostar dos acordes que produzes. Porque não te chega o prazer que tiras da tua "melodia"?

Só amanhã terei disponibilidade para vir ler todos os posts com a atenção que me merecem sempre, e para efectuar os devidos comentários. Até lá, toma um beijito e respira fundo, serenamente, profundamente....inspiraaaaaaaaa, expiraaaaaaaaaaaa, inspiraaaaaa, expiraaaaaaaaa, inspiraaaaa, expiraaaaaa. Deixa-te ficar assim, sossegadinho, sem pensares e nada. Até amanhã
Beijo
Ana Joana

5:34 da tarde  
Blogger António said...

Para "ana joana":
Minha amiga!
Já disse mil vezes que escrever sem leitores não me interessa, não me dá gozo, não me entusiasma, não me motiva.
Eu sou como sou!
Mas os outros serão diferentes?
Não será que alguém que publica um livro não confere quantos volumes vendeu? Não quer saber se as pessoas lêem o que escreve?
Eu gosto de escrever para ser lido, repito!
Se não me lerem não escrevo!
Não me interessa se sou irascível, infantil, ansioso ou uma besta.
O certo é que ainda não vi ninguém a fazer o que eu faço aqui: a escrever trabalhos com o fôlego dos meus.
Mas não volto a produzir coisas assim.
É atirar pérolas a porcos.
(passe a imodéstia e o exagero)
Vou criar um blog onde ponho as anedotas que circulam na Internet que é do que as pessoas gostam.
(claro que não me refiro às poucas que tem acompanhado tudo e comentado; parece que há algumas que lêem mas não comentam, mas essas são como se não existissem)
Faltam 3 episódios.
Já estão escritos.
Postarei um em cada dia.
E a história ficará completa e disponível.
Quem quiser ler tudo terá muito tempo para o fazer.
Pronto!
O juiz decidiu, está decidido!

Beijinhos

6:36 da tarde  
Blogger Leonor said...

e como já percebi a velocidade com que escreves e postas, seja lá qual for a sentença do juíz, eu leio se quiser, passei por aqui e também me atrasei. sorry.

comento então dois em um, o anterior e o actual.

o comentário repete-se. não pela novela ter enpacado, pelo contrário. mostra evolução e desenlace nos acontecimentos. mas repete-se pelo que lhe é comum desde o principio: a descrição pormenorizada e a intenção de uma intriga quase hilariante de uma familia afinal igual a tantas outras que vive da fachada social.

abraço da leonoreta

8:42 da tarde  
Blogger Rosa Silvestre said...

A novela está cada vez mais empolgante!Essa Ana Maria e o Manel, parecem-me "ser da mesma ninhada"!Acho que pretendem enganar-se uma ao outro mas no final ficam os dois enganados!!!hihihi!cumprimentos!

9:02 da tarde  
Blogger magarça said...

António, isto é que é fluidez! Quem me dera escrever à sua velocidade os meus relatórios de mestrado :)
Estranhei que a Maria Helena não insistisse mais em saber a identidade do pai do neto/a. Será que ela não desconfia já do caso entre a filha e o genro?

10:08 da tarde  
Blogger Maria Carvalho said...

Diálogo diário!! Não imaginava que já estava aqui mais um. Não gostei tanto deste. Acho um diálogo morno, mas não posso gostar de todos. Nem se pode agradar a gregos e troianos, obviamente. Beijinhos, aguardo o final que preparaste!!

2:13 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Bom dia António,
Estou com dificuldade em comentar, certamente por estar embuchada com as pérolas.

Como "...ainda não vi ninguém a fazer o que eu faço aqui: a escrever trabalhos com o fôlego dos meus." "Não me interessa se sou irascível, infantil, ansioso ou uma besta".

Pois, mas eu interesso-me. E não gostei. Não pago facturas das compras alheias.

Estou triste
Ana Joana

2:14 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

António,

Pois é, cada vez a história está mais empolgante!
Como reagirá o Manuel, quando ouvir da boca da cunhada que a criança, será filho de pai incógnito?
A mãe (Lena), não desconfia de nada?!!!
Confusão total nesta família!
Como estou a gostar cada vez mais, adoraria que não terminasse, contudo, estou sempre à espera de ler mais!
És fantástico!
Parabéns!

GR

2:49 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

António
Permite-me dizer nesta tua casa, umas palavras à,

Ana Joana,
Não faças caso das palavras do António! Não fiques triste!
Ele é assim mesmo, ao fim de um ano, posso dizer que o conheço um pouquito!
Nem sabes o quanto fica feliz de tu comentares, mas necessita de mais!
Repara, não estás a falar com o Sr. Engº Castilho. Comentas para o escritor, António Castilho, homem exigente, perfeccionista, talvez nas palavras que escreve tente ferir, porque se sente ferido! É o mal dos escritores!
Porque da parte dele, houve um esforço tão grande para que a história saísse perfeita e afinal, os comentários
Acredita, daqui a muito poucos anos estaremos todas/os juntos, quando o António fizer a publicação do seu 1º livro, lembraremos estes momentos, rindo!
O António é muito querido, sensível, por vezes profundo, porém tem “panca” de escritor! 67 000 (quase) visitas!!! Nem o ALA, tem tantos leitores!
Os teus comentários, são sempre muito interessantes

Bjs,

GR

3:00 da tarde  
Blogger António said...

Para "GR":
Olá, Guida!
Obrigado pelo teu comentário e pelo excepcional apoio que sempre me tens dado.
Agora que tenho tudo escrito e os leitores poderão ficar a conhecer todo o meu trabalho a partir de 6ª feira, quero dizer-te que, se fosse dar agora um título à novela, seria: "Segredos".
Na próxima parte (a XXIII) poderás perceber melhor porquê.

Beijinhos

3:29 da tarde  
Blogger Fatyly said...

ontem não consegui deixar aqui o comentário, porque a e simplesmente esta porra não abria!

Pérolas? não gosto, mas gostei deste capítulo e vou ler agora o de cima, ou seja o de hoje:):):):):)

4:29 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Já não sei o que comentar sobre esta familia!

Será que a Ana Maria vai contar quem é o pai da criança! Veremos:)

Já estou farta de subir:)

Lá vou eu...............

2:35 da manhã  

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